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  • Doenças da vesícula biliar: quando os cálculos viram problema 

    Doenças da vesícula biliar: quando os cálculos viram problema 

    Você já sentiu uma dor súbita no lado direito da barriga depois de comer algo gorduroso? Para muitas pessoas, esse sintoma é o primeiro aviso de que há algo errado na vesícula biliar, um órgão muito importante para o processo de digestão.

    Ao longo dos anos, o acúmulo de colesterol e sais pode provocar a formação de cálculos (pedras), desencadeando cólicas, inflamações e complicações que demandam atenção médica imediata.

    Com o avanço das tecnologias de imagem e das técnicas cirúrgicas, o diagnóstico e tratamento das doenças da vesícula estão mais avançados. A seguir, você vai entender as principais doenças, os sintomas e as formas de tratamento que fazem a diferença.

    O que é a vesícula biliar

    A vesícula biliar é um pequeno órgão em forma de pera que fica logo abaixo do fígado. Ela tem a função de armazenar e concentrar a bile, um líquido produzido pelo fígado que auxilia na digestão das gorduras.

    Quando a vesícula não consegue manter colesterol e sais solubilizados na bile, podem surgir cálculos biliares (popularmente chamadas “pedras”). Esses cálculos podem causar uma série de problemas ao órgão e ao sistema biliar.

    Principais doenças da vesícula biliar

    1. Colelitíase / Cólica biliar

    A colelitíase refere-se à presença de pedras na vesícula, e a cólica biliar é a dor típica que elas causam.

    • A dor aparece no lado direito superior do abdômen ou no meio da barriga, e pode irradiar para as costas ou para o ombro direito;
    • Geralmente surge após refeições gordurosas, mas também pode aparecer espontaneamente;
    • A dor aumenta gradualmente, atinge o pico em até uma hora e pode durar algumas horas;
    • Se persistir por mais de 6 horas, pode indicar complicações mais graves, como inflamação da vesícula;
    • Sintomas associados incluem náuseas e vômitos.

    Fatores de risco:

    • Sexo feminino (cerca de 3 vezes mais comum);
    • Colesterol e triglicérides elevados;
    • Obesidade;
    • Dietas pobres em fibras e hábitos intestinais lentos.

    2. Colecistite aguda (inflamação da vesícula)

    É a complicação mais frequente das pedras. Acontece quando um cálculo obstrui o canal da vesícula, provocando inflamação ou até infecção.

    Sintomas principais:

    • Dor intensa e contínua no lado direito do abdômen por mais de 6 horas;
    • Náuseas, vômitos e febre.

    Diagnóstico:

    • Exame físico: dor à palpação específica durante respiração profunda;
    • Exames laboratoriais: hemograma, marcadores hepáticos, bilirrubinas;
    • Ultrassonografia abdominal.

    Tratamento:

    • Jejum e hidratação por via endovenosa;
    • Analgésicos para alívio da dor;
    • Antibióticos (em caso de infecção);
    • Cirurgia (colecistectomia) programada.

    3. Coledocolitíase (pedra no canal biliar)

    Acontece quando uma pedra migra da vesícula para o ducto colédoco, canal que leva a bile ao intestino.

    Sintomas:

    • Dor tipo cólica semelhante à cólica biliar;
    • Icterícia flutuante (pele e olhos amarelados);
    • Urina escura e fezes claras.

    Diagnóstico:

    • Colangiopancreatografia retrógrada (CPRE), um exame endoscópico que permite visualizar e remover a pedra;
    • Colecistectomia posterior para prevenir recorrência do problema.

    4. Colangite (infecção das vias biliares)

    A obstrução dos dutos biliares pode facilitar a infecção bacteriana, o que pode levar a uma colangite.

    Sintomas:

    • Febre;
    • Dor no lado direito do abdômen;
    • Icterícia (pele e olhos amarelados);
    • Em casos graves, pode acontecer confusão mental e queda de pressão.

    Diagnóstico:

    • Avaliação clínica pelo médico, com histórico e sinais;
    • Exames laboratoriais de sangue: hemograma, função hepática, bilirrubinas;
    • Exames de imagem, como colangiografia ou ultrassonografia.

    Tratamento:

    • Antibióticos;
    • Correção da obstrução (remoção da pedra ou drenagem);
    • Programar colecistectomia.

    Diagnóstico das doenças da vesícula biliar

    O diagnóstico geralmente segue estas etapas:

    • Ultrassonografia abdominal: exame simples, sem radiação, muito eficaz para visualizar cálculos ou inflamações;
    • Exames laboratoriais: hemograma, função hepática, bilirrubinas, entre outros;
    • Exames específicos para obstrução: CPRE ou colangiografia quando houver suspeita de pedra no canal biliar ou colangite.

    Tratamentos disponíveis

    Analgésicos para controle da dor, enquanto se aguarda investigação ou cirurgia.

    Quando há complicações ou sintomas expressivos, a colecistectomia (remoção da vesícula) é indicada — frequentemente realizada por cirurgia videolaparoscópica.

    Em casos de colecistite aguda, além dos tratamentos já descritos, inclui-se: jejum, hidratação endovenosa, antibióticos e cirurgia posterior.

    Para coledocolitíase, além da cirurgia, pode ser usada CPRE para remoção da pedra no canal biliar.

    No caso de colangite, além do uso de antibióticos, deve-se resolver a obstrução para prevenir novas infecções, seguido da cirurgia definitiva.

    Leia mais: Novas metas de colesterol em 2025: valores mais rígidos para proteger seu coração

    Perguntas frequentes sobre doenças da vesícula biliar

    1. Toda pedra na vesícula biliar causa dor?

    Não. Muitas pessoas têm cálculos silenciosos, sem sintomas. A dor surge quando a pedra obstrui passagem ou causa inflamação.

    2. A vesícula biliar é essencial?

    Não. Ao removê-la, o corpo pode continuar a digestão da gordura com adaptações no fluxo da bile.

    3. Como é feita a cirurgia de retirada da vesícula biliar (colecistectomia)?

    Na maioria dos casos, é feita por laparoscopia, técnica minimamente invasiva com recuperação mais rápida.

    4. Posso prevenir as pedras da vesícula biliar?

    Sim, manter uma dieta rica em fibras, peso saudável, evitar excesso de gordura saturada e acompanhar o colesterol.

    5. A colangite é uma emergência?

    Sim. A combinação de febre, dor e icterícia é chamada de tríade de Charcot e exige atendimento imediato.

    6. Após a retirada da vesícula, posso comer gordura normalmente?

    Sim, mas em quantidades moderadas. O corpo se adapta, mas pode haver desconforto se exagerar.

    Confira: Intolerância à lactose: o que comer no dia a dia?

  • Intoxicação alimentar por alimentos crus: como se proteger

    Intoxicação alimentar por alimentos crus: como se proteger

    Você já saiu para comer fora ou preparou uma refeição em casa e, pouco tempo depois, começou a sentir náusea, dor abdominal ou diarreia? Esses sinais podem indicar uma intoxicação alimentar, problema que atinge milhões de brasileiros todos os anos e que muitas vezes está ligado ao consumo de alimentos crus ou mal higienizados.

    Embora na maioria dos casos os sintomas sejam leves, a intoxicação alimentar pode evoluir para quadros graves, especialmente em crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa. Entender como ela acontece, quais são os principais riscos e como prevenir é importante para agir rápido e evitar complicações.

    O que é intoxicação alimentar?

    A intoxicação alimentar acontece quando ingerimos alimentos ou bebidas contaminados por microrganismos, como bactérias, vírus ou parasitas, ou substâncias tóxicas naturais ou químicas.

    Há, porém, diferença entre infecção alimentar e intoxicação alimentar:

    • Na infecção alimentar: o microrganismo se instala e multiplica no corpo após a ingestão;
    • Na intoxicação alimentar: já ingerimos toxinas prontas produzidas por microrganismos ou contaminantes, sem necessidade de multiplicação.

    O perigo dos alimentos crus sem higiene

    Consumir carnes ou peixes crus (como sushis, ceviches, carpaccios) exige extremo cuidado. Sem higienização, eles podem estar contaminados por:

    • Bactérias patogênicas: salmonella, escherichia coli (E.coli), vibrio, listeria, que vivem no intestino de animais e podem contaminar a carne;
    • Parasitas: certos helmintos podem resistir se o alimento não for bem tratado;
    • Toxinas e micotoxinas: fungos que crescem em carne armazenada em condições inadequadas podem produzir substâncias que não se eliminam só com calor;
    • Contaminação cruzada: utensílios usados com carnes cruas que depois tocam outros alimentos prontos podem transmitir microrganismos que provocam intoxicação alimentar.

    A questão é que a aparência ou o cheiro do alimento nem sempre denunciam a contaminação, pois muitas vezes a comida parece normal ao paladar.

    O que acontece no corpo durante a intoxicação?

    Depois de consumir o alimento contaminado, o organismo reage e os sintomas geralmente começam entre 30 minutos e poucas horas depois da ingestão, mas podem se estender por dias.

    O sistema digestivo tenta eliminar o agente nocivo. Para isso, intensifica movimentos intestinais, provoca vômito e diarreia para expulsar o microrganismo ou a toxina.

    Se a intoxicação evoluir ou o contaminante for particularmente agressivo, podem ocorrer complicações em rins, fígado, sistema nervoso ou falência de múltiplos órgãos.

    Sintomas de intoxicação alimentar

    Os sinais variam de leves a graves. Os mais comuns são:

    • Náuseas e vômitos;
    • Dor abdominal e cólicas;
    • Diarreia (às vezes com sangue ou muco);
    • Febre;
    • Mal-estar e fraqueza;
    • Desidratação (secura na boca, sede intensa, pouco xixi).

    Sintomas mais alarmantes que exigem atenção médica imediata incluem sangue nas fezes, febre muito alta, sinais de choque ou falência de órgãos.

    Diagnóstico e tratamento

    O diagnóstico da intoxicação alimentar costuma ser clínico. O médico avalia os sintomas, o histórico alimentar recente e os sinais de desidratação. Para confirmar, exames laboratoriais de fezes, sangue e cultura microbiana podem ser solicitados, assim se poderá saber qual o agente que causou a intoxicação.

    O tratamento consiste em:

    • Repouso e hidratação: fundamental repor líquidos e eletrólitos;
    • Dieta leve: alimentos de fácil digestão, evitar gorduras, laticínios e cafeína;
    • Medicamentos sob orientação médica: medicamentos para náusea e vômitos, para diarreia (com precaução) e antibióticos, se houver infecção confirmada;
    • Casos graves podem requerer internação e hidratação endovenosa, aquela feita por soro.

    Veja também: Intolerância à lactose: o que comer no dia a dia?

    Prevenção: como evitar intoxicação alimentar

    Algumas medidas simples podem ajudar a evitar uma intoxicação alimentar. Veja:

    • Lavar bem as mãos com água e sabão antes de preparar alimentos e após usar o banheiro;
    • Manter superfícies, utensílios e tábuas de cozinha limpas e higienizadas;
    • Separar carnes cruas de alimentos prontos, pois isso evita a contaminação cruzada;
    • Cozinhar carnes, ovos e peixes em temperatura adequada até que estejam bem cozidos, pois isso já elimina boa parte dos microrganismos ruins;
    • Evitar consumo de carne crua de procedência duvidosa;
    • Armazenar alimentos em condições adequadas de temperatura (o ideal é refrigerar ou congelar);
    • Consumir alimentos dentro do prazo de validade e evitar conservar por muito tempo.

    Perguntas frequentes sobre intoxicação alimentar

    1. Comer sushi ou ostras é seguro?

    Sim, se o estabelecimento respeitar normas de higiene, origem e refrigeração rigorosa. Mas há risco maior se esses produtos não forem tratados ou manipulados corretamente.

    2. Posso reconhecer comida estragada pelo cheiro ou aparência?

    Nem sempre. Alimentos contaminados nem sempre apresentam odor, cor ou sabor alterados.

    3. Quanto tempo demoram os sintomas para aparecer?

    Os sintomas da intoxicação alimentar podem aparecer entre 30 minutos e até alguns dias, dependendo do agente envolvido.

    4. Quando devo procurar atendimento médico?

    Se houver sangue nas fezes, febre alta, desidratação ou sintomas persistentes por mais de 48 horas.

    5. Intoxicação alimentar pode matar?

    Sim, especialmente em grupos vulneráveis (crianças, idosos, imunodeprimidos). Alguns agentes e toxinas podem causar falência de órgãos severa.

    6. Tomar antibiótico por conta própria ajuda?

    Não. Uso errado pode piorar ou prolongar o quadro. A decisão de usar antibióticos deve ser feita por médico com base no agente identificado.

    Leia também: 10 alimentos ricos em fibras para regular o intestino

  • Intoxicação por metanol: saiba mais sobre os antídotos 

    Intoxicação por metanol: saiba mais sobre os antídotos 

    Depois dos recentes casos de intoxicação por metanol registrados no país, o alerta acendeu para os riscos das bebidas adulteradas e também para a urgência de acesso ao tratamento correto. O metanol, substância altamente tóxica usada indevidamente na fabricação de destilados ilegais, pode causar cegueira e morte se não houver intervenção rápida.

    O tratamento da intoxicação por metanol precisa acontecer rápido e com muita precisão, pois é preciso bloquear a ação da enzima que transforma a substância em compostos ainda mais tóxicos e, em casos graves, recorrer à hemodiálise.

    Recentemente, o Brasil deu um passo importante, ao liberar a fabricação de etanol farmacêutico e ampliar o acesso ao fomepizol, o antídoto mais eficaz contra o metanol. Entenda como esses medicamentos funcionam.

    Por que o metanol é perigoso

    O metanol em si deprime o sistema nervoso, mas o grande problema é o metabolismo: a enzima álcool desidrogenase (ADH) transforma metanol em formaldeído e depois em ácido fórmico, responsável por acidose metabólica severa, lesão do nervo óptico (risco de cegueira) e falência de órgãos.

    O antídoto busca impedir essa conversão e remover tóxicos do organismo.

    O que é o antídoto e como ele funciona

    Existem dois antídotos que atuam inibindo a enzima álcool desidrogenase e freando a formação de ácido fórmico:

    • Fomepizol: antídoto de escolha quando disponível, por eficácia, forma simples de administrar e menos efeitos colaterais. Pode, em apresentações precoces e sem gravidade, evitar ou postergar a hemodiálise. O Brasil passou a importar o fomepizol de forma emergencial;
    • Etanol farmacêutico: também inibe a enzima álcool desidrogenase e compete com o metanol, mas pode causar embriaguez, hipoglicemia e exige monitorização mais intensa. Ainda assim, é uma opção muito útil quando o fomepizol não está disponível.

    Bicarbonato de sódio e ácido folínico/folato: além do antídoto, o tratamento pode incluir suporte clínico com bicarbonato de sódio para corrigir a acidose e ácido folínico/folato para acelerar a metabolização do formiato.

    Quando é preciso fazer hemodiálise?

    A hemodiálise remove rapidamente metanol e formiato, além de corrigir a acidose grave. Em geral, é indicada quando há acidose metabólica significativa, lesão de órgão-alvo, como alteração visual, níveis muito altos de metanol ou agravamento, apesar do antídoto.

    O que o Brasil está fazendo agora

    • Distribuição nacional de antídotos: o Ministério da Saúde iniciou a distribuição de ampolas de etanol farmacêutico para estados solicitantes e vem ampliando o número de estados atendidos;
    • Produção e oferta: a Anvisa liberou a fabricação nacional do etanol farmacêutico para uso como antídoto e autorizou a importação de fomepizol, o que dá aos médicos mais opções de tratamento;

    Isso importa porque o fomepizol é preferível quando disponível, pois é mais eficaz que o etanol farmacêutico.

    Veja também: Energético faz mal à saúde? Cardiologista explica

    Perguntas frequentes sobre intoxicação por metanol e o uso de antídoto

    1. Qual é o antídoto principal para metanol?

    O fomepizol é preferido por segurança e manejo simples; o etanol farmacêutico é alternativa eficaz quando fomepizol não está disponível. Ambos inibem a ADH e impedem a formação do ácido fórmico.

    2. O antídoto cura a intoxicação?

    Ele interrompe o metabolismo tóxico. Em casos graves, ainda pode ser preciso hemodiálise para remover metanol/formiato e corrigir a acidose.

    3. Por que dar ácido folínico/folato?

    Porque acelera a conversão do formiato, que é muito tóxico, em produtos inofensivos, e isso ajuda na reversão da acidose e na proteção da visão.

    4. Quando a hemodiálise é indicada em casos de intoxicação por metanol?

    Na presença de acidose metabólica marcante, sinais de toxicidade ocular ou neurológica, níveis altos de metanol ou piora clínica.

    5. O que o Brasil disponibiliza hoje?

    O Ministério da Saúde está distribuindo etanol farmacêutico e, mais recentemente, também está importando fomepizol.

    6. Posso prevenir intoxicação por metanol tomando etanol após beber algo suspeito?

    Não. Isso pode mascarar sintomas. Se você suspeita ter ingerido bebida adulterada, procure atendimento imediato.

    7. Por que o metanol aparece em bebidas?

    Por adulteração (para baratear) ou falhas em processos artesanais ou ilegais.

    Leia também: Metanol em bebidas: saiba o que fazer na suspeita de intoxicação

  • Dopamina: como ela pode ser responsável pelas suas decisões

    Dopamina: como ela pode ser responsável pelas suas decisões

    Se você pensa que todas as suas decisões são 100% racionais e tomadas com muita consciência, você está enganado. A dopamina, um neurotransmissor importante para o cérebro, também é capaz de influenciar suas decisões e hábitos.

    “Você sabia que muitas das suas decisões — o que você vai comer, com quem você vai sair — tem tudo a ver com a dopamina?”, diz a neurologista Paula Dieckmann.

    Venha entender mais sobre o tema e o que acontece quando a dopamina está desregulada no cérebro.

    O que é dopamina?

    O psiquiatra Luiz Dieckmann explica que a dopamina é um neurotransmissor importantíssimo para o cérebro.

    “Todo mundo pensa que ela está ligada diretamente (e necessariamente) ao prazer, mas na verdade, ela está muito mais envolvida com a motivação e com a antecipação da recompensa que virá”.

    É importante dizer que a dopamina não atua sozinha, mas faz parte de várias vias dopaminérgicas responsáveis por motivar, antecipar recompensas, regular o humor, ajudar na atenção, nos movimentos e em decisões.

    Como a dopamina influencia decisões e hábitos

    Sinais associados a recompensas podem trazer respostas dopaminérgicas, sobretudo quando há expectativa ou surpresa.

    “Quando você vê uma comida gostosa ou quando você recebe uma notificação do celular de alguém que você gosta muito, tudo isso libera dopamina. Isso motiva você a agir, como comer, clicar, sair ou comprar. A dopamina ajuda o cérebro a calcular: ‘vale a pena ou não vale a pena fazer isso?’”, detalha a neurologista.

    Essa antecipação — que algo bom vai acontecer — gera motivação. E quando algo dá certo, o reforço dopaminérgico registra isso como algo a repetir.

    Quando o sistema dopaminérgico sai do equilíbrio

    Uma desregulação nesse sistema da dopamina pode levar a uma disfunção no sistema da recompensa e da motivação.

    “Transtorno por uso de substâncias e quadros depressivos são exemplos de condições psiquiátricas que podem estar associadas a uma disfunção do sistema dopaminérgico”, explica o psiquiatra.

    Ou seja, se há pouca dopamina ou se ela não está sendo usada direito, podemos sentir falta de motivação, desinteresse pelas coisas que antes nos davam prazer, bem como cansaço mental.

    Em outros casos, níveis muito altos ou desequilíbrio podem favorecer dependência, impulsividade ou alteração de humor.

    Confira: Autismo em adultos: sinais que você pode não saber e quando buscar diagnóstico

    Dicas práticas para manter a dopamina saudável

    Aqui vão algumas práticas simples que ajudam seu cérebro a equilibrar bem o sistema dopaminérgico:

    • Mantenha hábitos regulares de sono: uma rotina de sono consistente ajuda no humor, na atenção e na autorregulação. O sistema de recompensa é sensível à privação e ao estresse;
    • Faça exercícios físicos: caminhar, correr e praticar esportes podem modular dopamina e melhorar humor e motivação;
    • Procure atividades que você goste: como um hobby, música ou algo criativo. Recompensas naturais ajudam a manter o equilíbrio;
    • Evite estímulos extremos: como o uso excessivo de redes sociais, álcool em demasia e estimulantes, que forçam o sistema de dopamina de forma banal.

    Assista ao vídeo com a explicação dos especialistas sobre a dopamina:

    Perguntas frequentes sobre dopamina

    1. Dopamina é o mesmo que “hormônio da felicidade”?

    Não exatamente. Ela está envolvida no prazer, mas seu papel maior é motivar, dar antecipação de recompensa e induzir a ação — não apenas fazer você “se sentir feliz”.

    2. Se uma pessoa está sem vontade pra nada, isso pode estar ligado à dopamina?

    Sim. A baixa liberação ou desregulação dopaminérgica pode estar presente em quadros depressivos ou falta de motivação intensa.

    3. Comer chocolate libera dopamina?

    Sim — ver, comer ou imaginar algo prazeroso, como chocolate, pode recrutar circuitos de recompensa.

    4. Café, redes sociais e estimulação digital aumentam a dopamina?

    Sim, eles podem modular a dopamina e ativar circuitos de recompensa. Mas o uso excessivo pode levar à tolerância, em que se precisa de estímulos cada vez maiores para sentir o mesmo efeito.

    5. Dopamina está relacionada a doenças neurológicas?

    Sim. Doença de Parkinson (quando há redução na produção de dopamina), TDAH, dependência de substâncias e alguns transtornos de humor estão ligados a desequilíbrios dopaminérgicos.

    6. Dá para “testar” seus níveis de dopamina no dia a dia?

    Não de forma simples. Não existe exame de sangue cotidiano que revele exatamente o que o cérebro está fazendo. Médicos usam sinais clínicos e, em casos especiais, exames especializados.

    Leia mais: TOC não é só mania de limpeza: veja os sintomas reais do transtorno

  • Recidiva do câncer: por que ele pode voltar após o tratamento?

    Recidiva do câncer: por que ele pode voltar após o tratamento?

    Após meses de tratamento, seja por cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, a remissão do câncer costuma ser acompanhada de sentimentos de alívio e vitória. Apesar disso, é comum (e totalmente compreensível) ficar apreensivo com a possibilidade de o câncer retornar.

    O fenômeno, conhecido como recidiva, ocorre quando a doença retorna meses ou até anos depois do término do tratamento. Não é algo raro de acontecer, e por isso é importante que pacientes e familiares compreendam por que ocorre, quais fatores estão envolvidos e quais são as melhores formas de lidar com a possibilidade. Entenda mais, a seguir.

    O que é a recidiva do câncer?

    A recidiva do câncer é o termo médico usado para descrever o retorno da doença após o fim do tratamento inicial. Ela pode aparecer no mesmo local onde o tumor surgiu, em tecidos próximos ou em órgãos distantes. Quando a doença retorna, ela mantém o nome do câncer original, mesmo que apareça em outro órgão.

    Por exemplo, se uma pessoa tratou câncer de mama e, anos depois, células cancerígenas aparecem nos pulmões, ainda será considerado câncer de mama com metástase pulmonar, e não um câncer de pulmão primário. Esse detalhe é particularmente importante porque o comportamento biológico e o tratamento dependem da origem inicial do tumor.

    Vale ressaltar que a recidiva não significa necessariamente que o tratamento anterior não deu certo. Ela é, na verdade, consequência de um processo natural do câncer, uma vez que células microscópicas podem permanecer no corpo mesmo depois de terapias agressivas.

    Por esse motivo é tão importante manter o acompanhamento mesmo após a remissão, pois a recidiva pode acontecer meses ou até anos após o término do tratamento.

    Como e por que a recidiva acontece?

    De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, o corpo humano é formado por trilhões de células, e um tumor de apenas 1 cm³ já pode conter cerca de 1 bilhão de células cancerígenas. Mesmo com exames avançados, é praticamente impossível detectar células isoladas ou pequenos grupos de células que sobrevivem após o tratamento.

    Segundo o oncologista Thiago Chadid, as células residuais são chamadas de micrometástases, e podem permanecer “congeladas” por meses ou até anos. Mas, por algum gatilho, como baixa imunidade, estresse, infecção, covid-19, cigarro ou radiação, podem voltar a se multiplicar de forma descontrolada, originando um novo tumor.

    Quais os tipos de recidiva do câncer?

    A recidiva pode se manifestar de diferentes formas, sendo elas:

    • Recidiva local: acontece quando o tumor aparece novamente exatamente no mesmo local onde surgiu o câncer inicial. Por exemplo, um câncer de pele tratado volta no mesmo ponto da cicatriz;
    • Recidiva regional: nesses casos, o câncer retorna em linfonodos próximos ao local original. Um exemplo é um câncer de mama que se manifesta novamente nos linfonodos da axila;
    • Recidiva metastática distante (metástase): o câncer se instala em órgãos ou tecidos distantes do local inicial. É o tipo mais grave, pois pode atingir pulmões, fígado, ossos ou cérebro.

    É possível saber se o câncer vai voltar?

    Atualmente, não existe uma maneira de saber se, depois da remissão, o câncer vai retornar. Segundo a SBCO, em alguns tipos de tumores, existem algoritmos que estimam a chance de recidiva, mas ainda se tratam de cálculos imprecisos, incapazes de determinar com certeza o risco individual de cada paciente.

    O que se sabe é que, quando o câncer é mais agressivo, de crescimento rápido ou que já se espalhou para outras regiões do corpo, a probabilidade de recidiva é maior. O acompanhamento contínuo aumenta a chance de detectar precocemente qualquer sinal de retorno da doença, o que faz diferença no tratamento.

    De acordo com Thiago, adota-se o período de cinco anos como referência para acompanhar o risco de retorno do câncer. No entanto, há exceções, sobretudo em tumores indolentes, que apresentam crescimento mais lento e podem recidivar após esse intervalo.

    Como é feito o diagnóstico e tratamento da recidiva do câncer?

    O diagnóstico da recidiva normalmente acontece durante as consultas de retorno ao oncologista. Os exames de imagem (como tomografia, ressonância magnética e PET-CT) e exames laboratoriais continuam sendo as principais medidas de detecção do câncer.

    Em alguns casos, dependendo do tipo de tumor, o paciente pode notar alguns sinais de alerta, como:

    • Dor persistente;
    • Fadiga extrema;
    • Perda de peso sem causa aparente;
    • Novos nódulos ou alterações na pele.

    O tratamento depende do tipo e localização da recidiva, além do histórico do paciente. Algumas células tumorais podem se tornar resistentes aos medicamentos utilizados anteriormente, exigindo mudanças de estratégia.

    Mas, segundo Thiago, quando o câncer retorna no mesmo local, normalmente se trata de um resíduo tumoral que não foi completamente eliminado. Nesses casos, a cirurgia ou a radioterapia costumam ser as opções mais indicadas, pois ainda existe uma chance significativa de cura.

    Já a metástase indica que as células tumorais se disseminaram para outras partes do corpo, o que torna o tratamento mais complexo. As abordagens, dependendo do tipo e da localização do câncer, podem incluir quimioterapia, radioterapia, terapia-alvo, imunoterapia, terapia hormonal ou cirurgia.

    Leia mais: Entenda a diferença entre tumor benigno e maligno

    É possível prevenir o retorno do câncer?

    Não é possível prevenir completamente a recidiva do câncer, mas existem medidas que reduzem os riscos, como:

    • Alimentação equilibrada: uma dieta rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras ajuda a manter o peso corporal saudável e fornece nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo. O excesso de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gorduras saturadas e aditivos químicos, deve ser evitado;
    • Atividade física regular: praticar exercícios de forma constante, mesmo que em intensidade moderada, como caminhadas, natação ou bicicleta, contribui para controlar a obesidade, aumentar a imunidade e reduzir inflamações;
    • Controle do estresse: o impacto emocional do câncer é enorme, e viver em constante estado de tensão enfraquece o sistema imunológico. Estratégias como meditação, ioga, respiração consciente ou acompanhamento psicológico ajudam a reduzir a ansiedade, melhorar o sono e trazer mais equilíbrio à rotina;
    • Acompanhamento multidisciplinar: contar com nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos garante uma atenção integral ao corpo e à mente, fortalecendo o paciente como um todo. Ter uma rede de apoio contribui para a adesão ao tratamento e para a melhora da qualidade de vida;
    • Evitar fatores de risco: abandonar o tabagismo e reduzir o consumo de álcool são medidas fundamentais para prevenir a doença. Se proteger contra a radiação solar excessiva e manter as vacinas em dia, como as contra HPV e hepatite B, também faz toda diferença.

    Apesar das medidas não garantirem que o câncer nunca volte, elas fortalecem o organismo, aumentam a resposta ao tratamento e promovem qualidade de vida — permitindo que o paciente se sinta mais confiante no processo de recuperação.

    Confira: Exames de rotina para prevenir câncer: conheça os principais

    Perguntas frequentes sobre recidiva do câncer

    1. O câncer que volta é mais agressivo do que o primeiro?

    Nem sempre. Na verdade, o comportamento da recidiva depende do tipo de câncer e da forma como ele evolui no organismo. Em alguns casos, o tumor pode se manifestar de maneira semelhante ao inicial; em outros, pode apresentar características mais resistentes aos medicamentos utilizados anteriormente, exigindo novas medidas de tratamento.

    2. Quanto tempo depois do tratamento o câncer pode voltar?

    Não existe um tempo fixo. A recidiva do câncer pode ocorrer em meses, anos ou até décadas depois do tratamento inicial. Há relatos de pacientes que tiveram o retorno da doença até 20 anos após entrarem em remissão.

    Assim, o acompanhamento médico periódico deve ser contínuo, mesmo depois de muito tempo sem sinais de câncer. Exames de rotina e consultas de acompanhamento são fundamentais para detectar precocemente qualquer alteração.

    3. O câncer que volta é considerado um novo câncer?

    Não, a recidiva é o reaparecimento do mesmo câncer tratado anteriormente. Mesmo que ele surja em outra parte do corpo, continua sendo considerado do mesmo tipo do tumor original. Por exemplo, um câncer de mama que volta nos ossos ainda é classificado como câncer de mama metastático.

    Já um segundo câncer primário é quando o paciente desenvolve outro tipo de tumor, independente do primeiro.

    4. O paciente em remissão precisa fazer exames para o resto da vida?

    Na maioria dos casos, sim. O acompanhamento médico deve ser constante, mesmo depois de anos sem sinais da doença. A frequência dos exames pode diminuir com o tempo, mas dificilmente o paciente deixa de ser monitorado completamente.

    Isso é necessário porque a recidiva pode acontecer a qualquer momento — inclusive após longos períodos de silêncio da doença.

    5. O que fazer para lidar emocionalmente com o medo da recidiva?

    O medo de que o câncer retorne é muito comum entre pacientes oncológicos e pode comprometer o sono, a concentração e a qualidade de vida, então é muito importante falar abertamente sobre os sentimentos com o médico e procurar apoio psicológico.

    Existem grupos de apoio e terapia individual que contribuem para transformar a ansiedade em algo mais manejável. Cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar do corpo, pois o equilíbrio mental fortalece a resiliência e aumenta a confiança no tratamento.

    6. Por que algumas pessoas têm recidiva e outras não?

    A diferença está ligada a diversos fatores, como o tipo de câncer, o estágio em que foi diagnosticado, a resposta individual ao tratamento e até a genética do paciente. Além disso, fatores externos, como estilo de vida e exposição a substâncias nocivas, também influenciam.

    Em alguns casos, mesmo com todos os cuidados possíveis, pequenas células malignas podem permanecer no organismo e voltar a se multiplicar. Portanto, não há uma causa única, e sim vários fatores que influenciam se a doença vai voltar ou não.

    Veja também: Metástase: o que é, sintomas, como surge e se tem cura

  • Como carregar peso sem prejudicar a coluna?

    Como carregar peso sem prejudicar a coluna?

    A coluna é a estrutura central do corpo humano, responsável por sustentar, equilibrar e permitir os movimentos. No entanto, ela também é uma das partes mais vulneráveis a lesões — especialmente quando carregamos peso de forma incorreta.

    Seja no trabalho, na academia ou até nas tarefas de casa, dobrar o corpo da maneira errada pode gerar dores intensas e problemas como hérnia de disco, lombalgia e desgaste precoce das articulações.

    Por isso, o recomendado é adotar técnicas seguras, limites recomendados e hábitos preventivos que ajudam a proteger a saúde da coluna em qualquer idade. Conversamos com o médico ortopedista Caio Gonçalves de Souza para esclarecer as principais dúvidas e reunir orientações práticas sobre como levantar, carregar e distribuir pesos no dia a dia sem comprometer a coluna. Dá uma olhada!

    Por que carregar peso da forma errada prejudica a coluna?

    A coluna é a principal estrutura de sustentação do corpo, e funciona como um eixo central, formado por vértebras, discos, ligamentos e músculos que trabalham juntos para manter o equilíbrio e o movimento.

    Quando levantamos peso de forma errada, aumentamos a pressão sobre os discos intervertebrais, os músculos e as articulações, o que pode causar:

    • Sobrecarga nos discos, favorecendo hérnias;
    • Estresse nos ligamentos e articulações facetárias;
    • Desequilíbrio muscular, levando a má postura;
    • Irritação nervosa, resultando em dor irradiada para braços ou pernas.

    Qual é a forma correta de carregar peso no dia a dia?

    De acordo com Caio, o princípio básico para pegar o peso é levantar o peso com as pernas, não com as costas. Isso significa utilizar a força dos grandes músculos das pernas e glúteos — que são mais potentes e projetados para essa função —, em vez de sobrecarregar os pequenos músculos da coluna lombar.

    Para levantar objetos do chão, o especialista orienta:

    • Planeje: avalie o peso e o formato do objeto. Se ele for muito pesado ou volumoso, peça ajuda para alguém ou utilize equipamentos de apoio;
    • Aproxime-se: posicione-se o mais perto possível do objeto para reduzir o esforço sobre a coluna;
    • Estabilize a base: afaste os pés na largura dos ombros, com um deles levemente à frente, garantindo firmeza e equilíbrio;
    • Agache corretamente: dobre os joelhos e os quadris, mantendo a coluna ereta, como se houvesse uma linha reta da cabeça até o cóccix. Evite curvar a lombar;
    • Segure com firmeza: pegue o objeto com as duas mãos, se possível, garantindo segurança no movimento;
    • Levante usando as pernas: mantenha o objeto próximo ao corpo e suba estendendo joelhos e quadris, com a coluna alinhada. A força deve vir das pernas e glúteos;
    • Evite torções: ao mudar de direção, mova os pés e gire o corpo inteiro, sem torcer o tronco com o peso nas mãos;
    • Ao colocar no chão: repita o processo inverso, agachando com a coluna reta até apoiar o objeto.

    Como carregar mochilas, sacolas e caixas?

    Cada tipo de carga exige uma postura específica, conforme aponta Caio:

    • Mochilas: use sempre as duas alças, ajustadas ao corpo, sem ultrapassar a linha da cintura. Os objetos pesados devem ficar próximos às costas;
    • Sacolas: divida o peso entre as duas mãos. Se for só uma sacola, alterne os lados;
    • Caixas ou objetos grandes: mantenha o mais próximo possível do corpo, entre a altura do meio da coxa e os ombros.

    “A consciência corporal e a prática dessas técnicas ergonômicas podem reduzir significativamente a sobrecarga na coluna, protegendo-a de estresses desnecessários e prevenindo o desenvolvimento de dores e lesões a longo prazo”, explica o médico ortopedista.

    Existe um limite de peso recomendado?

    Não existe um limite único que sirva para todo mundo, já que fatores como idade, sexo, condicionamento físico e saúde influenciam muito. No entanto, existem recomendações gerais para reduzir os riscos, sendo eles:

    • Para adultos: levantar mais de 20% a 25% do peso corporal já pode ser arriscado, especialmente sem técnica adequada. No trabalho, o recomendado é não ultrapassar 23 kg em levantamentos repetitivos, sendo que o limite deve ser menor se houver torções ou posições desconfortáveis. No dia a dia, lembre-se: se o peso parecer demais, peça ajuda ou use apoio.
    • Para crianças e adolescentes: como a coluna ainda está em desenvolvimento, a mochila não deve ultrapassar 10% a 15% do peso corporal. Uma criança de 30 kg, por exemplo, deve carregar no máximo entre 3 e 4,5 kg. Além do peso, a forma de carregar também importa: usar sempre as duas alças, bem ajustadas e sem passar da linha da cintura.

    “O não cumprimento das recomendações pode levar a desequilíbrios musculares e má postura crônica. E, em casos mais severos, o agravamento de condições preexistentes ou o surgimento de novas dores e desconfortos que podem ter repercussões a longo prazo na saúde da coluna, afetando até mesmo o padrão de crescimento vertebral”, esclarece Caio.

    Quais sinais mostram que a coluna está sendo prejudicada?

    No dia a dia, é importante ficar atento a sinais de alerta de que a coluna está sofrendo com uma sobrecarga ou alguma lesão, como:

    • Dor nas costas que não melhora com repouso e dura mais de duas semanas;
    • Dor que irradia para pernas ou braços;
    • Formigamento, dormência ou perda de força nos membros;
    • Alterações na marcha ou no equilíbrio;
    • Dor constante, especialmente à noite;
    • Febre, perda de peso inexplicável ou histórico de trauma;
    • Dificuldade em controlar urina ou fezes (consiste em uma emergência médica).

    Se qualquer um dos sinais aparecer, procure um médico ortopedista ou neurologista. Apenas um profissional poderá indicar o tratamento adequado, que pode envolver desde repouso e fisioterapia até remédios ou procedimentos específicos.

    Veja também: Exercícios para fortalecer a coluna: o guia completo para proteger sua postura e prevenir dores

    Perguntas frequentes sobre carregar peso sem prejudicar a coluna

    1. O uso de cintas ou coletes ajuda a coluna?

    O uso de cintas lombares pode ser útil em alguns casos, como no pós-operatório ou em pessoas com instabilidade na coluna. Elas ajudam a limitar movimentos que poderiam agravar a dor e lembram o corpo a manter a postura correta.

    Porém, de acordo com o médico ortopedista Caio Gonçalves de Souza, usar cinta de forma contínua e sem indicação pode ser prejudicial, porque ela pode dar uma falsa sensação de segurança e levar a esforços além do seguro. O uso prolongado também enfraquece os músculos do abdômen e lombar — que são justamente os responsáveis por proteger a coluna.

    O ideal é que a cinta seja usada apenas sob orientação médica ou fisioterapêutica e por tempo limitado. Para a maioria das pessoas, a melhor proteção é fortalecer o core com exercícios.

    2. Quais erros de postura sobrecarregam a coluna ao carregar peso?

    Alguns hábitos no dia a dia aumentam muito o risco de dor e lesões, como:

    • Curvar a coluna para levantar peso: o certo é agachar dobrando os joelhos e mantendo as costas retas;
    • Manter o peso afastado do corpo: quanto mais longe, maior a pressão sobre a lombar;
    • Torcer o tronco com o peso nas mãos: sempre gire o corpo inteiro, movendo os pés;
    • Carregar peso de um lado só: mochila em um ombro ou sacola pesada em apenas uma mão desequilibram a postura;
    • Movimentos bruscos: levantar rápido ou em “arranco” sobrecarrega a coluna;
    • Falta de aquecimento: músculos frios são mais vulneráveis a lesões;
    • Prender a respiração de forma errada: pode aumentar a pressão arterial e trazer riscos extras.

    3. Mochilas pesadas fazem mal para crianças e adolescentes?

    Sim, carregar mochilas muito pesadas ou mal ajustadas pode trazer consequências sérias para a saúde da coluna em longo prazo. Como os ossos, músculos e ligamentos ainda estão em desenvolvimento, eles ficam mais vulneráveis à sobrecarga.

    Os problemas mais comuns incluem:

    • Dores crônicas, principalmente em pescoço, costas e lombar;
    • Alterações posturais, como postura corcunda, que pode evoluir para escoliose;
    • Desequilíbrio muscular, pois alguns músculos ficam sobrecarregados, enquanto outros enfraquecem;
    • Compressão dos discos intervertebrais;
    • Impacto no bem-estar, pois a dor e desconforto podem atrapalhar a concentração, reduzir a prática de atividades físicas e afetar a autoestima.

    Para evitar problemas na coluna, os pais devem checar o peso das mochilas todos os dias, orientar as crianças a levar só o necessário e escolher modelos com alças largas, ajustáveis e, se possível, com apoio na cintura.

    4. Qual a diferença entre dor muscular comum e dor de lesão na coluna?

    A dor muscular comum aparece de 24 a 48 horas depois do esforço, é leve, localizada nos músculos usados e melhora com alongamento. Já a dor na coluna surge durante ou logo após a atividade, costuma ser forte, pode se espalhar para braços ou pernas e vir com formigamento, dormência ou perda de força.

    5. Atividades físicas ajudam a evitar dores ao carregar peso?

    Com certeza, pois pessoas ativas têm músculos mais fortes, articulações mais móveis e melhor consciência postural — o que facilita carregar peso com menos risco. Algumas opções recomendadas incluem caminhadas, musculação, natação e pilates.

    Segundo a OMS, adultos devem praticar pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. O hábito não só protege a coluna como também melhora o bem-estar geral, reduzindo o estresse e a fadiga.

    6. O que devo fazer se sentir dor após carregar peso?

    Se a dor for leve e localizada, ela normalmente melhora com repouso, compressa morna, alongamento suave e hidratação. No entanto, se a dor persistir por mais de alguns dias, piorar com o tempo, irradiar para braços ou pernas ou vier acompanhada de formigamento e fraqueza, a recomendação é interromper os esforços e procurar um médico.

    Confira: Como manter a postura correta no trabalho? Veja dicas práticas

  • DIU hormonal: o que é, tipos, vantagens e desvantagens

    DIU hormonal: o que é, tipos, vantagens e desvantagens

    O DIU hormonal, também conhecido como DIU medicado, é considerado um dos métodos contraceptivos mais seguros atualmente — com uma taxa falha inferior a 1% ao ano. Além de proporcionar mais liberdade e proteção para pessoas que não desejam engravidar, ele também pode ser usado como método de tratamento de algumas condições específicas, como endometriose.

    Para entender como o dispositivo funciona, quando é indicado e quais as vantagens e desvantagens, consultamos a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza. Confira!

    O que é e como funciona o DIU hormonal?

    O DIU hormonal é um pequeno dispositivo em formato de T que é inserido dentro do útero por um médico ginecologista. Ele libera, de forma contínua e em pequenas doses, o hormônio levonorgestrel — uma progesterona sintética.

    Diferente da pílula anticoncepcional, que age em todo o organismo, o DIU hormonal atua principalmente no útero, e consiste no seguinte mecanismo de ação:

    • Espessamento do muco cervical, dificultando a entrada dos espermatozoides;
    • Alteração do endométrio (camada interna do útero), dificultando a implantação de um embrião;
    • Em menor grau, pode reduzir a motilidade dos espermatozoides dentro do útero e trompas.

    Importante: na maioria dos casos, o DIU hormonal não bloqueia a ovulação. Ou seja, a mulher continua ovulando, mas não engravida porque as condições para fecundação e implantação não acontecem.

    Tipos de DIU hormonal

    No Brasil, os dois principais tipos disponíveis são o Mirena e o Kyleena, ambos fabricados pela Bayer. Eles são inseridos da mesma forma, no consultório médico, com um procedimento rápido que dura poucos minutos. Nos primeiros meses, pode haver um período de adaptação, com sangramentos irregulares, até que o corpo se acostume à liberação hormonal.

    Eles contêm algumas características diferentes:

    Mirena

    O DIU Mirena contém uma dose maior de levonorgestrel e tem duração de até 8 anos. Antes o tempo de eficácia era de 5 anos, mas estudos clínicos comprovaram a segurança e efetividade do dispositivo por mais tempo.

    Além da contracepção, Andreia aponta que o Mirena também pode ser usado em casos de endometriose, adenomiose ou como parte do tratamento de reposição hormonal na menopausa.

    Um dos grandes diferenciais é que o Mirena pode reduzir ou até suspender completamente a menstruação, o que traz bastante alívio para quem sofre com cólicas fortes e sangramentos abundantes.

    Kyleena

    O Kyleena, por outro lado, contém uma dose menor de hormônio e tem duração de até 5 anos. Por ser um dispositivo um pouco menor, muitas vezes é recomendado para mulheres mais jovens ou que nunca tiveram filhos — já que sua adaptação costuma ser mais simples.

    Diferente do Mirena, o Kyleena geralmente não interrompe a menstruação por completo, mas costuma reduzir bastante o fluxo e a intensidade dos sangramentos.

    Como é feita a colocação do DIU hormonal?

    O DIU é inserido no útero por um profissional de saúde por meio de um procedimento, feito em consultório. A paciente é deitada em posição ginecológica, e o colo do útero e a vagina são higienizados para evitar infecções.

    Em seguida, o dispositivo é introduzido cuidadosamente até a cavidade uterina. Em alguns casos, o médico pode aplicar anestesia local no colo do útero para reduzir o desconforto.

    Durante a colocação, muitas mulheres sentem cólicas semelhantes às menstruais, mas o incômodo é passageiro. Depois que o DIU é posicionado, os fios que ficam na entrada do colo são aparados, permanecendo apenas o suficiente para permitir o acompanhamento e facilitar a futura remoção.

    É comum que, nas primeiras horas ou dias, ocorram cólicas leves ou pequenos sangramentos, mas isso tende a melhorar com o tempo. Uma vez inserido, o DIU não é sentido no dia a dia.

    E a remoção?

    A remoção do DIU também é feita em consultório e pode ocorrer a qualquer momento, mesmo antes do término da validade. Para retirá-lo, o profissional de saúde localiza e puxa delicadamente os fios, fazendo com que o dispositivo deslize para fora pelo colo do útero e pela vagina.

    O processo pode causar cólicas, mas geralmente é mais confortável do que a inserção. Se a paciente desejar, um novo DIU pode ser colocado na mesma consulta, garantindo a continuidade da contracepção sem interrupções.

    Quando o DIU hormonal é indicado?

    O DIU hormonal é indicado principalmente como método contraceptivo de longa duração. Segundo a Febrasgo, a taxa de falha do DIU hormonal é inferior a 1% ao ano, sendo considerada uma das formas mais seguras de contracepção disponíveis hoje.

    Além da função anticoncepcional, o DIU hormonal também pode ser recomendado em situações específicas, como:

    • Fluxo menstrual intenso: ajuda a reduzir significativamente o sangramento e, em alguns casos, pode até suspender a menstruação;
    • Cólicas fortes: alívio dos sintomas menstruais, especialmente em mulheres que sofrem com dores intensas;
    • Endometriose e adenomiose: auxilia no controle da dor e na redução do fluxo menstrual associado a essas condições;
    • Reposição hormonal na menopausa: pode ser utilizado como parte do tratamento, em associação com estrogênio, equilibrando os níveis hormonais.

    Vale lembrar que, em todos os casos, a escolha pelo DIU hormonal deve ser feita junto ao médico, considerando o histórico de saúde, os objetivos da paciente e possíveis contraindicações.

    Vantagens do DIU hormonal

    • Tem eficácia superior à pílula, já que não depende da disciplina diária e libera hormônio de forma contínua;
    • Garante proteção de 5 a 8 anos, conforme o modelo escolhido;
    • Reduz o fluxo menstrual e, em alguns casos, suspende a menstruação, ajudando a prevenir anemia por deficiência de ferro;
    • Diminui cólicas menstruais, trazendo alívio para quem sofre com dores fortes;
    • Auxilia no tratamento de condições como endometriose e adenomiose e pode ser usado em protocolos de reposição hormonal na menopausa;
    • Não exige manutenção no dia a dia, já que funciona automaticamente após a colocação;
    • A fertilidade retorna rapidamente após a retirada, permitindo gravidez já no ciclo seguinte.

    Desvantagens do DIU hormonal

    • O custo inicial é mais alto em comparação a outros métodos, embora se dilua pelo tempo de uso;
    • A inserção deve ser feita por um ginecologista e pode gerar desconforto momentâneo;
    • Os primeiros meses podem trazer escapes, sangramentos irregulares ou cólicas, mas geralmente os sintomas diminuem após o período de adaptação;
    • Não protege contra infecções sexualmente transmissíveis, sendo necessário o uso de camisinha em relações de risco.

    Possíveis efeitos colaterais

    Em alguns casos, o DIU hormonal pode causar certos efeitos colaterais, que costumam ser temporários e desaparecem em poucos meses, como:

    • Sangramento irregular;
    • Cólicas;
    • Dor nas mamas;
    • Dor de cabeça;
    • Alterações de humor.

    Alguns efeitos mais raros podem incluir acne, inchaço e ganho de peso.

    Quais as contraindicações do DIU hormonal?

    O DIU hormonal é seguro para a maioria das mulheres, mas existem contraindicações importantes:

    • Gravidez confirmada ou suspeita;
    • Infecções pélvicas ativas ou recorrentes;
    • Malformações uterinas que dificultem a colocação;
    • Câncer de mama atual ou passado;
    • Doenças hepáticas graves;
    • Sangramento vaginal sem causa esclarecida.

    Por isso, a decisão deve sempre ser feita em conjunto com o ginecologista, após avaliação clínica e exames quando necessários.

    Confira: Higiene menstrual: conheça os principais cuidados durante o ciclo

    Perguntas frequentes sobre DIU hormonal

    1. O DIU hormonal dói para colocar?

    A inserção do DIU pode causar algum desconforto, parecido com cólicas menstruais mais fortes, mas é passageiro. O procedimento é rápido, leva apenas alguns minutos, e pode ser feito com anestesia local para aliviar a dor.

    2. O DIU pode ser colocado após o parto?

    Sim, o DIU é seguro logo em seguida ao parto, seja normal ou cesariana. Ele pode ser inserido imediatamente, ainda no hospital, ou algumas semanas depois, no consultório. Vale lembrar que a amamentação e o desenvolvimento do bebê não são prejudicados pelo uso do DIU.

    3. Qual a diferença entre DIU hormonal e DIU de cobre?

    O DIU de cobre não contém hormônios, atua liberando íons de cobre que dificultam a sobrevivência dos espermatozoides e pode aumentar o fluxo menstrual e as cólicas no início.

    Já o DIU hormonal libera pequenas doses de levonorgestrel (um tipo de progesterona), que além de impedir a gravidez, costuma reduzir o fluxo e as cólicas menstruais.

    4. O DIU hormonal interfere na fertilidade depois da retirada?

    Não, a fertilidade retorna logo após a remoção. Muitas mulheres conseguem engravidar já nos primeiros meses depois de tirar o DIU.

    5. O DIU hormonal engorda?

    Não existem evidências científicas de que o DIU hormonal cause ganho de peso. O que pode acontecer, principalmente nos primeiros meses de uso, é uma leve retenção de líquidos ou sensação de inchaço, que tende a ser temporária e melhora com o tempo.

    Além disso, vale destacar que variações de peso ao longo da vida podem estar relacionadas a vários fatores, como alimentação, estresse, alterações hormonais naturais e rotina de atividade física, e não necessariamente ao uso do DIU.

    6. O DIU hormonal causa acne?

    Algumas mulheres podem notar o surgimento de acne leve ou aumento da oleosidade da pele após a colocação do DIU hormonal. Isso acontece porque o hormônio liberado pelo dispositivo, o levonorgestrel, tem um efeito levemente androgênico, ou seja, pode estimular receptores semelhantes aos dos hormônios masculinos.

    No entanto, o efeito não acontece com todas as pessoas e, quando surge, costuma ser discreto e controlável — e um acompanhamento dermatológico simples costuma resolver, sem necessidade de retirar o DIU.

    7. Posso engravidar usando DIU?

    A taxa de falha é menor que 1% ao ano, ou seja, menos de 1 em cada 100 mulheres engravida enquanto utiliza o dispositivo. Apesar disso, nenhum método contraceptivo é 100% infalível e, em situações raras, pode ocorrer gravidez mesmo com o DIU no lugar.

    Por isso, se houver sintomas de gravidez, como atraso menstrual, náuseas ou alterações típicas de gestação, é importante procurar o médico imediatamente para avaliação.

    Leia mais: DIU de cobre: o que é, como funciona e efeitos colaterais

  • Dor abdominal: quais podem ser as causas desse sintoma tão frequente? 

    Dor abdominal: quais podem ser as causas desse sintoma tão frequente? 

    Quase todo mundo já sentiu um desconforto na barriga em algum momento da vida. A dor abdominal, uma das queixas mais comuns nos consultórios e prontos-socorros, pode surgir por motivos simples, como uma refeição pesada ou gases, mas também pode indicar problemas que exigem atenção médica imediata.

    A diferença entre uma dor passageira e uma situação grave está nos detalhes: intensidade, duração e sintomas associados. Por envolver diversos órgãos do corpo, o abdome é uma região onde muitas doenças diferentes podem se manifestar. Entender como ela aparece, o que a agrava e quando procurar ajuda é essencial para garantir um diagnóstico rápido e evitar complicações.

    O que é dor abdominal

    A dor abdominal é uma das queixas mais comuns em consultórios e prontos-socorros. Quase todo mundo já sentiu um desconforto na barriga em algum momento da vida, mas a intensidade, a duração e os sintomas associados podem mudar completamente o significado dessa dor.

    Ela pode ter causas simples, mas também pode indicar problemas que exigem atenção médica.

    O abdome é formado por um revestimento chamado peritônio, onde a dor pode se manifestar, e abriga diversos órgãos importantes, como estômago, fígado, vesícula biliar, intestinos, pâncreas, baço, rins e bexiga. Estruturas de outros sistemas, como útero e ovários, também podem causar dor nessa região.

    Tipos de dor abdominal

    Dor aguda

    Surge de forma súbita e dura menos de 7 dias. É responsável por até 10% das visitas aos prontos-socorros. Em geral, aparece rapidamente, pode ser intensa e, muitas vezes, vem acompanhada de náuseas, vômitos, febre ou alterações urinárias e intestinais.

    Pode estar relacionada a condições como:

    • Gastroenterite;
    • Cálculos na vesícula ou nos rins;
    • Apendicite;
    • Pancreatite aguda;
    • Diverticulite;
    • Aneurisma dissecante de aorta;
    • Gestação ectópica rota.

    Dor crônica

    É aquela que persiste por semanas ou meses, podendo ser contínua ou intermitente. Pode piorar após refeições, em momentos de estresse ou quando há doenças associadas.

    Costuma estar ligada a:

    • Gastrite;
    • Pancreatite crônica;
    • Síndrome do intestino irritável;
    • Doenças inflamatórias intestinais;
    • Isquemia mesentérica crônica.

    Como é avaliada a dor abdominal

    Para chegar ao diagnóstico, o médico precisa entender bem as características da dor, que fornecem pistas importantes sobre sua origem.

    Entre os aspectos observados estão:

    • Localização: onde começou e se houve mudança de lugar.
    • Tipo: se é cólica, queimação, pressão, dor difusa ou pontual.
    • Irradiação: se a dor se espalha para costas, ombros ou outras áreas.
    • Evolução: se começou de repente ou foi aumentando gradualmente.
    • Fatores de melhora ou piora: relação com alimentação, evacuação, posição ou uso de medicamentos.
    • Episódios anteriores: se já houve dores semelhantes no passado.
    • Histórico familiar: presença de doenças abdominais em familiares próximos.

    Sintomas que podem acompanhar a dor

    Além da dor, outros sinais ajudam o médico a entender o que está acontecendo. Podem estar presentes:

    • Náuseas e vômitos;
    • Febre;
    • Alteração do hábito intestinal (diarreia, prisão de ventre ou sangue nas fezes);
    • Sangue na urina ou dor ao urinar;
    • Perda de apetite ou emagrecimento;
    • Distensão abdominal ou excesso de gases.

    É importante lembrar que nem sempre a origem está no abdome em si. Problemas respiratórios, urinários, ginecológicos ou até condições metabólicas, como cetoacidose diabética, podem causar dor abdominal.

    Veja mais: Pedra nos rins (cálculo renal): quando os sintomas preocupam e como se prevenir

    Como o médico avalia

    O primeiro passo é uma boa história clínica, com descrição detalhada da dor e dos sintomas. Depois, o médico faz um exame físico completo, que não se limita ao abdome.

    Durante o exame abdominal, o médico observa:

    • Aspecto do abdome: presença de cicatrizes, distensão ou hérnias;
    • Ausculta: ruídos intestinais (presentes ou ausentes);
    • Palpação: pontos de sensibilidade, massas ou sinais de inflamação;
    • Manobras específicas: utilizadas em casos suspeitos de doenças características.

    Após essa etapa, podem ser solicitados exames complementares, como:

    • Exames laboratoriais: hemograma e testes de função hepática, pancreática ou renal, conforme a hipótese;
    • Exames de imagem: ultrassonografia, tomografia computadorizada ou, em casos específicos, a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE). Esses exames ajudam a identificar as causas da dor e orientar o tratamento.

    Leia também: Adenomiose: o que é, sintomas, causas e tratamento

    Sinais de alerta

    Nem toda dor abdominal é grave, mas alguns sinais exigem atendimento médico imediato:

    • Febre ou vômitos persistentes;
    • Sangue nas fezes ou urina;
    • Perda de peso inexplicada;
    • Queda de pressão ou desmaios;
    • Dor recorrente que atrapalha as atividades do dia a dia.

    A dor abdominal pode variar de algo simples e passageiro a situações graves que exigem tratamento cirúrgico. Por isso, é essencial observar os sinais, entender as diferenças entre dor aguda e crônica, e buscar atendimento médico sempre que necessário.

    Perguntas frequentes sobre dor abdominal (FAQ)

    1. Toda dor abdominal precisa de atendimento médico?

    Nem sempre. Dores leves e passageiras costumam ser benignas, mas sintomas persistentes ou intensos devem ser avaliados por um médico.

    2. O que diferencia a dor abdominal aguda da crônica?

    A dor aguda surge de forma súbita e dura poucos dias; já a crônica pode persistir por semanas ou meses.

    3. A dor abdominal pode ser sinal de problema no coração?

    Sim. Embora incomum, infarto, aneurisma de aorta e problemas respiratórios podem se manifestar com dor na região abdominal.

    4. Quais exames ajudam a descobrir a causa da dor?

    Dependendo do caso, o médico pode solicitar ultrassonografia, tomografia, exames laboratoriais ou outros específicos.

    5. Dor abdominal com febre é perigosa?

    Pode ser. A presença de febre, vômitos persistentes ou sangue nas fezes é um sinal de alerta e requer avaliação imediata.

    6. O que pode causar dor abdominal depois das refeições?

    Podem estar envolvidas condições como gastrite, refluxo, problemas na vesícula biliar ou intolerâncias alimentares.

    7. Como prevenir dores abdominais recorrentes?

    Manter alimentação equilibrada, hidratação adequada, evitar excessos de álcool e gordura e controlar o estresse são medidas que ajudam a prevenir alguns tipos de dores abdominais.

    Confira: Infecção urinária: sintomas, causas e tratamento

  • Hanseníase: o que é, sintomas, transmissão e tratamento

    Hanseníase: o que é, sintomas, transmissão e tratamento

    Com sintomas que acometem principalmente a pele e os nervos periféricos, a hanseníase é uma doença infecciosa e crônica que afeta cerca de 30 mil brasileiros por ano, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

    Apesar do histórico de preconceito e estigmas, a hanseníase é uma doença curável, cujo tratamento está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Quando iniciado logo nos primeiros sintomas, ele interrompe a transmissão e evita sequelas permanentes — de modo que a pessoa pode levar uma vida normal, trabalhar, estudar e manter suas relações sociais plenamente.

    Para entender os principais detalhes sobre a doença, conversamos com a médica de família e comunidade, Lilian Ramaldes. Confira, a seguir.

    O que é hanseníase?

    A hanseníase é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, também chamada de bacilo de Hansen. O microrganismo atinge principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo causar alterações na sensibilidade, na força muscular e, em casos avançados, deformidades físicas.

    Ela é uma condição de evolução lenta, com um período de incubação que pode variar de dois a sete anos — em alguns casos, ultrapassando uma década. Por isso, o diagnóstico pode ser tardio, especialmente quando os sintomas iniciais são sutis e confundidos com outras condições dermatológicas e neurológicas.

    Aliás, a hanseníase não afeta apenas a pele: o comprometimento dos nervos pode provocar dormência, formigamento, perda de sensibilidade ao calor, ao toque ou à dor, o que aumenta o risco de ferimentos e infecções secundárias.

    Atenção ao nome

    Apesar de ter sido conhecida historicamente como “lepra”, termo que carregou forte conotação discriminatória ao longo dos séculos, o nome oficial adotado no Brasil é hanseníase, em referência ao médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, que descobriu o agente causador da doença em 1873.

    O que causa a hanseníase?

    O agente responsável pela hanseníase é o Mycobacterium leprae, uma bactéria de crescimento lento e que tem predileção por áreas do corpo mais frias, como mãos, pés, orelhas, nariz e rosto. A infecção ocorre quando o bacilo penetra no organismo e se instala na pele ou nos nervos periféricos.

    Vale apontar que qualquer pessoa pode entrar em contato com a bactéria, mas nem todo mundo adoece, uma vez que o desenvolvimento da hanseníase depende da resposta imunológica individual.

    Apenas uma parte das pessoas expostas desenvolve a infecção, e o risco aumenta diante de fatores genéticos, condições de vida precárias, desnutrição e baixa imunidade.

    Tipos de hanseníase

    A hanseníase é classificada de acordo com a forma como o sistema imunológico reage à infecção pelo Mycobacterium leprae:

    • Hanseníase paucibacilar (PB): é a forma inicial e mais leve da doença, em que o paciente apresenta até cinco lesões de pele, normalmente com diminuição da sensibilidade no local, e os exames baciloscópicos são negativos (ou seja, há poucos ou nenhum bacilo visível). O organismo consegue controlar parcialmente a infecção;
    • Hanseníase multibacilar (MB): é a forma mais avançada e contagiosa, caracterizada por mais de cinco lesões na pele, comprometimento de nervos periféricos e exames baciloscópicos positivos (com grande quantidade de bacilos). As lesões tendem a ser mais extensas, simétricas e podem causar deformidades se não tratadas precocemente.

    Como ocorre a transmissão da hanseníase?

    A transmissão da hanseníase acontece por meio das vias aéreas superiores, quando uma pessoa doente, na forma contagiante da doença e ainda sem tratamento, elimina o bacilo ao tossir, espirrar ou falar.

    Contudo, Lilian esclarece que não é fácil pegar hanseníase: é necessário contato próximo e prolongado com uma pessoa não tratada, normalmente dentro do mesmo domicílio.

    Assim, familiares e conviventes diretos de pacientes com hanseníase multibacilar (forma em que há grande quantidade de bacilos) são considerados o principal grupo de risco.

    Já os pacientes com forma paucibacilar, que apresentam poucos bacilos, não representam risco de transmissão significativa. A partir do início do tratamento, o paciente deixa de transmitir a doença, tornando-se não contagiante.

    O M. leprae sobrevive pouco tempo fora do corpo humano, e não há evidências de transmissão por insetos, água, solo ou objetos. Além disso, a doença também não é transmitida por toque, abraço, aperto de mão, nem por compartilhamento de roupas, pratos ou talheres. Logo, não há risco no convívio social, escolar ou profissional com alguém que já esteja em tratamento.

    Sintomas de hanseníase

    Os sintomas da hanseníase variam de acordo com a forma clínica e a resposta imunológica de cada pessoa, mas alguns sinais são comuns e devem ser observados com atenção, como aponta o Ministério da Saúde:

    • Manchas na pele (brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas), com alteração da sensibilidade ao calor, ao frio, à dor ou ao tato;
    • Áreas com diminuição de pelos e suor, especialmente nas regiões das manchas;
    • Formigamento, dormência ou fisgadas em mãos, pés, orelhas e rosto;
    • Diminuição ou ausência de força muscular, dificultando segurar objetos ou caminhar;
    • Nódulos ou caroços avermelhados e dolorosos;
    • Espessamento de nervos periféricos, perceptível ao toque;
    • Ferimentos ou queimaduras sem dor, devido à perda de sensibilidade.

    Os sintomas normalmente aparecem de forma lenta e progressiva. De acordo com Lilian, a falta de sensibilidade é um sinal de alerta: “a pele pode ter uma aparência simples, mas perde a capacidade de sentir calor, frio ou dor”, complementa a médica.

    Como é feito o diagnóstico?

    O diagnóstico da hanseníase é clínico e deve ser feito por um dermatologista. Durante o exame físico, ele realiza uma avaliação completa, examinando cuidadosamente a pele e testando a sensibilidade térmica, tátil e dolorosa nas áreas suspeitas de lesão.

    Além disso, o profissional também verifica o espessamento dos nervos periféricos e possíveis sinais de comprometimento motor. Quando há dúvida, podem ser solicitados exames complementares, como:

    • Baciloscopia: análise de amostras da pele para detectar a presença do bacilo;
    • Histopatologia: biópsia de pele ou nervo para avaliar alterações características;
    • Exames eletrofisiológicos: indicados para investigar o comprometimento neural.

    O diagnóstico em crianças requer uma atenção especial, pois os sintomas podem ser sutis e difíceis de interpretar. A identificação de casos infantis costuma indicar transmissão ativa dentro do ambiente familiar — o que reforça a importância da investigação dos contatos.

    Como é feito o tratamento da hanseníase?

    O tratamento da hanseníase é gratuito e está disponível em todas as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é feito com um conjunto de medicamentos conhecido como Poliquimioterapia Única (PQT-U), que combina rifampicina, dapsona e clofazimina.

    O tratamento varia de acordo com o tipo de hanseníase, de modo que a hanseníase paucibacilar normalmente tem duração de 6 meses de tratamento, enquanto a multibacilar dura cerca de 12 meses.

    As doses são administradas mensalmente sob supervisão de um profissional de saúde, e as demais tomadas são realizadas em casa. Com o início do tratamento, a pessoa deixa de transmitir a doença imediatamente, podendo levar vida normal — trabalhar, estudar e conviver socialmente sem nenhuma restrição.

    Durante o acompanhamento, o profissional de saúde também orienta sobre cuidados com a pele, prevenção de ferimentos e exercícios simples que ajudam a preservar a força muscular e a sensibilidade.

    Hanseníase tem cura?

    Sim, a hanseníase tem cura. Segundo Lilian, com o início do tratamento, a pessoa deixa de transmitir a doença imediatamente — e é possível evitar sequelas irreversíveis nos nervos e deformidades físicas.

    Após a cura, o paciente pode levar uma vida normal, mas é importante manter o acompanhamento para prevenir complicações, especialmente nas pessoas que já apresentaram algum grau de comprometimento neural.

    Complicações da hanseníase

    Quando não tratada precocemente, a hanseníase pode evoluir para complicações graves. As principais estão relacionadas ao dano neural e às reações imunológicas inflamatórias:

    • Complicações diretas: ocorrem devido à presença do bacilo em grandes quantidades, especialmente em pacientes multibacilares, resultando em lesões extensas na pele e em outros tecidos;
    • Complicações neurais: surgem da lesão dos nervos periféricos, levando à perda de sensibilidade, deformidades nas mãos e nos pés e limitação funcional;
    • Complicações reacionais: são respostas inflamatórias do sistema imunológico, que podem provocar dor, inchaço e vermelhidão, geralmente durante o tratamento.

    As alterações, quando não tratadas, podem comprometer atividades básicas da vida diária e impactar o bem-estar emocional e social.

    É possível prevenir a hanseníase?

    Sim, é possível prevenir a hanseníase por meio do diagnóstico precoce e do tratamento imediato das pessoas infectadas, o que ajuda a interromper a cadeia de transmissão.

    Além disso, a vacinação com a BCG em contatos próximos e a busca por atendimento médico ao notar manchas na pele com perda de sensibilidade são medidas fundamentais para evitar novos casos e controlar a disseminação da doença.

    Estigma e preconceito

    Por muitos anos, a hanseníase foi cercada por medo e exclusão. Pacientes eram submetidos ao isolamento compulsório, afastados da família, do trabalho e da vida em comunidade.

    Apesar de a ciência já ter provado que a hanseníase tem cura, não é transmitida por contato simples e o tratamento é gratuito e eficaz, o estigma e o preconceito ainda provocam sofrimento, vergonha e, consequentemente, atraso no diagnóstico, afastando as pessoas do convívio social, da escola e do emprego.

    É fundamental compreender que, durante o tratamento, a pessoa com hanseníase não transmite mais o bacilo e pode levar uma vida completamente normal — trabalhar, estudar, conviver socialmente e manter seus relacionamentos sem qualquer restrição.

    Em qualquer situação, o foco deve estar no acolhimento, na informação e no respeito, jamais em atitudes discriminatórias que violem direitos do outro.

    O Brasil é uma referência mundial no controle da hanseníase e possui legislação que proíbe linguagem discriminatória contra pessoas que possuem hanseníase. Casos de preconceito podem ser denunciados à ouvidoria do SUS ou pelo Disque Saúde 136.

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    Perguntas frequentes sobre hanseníase

    1. Quanto tempo demora para a hanseníase aparecer depois da infecção?

    O período entre o contato com o bacilo e o aparecimento dos primeiros sintomas é longo. Na maioria dos casos, a hanseníase leva de dois a sete anos para se manifestar, mas há registros de períodos mais curtos (menos de dois anos) e mais longos (acima de dez).

    A variação depende da resposta do sistema imunológico de cada pessoa e da carga de bacilos a que foi exposta. Como o Mycobacterium leprae se multiplica muito lentamente, a doença pode permanecer silenciosa por vários anos antes de causar manchas ou alterações de sensibilidade.

    Assim, a vigilância constante e o exame de contatos próximos de pessoas doentes são medidas fundamentais para o diagnóstico precoce.

    2. Como saber se a mancha na pele é hanseníase ou outro problema?

    A principal diferença para ficar atento é a alteração de sensibilidade, pois nas áreas afetadas pela hanseníase, a pessoa não sente calor, dor ou toque. Além disso, as manchas geralmente têm bordas nítidas, podem ser esbranquiçadas, avermelhadas ou acastanhadas e não coçam.

    Já alergias, micoses e outras doenças de pele costumam causar coceira, descamação e incômodo, o que não ocorre nas lesões hansênicas.

    O ideal é procurar uma unidade de saúde para avaliação clínica. O exame é rápido, indolor e fundamental para confirmar ou descartar o diagnóstico.

    3. Uma pessoa com hanseníase precisa se afastar do trabalho ou da escola?

    Não, quem está em tratamento pode continuar suas atividades normalmente. Logo após a primeira dose dos medicamentos, a pessoa deixa de transmitir a doença e não há risco para colegas, professores, amigos ou familiares.

    O afastamento só é indicado quando há complicações físicas que impeçam o desempenho das atividades, e mesmo nesses casos o suporte médico e social busca manter a inclusão e o retorno rápido à rotina. A hanseníase (e nenhuma outra condição de saúde) não deve ser motivo de exclusão, pois é tratável e não se transmite por contato cotidiano.

    4. A hanseníase pode voltar depois da cura?

    Quando o tratamento é realizado corretamente, a hanseníase não volta. O que pode acontecer em alguns casos são reações hansênicas, que são respostas do sistema imunológico aos restos do bacilo morto. Elas não indicam retorno da doença, mas sim uma inflamação passageira.

    As reações podem ocorrer durante o tratamento ou até meses depois da alta e precisam ser acompanhadas por profissionais de saúde, pois podem causar dor, febre, vermelhidão e nódulos dolorosos. O controle é simples e não há necessidade de reiniciar o esquema de poliquimioterapia.

    5. Como cuidar da pele durante o tratamento da hanseníase?

    Durante o tratamento, a pele pode ficar mais seca e sensível, então é importante aplicar cremes ou óleos neutros logo após o banho, quando a pele ainda está úmida, para ajudar a reter a umidade.

    É recomendável evitar produtos com álcool, perfumes fortes ou corantes, que podem irritar a pele. Banhos muito quentes também devem ser evitados, pois ressecam ainda mais. Nas áreas com perda de sensibilidade, deve-se observar atentamente se há ferimentos, bolhas ou queimaduras, já que a pessoa pode se machucar sem perceber.

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  • Teste da orelhinha: para que serve e como é feito

    Teste da orelhinha: para que serve e como é feito

    Com a chegada de um recém-nascido, há uma série de exames que devem ser realizados nos primeiros dias de vida para garantir que o bebê esteja saudável. Um deles é o teste da orelhinha, também conhecido como triagem auditiva neonatal (TAN), que ajuda a identificar precocemente possíveis alterações na audição.

    Segundo a Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, cerca de 1 em cada 1.000 crianças já nasce com surdez ou com algum grau severo de perda auditiva, caracterizada como congênita. O número pode ser ainda maior em crianças prematuras ou que apresentaram complicações durante a gestação ou o parto.

    Com a orientação de um especialista, reunimos as principais informações sobre o exame e como ele é feito, além de outros testes obrigatórios para recém-nascidos no Brasil.

    Para que serve o teste da orelhinha?

    O teste da orelhinha serve para verificar se o bebê apresenta algum grau de perda auditiva já nos primeiros dias de vida, o que permite identificar possíveis alterações de forma precoce.

    Quando isso acontece, os profissionais de saúde podem iniciar o acompanhamento e, se necessário, o tratamento ainda nos primeiros meses, fase em que o desenvolvimento da audição e da fala é mais intenso.

    Quando a deficiência auditiva não é diagnosticada logo cedo, a criança pode apresentar atrasos no desenvolvimento da fala, dificuldades de aprendizagem e até impacto na vida social e emocional.

    Afinal, o bebê começa a ouvir ainda na barriga da mãe, por volta do quinto mês de gestação. Desde cedo, os sons ajudam no seu desenvolvimento, especialmente na construção da linguagem.

    Quando existe alguma perda auditiva, mesmo que pequena, o bebê deixa de receber estímulos sonoros importantes — o que pode atrapalhar o aprendizado da fala e da comunicação.

    Como é feito o teste da orelhinha?

    O teste da orelhinha é feito por profissionais capacitados, geralmente fonoaudiólogos, ainda na maternidade. De acordo com o otorrinolaringologista Giuliano Bongiovanni, é um exame indolor, rápido, a criança mal percebe que está sendo feito e não depende da colaboração dela.

    No teste, uma pequena sonda, que parece um fone de ouvido macio, é colocada delicadamente na entrada do canal auditivo do recém-nascido — e é conectada a um aparelho que emite sons de baixa intensidade.

    O aparelho emite sons suaves e a sonda capta a resposta do ouvido interno do bebê (a cóclea). O ouvido de uma criança com audição normal, ao receber esses sons, produz um eco que o aparelho consegue registrar. Se a resposta for captada pelo aparelho, indica que a audição do pequeno está funcionando bem.

    E quando o teste apresenta alteração?

    Quando o teste aponta alguma alteração, Giuliano aponta que pode ser necessário a realização do Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE), também conhecido como BERA, um exame complementar que verifica como o nervo auditivo e o cérebro respondem a estímulos sonoros, fornecendo dados mais precisos sobre o tipo e o grau da perda.

    Nessa etapa, também é feita a diferenciação entre crianças de baixo e alto risco. Nos bebês de baixo risco, em geral, Giuliano explica que as emissões otoacústicas (teste da orelhinha) já são suficientes.

    Já em crianças consideradas de alto risco (como as que tiveram complicações perinatais ou precisaram de internação em UTI), o BERA deve ser realizado desde o início, independentemente do resultado da triagem inicial.

    Uma vez identificado o tipo e o grau da perda, a criança é direcionada para um programa de intervenção precoce. O acompanhamento inclui a orientação da família, a adaptação ao uso de aparelhos auditivos ou implante coclear, quando indicado, e o início da terapia fonoaudiológica.

    Confira: Janela imunológica: como prevenir alergia alimentar em bebês

    Quando fazer o teste da orelhinha?

    O ideal é que o teste da orelhinha seja feito ainda na maternidade, antes da alta hospitalar. Isso costuma acontecer entre as primeiras 24 e 48 horas de vida.

    Se por algum motivo o bebê não fizer o teste ainda na maternidade, os pais ou responsáveis podem e devem procurar um serviço de saúde do SUS ou clínica especializada para realizar o exame gratuitamente até os 30 primeiros dias de vida.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria reforçam o protocolo conhecido como 1-3-6:

    1. 1 mês: o teste inicial de audição deve ser feito preferencialmente nas primeiras 24 a 48 horas de vida do bebê, ainda na maternidade, ou no máximo até o 1º mês de vida. Isso ajuda a identificar rapidamente se há alguma alteração auditiva;
    2. 3 meses: se houver alteração, um diagnóstico completo e aprofundado deve ser realizado por um fonoaudiólogo até os 3 meses de vida;
    3. 6 meses: se a perda auditiva for confirmada, o processo de intervenção, que pode incluir o uso de aparelhos auditivos ou implante coclear, deve ser iniciado o quanto antes, idealmente até os 6 meses de vida.

    O protocolo garante que, mesmo em casos de perda auditiva, a criança tenha tempo de iniciar a intervenção precoce e desenvolver fala e linguagem sem grandes prejuízos.

    É um teste obrigatório?

    Sim, a triagem auditiva neonatal é considerada um exame obrigatório em todo o Brasil, garantido por lei e pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, todos os hospitais e maternidades devem oferecer gratuitamente o exame a todos os recém-nascidos antes da alta hospitalar.

    Perguntas frequentes sobre teste da orelhinha

    1. O que os pais devem fazer se a maternidade não oferecer os testes?

    Se algum dos exames obrigatórios não for realizado na maternidade, os pais devem procurar imediatamente uma unidade de saúde do SUS para agendar.

    O sistema público garante todos esses testes de forma gratuita, e é um direito da criança recebê-los. Caso haja negativa do hospital, os responsáveis podem exigir a realização com base na legislação vigente.

    2. O bebê precisa de algum preparo para fazer os testes obrigatórios?

    Não, nenhum dos testes neonatais exige preparo especial. O bebê pode estar mamando, dormindo ou até mesmo chorando durante a realização. Para o teste do pezinho, a recomendação é apenas que ele seja feito entre o 3º e o 5º dia de vida, porque nesse período as doenças rastreadas ficam mais fáceis de identificar.

    3. O teste da orelhinha dói?

    Não, o exame é completamente indolor, não exige picadas, agulhas ou cortes. O bebê pode até estar dormindo durante o procedimento, que dura em torno de 5 a 10 minutos.

    4. Qual o valor do teste da orelhinha?

    O teste da orelhinha é gratuito em todo o Brasil porque é garantido por lei desde 2010. Todos os hospitais e maternidades, sejam públicos ou privados, devem realizar o exame sem custo para a família.

    5. O teste da orelhinha pode ser feito em crianças maiores?

    Sim, mas nesse caso já não é considerado triagem neonatal e pode exigir outros exames auditivos complementares. O recomendado é que todos os bebês façam até o primeiro mês de vida. Depois disso, existem outros métodos de avaliação da audição infantil, indicados pelo pediatra ou pelo otorrino.

    6. O que é o exame PEATE e quando ele é indicado?

    O Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) é um exame complementar usado quando o teste da orelhinha apresenta alteração ou quando o bebê tem fatores de risco. Ele avalia como o nervo auditivo e o cérebro respondem aos estímulos sonoros, oferecendo informações mais detalhadas sobre o grau e o tipo de perda auditiva. É seguro, indolor e pode ser feito em bebês pequenos.

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