Marcapasso: para que serve, como funciona e como é colocado

idosa sendo examinada por um profissional de saúde que utiliza um estetoscópio para ouvir os batimentos do coração, em consulta de avaliação cardíaca para colocação de marcapasso.

Indicado para pessoas com batimentos cardíacos lentos, irregulares ou que chegam a pausar por alguns segundos, o marcapasso é um pequeno dispositivo eletrônico implantado sob a pele do tórax. Ele monitora continuamente a atividade elétrica do coração e, quando detecta uma falha no ritmo, emite impulsos elétricos para estimular a contração cardíaca.

Dependendo da causa do problema, o marcapasso pode ser temporário ou permanente. Por exemplo, quando a alteração no ritmo é passageira (como após uma cirurgia ou uso de certos medicamentos) o dispositivo é utilizado por um período limitado, apenas até que o coração recupere sua função normal.

Em situações em que há falhas permanentes na condução elétrica, por outro lado, o marcapasso é implantado de forma definitiva para garantir que o coração mantenha batimentos regulares ao longo da vida. A indicação, em todos os casos, deve ser feita pelo cardiologista considerando as necessidades do paciente.

Para esclarecer as dúvidas sobre como o marcapasso funciona na prática, como é feita a cirurgia e quais cuidados o paciente deve ter após o implante, conversamos com o cardiologista e arritmologista Rodrigo Caligaris Cagi. Confira, a seguir!

Para que serve o marcapasso?

O marcapasso serve para regular o ritmo dos batimentos cardíacos, emitindo impulsos elétricos sempre que o coração bate devagar demais ou falha em gerar seus próprios estímulos. De maneira geral, ele substitui ou complementa o sistema elétrico natural do coração.

O objetivo é restabelecer o ritmo cardíaco normal, garantindo que o sangue circule adequadamente e que o corpo receba oxigênio suficiente. Em alguns casos, o marcapasso também ajuda a sincronizar as contrações das diferentes câmaras do coração — algo fundamental em pacientes com insuficiência cardíaca e batimentos descoordenados.

Alguns tipos de marcapassos modernos também conseguem detectar o esforço físico e ajustar o ritmo automaticamente. Isso significa que, se você subir uma escada, por exemplo, o marcapasso acelera um pouco o coração, como faria naturalmente.

Quando é indicado?

A indicação depende da causa da arritmia e da gravidade dos sintomas. De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, recomenda-se o marcapasso definitivo quando:

  • A frequência cardíaca cai abaixo de 40 batimentos por minuto e há sintomas como tontura, fadiga ou desmaios;
  • Há bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo II ou de terceiro grau, mesmo sem sintomas, pelo risco de morte súbita;
  • O paciente apresenta desmaios (síncope) recorrentes associados a distúrbios do nó sinusal ou bloqueios de condução;
  • Após infarto, quando o bloqueio de condução é persistente e causa risco de parada cardíaca.

Tipos de marcapasso

Os marcapassos podem variar de acordo com a função, complexidade e o número de câmaras cardíacas estimuladas. Segundo Rodrigo, o termo é amplo e pode se referir a três grupos principais:

Marcapasso convencional

É o modelo mais utilizado e indicado para pacientes com disfunção do sistema de condução, com frequência cardíaca mais baixa (bradicardias importantes, bloqueios no coração) e que não podem ser tratados com remédios.

Ele possui um pequeno gerador (bateria e circuito eletrônico) e um ou mais eletrodos que conduzem os impulsos elétricos até o coração.

No geral, existem dois tipos principais:

  • Unicameral: estimula apenas uma câmara do coração — o átrio ou o ventrículo. É usado quando o problema está restrito a uma parte do sistema de condução;
  • Bicameral: estimula e monitora tanto o átrio quanto o ventrículo, coordenando o batimento entre eles e imitando mais de perto a fisiologia natural do coração.

Os marcapassos modernos podem ter modulação de frequência, ajustando automaticamente o ritmo dos impulsos conforme o esforço físico do paciente.

Ressincronizadores cardíacos

O marcapasso ressincronizador (terapia de ressincronização cardíaca – TRC) é indicado para pacientes com insuficiência cardíaca que apresentam batimentos descoordenados entre os ventrículos. Ele emite estímulos simultâneos nas duas câmaras inferiores, promovendo sincronia e melhorando a eficiência do bombeamento de sangue, com melhora de falta de ar, cansaço e menor risco de internações.

Cardiodesfibriladores implantáveis (CDI)

Os cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) são dispositivos semelhantes ao marcapasso, porém com função adicional de tratar arritmias graves (taquicardias ventriculares e fibrilação ventricular) por meio de choques elétricos quando necessário.

Existem versões combinadas, como o ressincronizador com desfibrilador (TRC-D), indicadas para insuficiência cardíaca com dessincronia e alto risco de arritmias fatais. O CDI funciona como um “backup”: detecta a arritmia e aplica o choque para manter o coração batendo até o atendimento médico, mas não trata a causa de base.

Como se preparar para a cirurgia de implantação?

Antes da cirurgia, o paciente passa por avaliação cardiológica (eletrocardiograma, ecocardiograma, exames de sangue). Entre as recomendações, estão:

  • Jejum de 4 a 6 horas antes da cirurgia;
  • Informar todos os medicamentos, vitaminas e suplementos em uso (principalmente anticoagulantes e antitrombóticos);
  • Informar alergias e outras condições de saúde;
  • Retirar acessórios metálicos e objetos pessoais;
  • Evitar fumar ou consumir álcool antes do procedimento;
  • Levar documentos, exames e um acompanhante.

O cardiologista também explica o funcionamento do aparelho, riscos e cuidados pós-operatórios.

Como é feita a cirurgia do marcapasso?

A implantação é simples e segura, geralmente levando 1 a 2 horas:

  • Pequena incisão abaixo da clavícula;
  • Introdução dos eletrodos por uma veia até o coração, guiada por imagem;
  • Conexão dos eletrodos ao gerador, que fica alojado sob a pele no tórax;
  • Teste e programação do sistema;
  • Fechamento da incisão com pontos e curativo.

Após o posicionamento dos cabos, o gerador (bateria e circuito) é inserido sob a pele, logo abaixo do músculo peitoral. O corte é fechado com pontos e coberto com curativo.

Recuperação da cirurgia

Em geral, alta no dia seguinte. Nos primeiros 30 dias, evitar esforços com o braço do lado do implante e manter repouso relativo. Consultas de acompanhamento verificam o funcionamento do dispositivo. Em geral, o paciente não sente o marcapasso funcionando; pode haver apenas leve desconforto local nos primeiros dias.

Coloquei um marcapasso, quais cuidados devo ter?

Nos primeiros 30 dias:

  • Evite levantar o braço do lado do implante acima da cabeça;
  • Mantenha o curativo limpo e seco (o médico dirá quando pode molhar);
  • Não dirija nas primeiras semanas;
  • Evite exercícios intensos ou carregar peso até liberação médica.

Depois, retome atividades normais, inclusive esportes leves. O acompanhamento costuma ser semestral, com leitura por telemetria para checar bateria e eletrodos.

Duração da bateria e troca do marcapasso

A bateria dura, em média, de 8 a 10 anos (alguns modelos chegam a 12–13 anos). Quando a bateria está no fim, o aparelho sinaliza nas consultas. A troca é simples: reabre-se a incisão, remove-se o gerador antigo e coloca-se um novo. Em alguns casos, os eletrodos também são trocados.

O que uma pessoa com marcapasso não pode fazer?

Quem tem marcapasso pode levar vida normal, mas com alguns cuidados:

  • Evite campos eletromagnéticos fortes (portais de segurança, detectores de metal);
  • Mantenha celulares e fones com ímã a pelo menos 15 cm do implante;
  • Ressonância magnética: somente se o dispositivo for compatível (MRI-safe) e em aparelhos até 1,5 Tesla;
  • Compatibilidade: preferir gerador e cabos da mesma marca para garantir funcionamento e possibilidades de exames futuros.

Quais as complicações?

Complicações são pouco frequentes, mais comuns logo após a cirurgia:

  • Infecção no local do implante;
  • Sangramento ou hematoma;
  • Deslocamento do eletrodo;
  • Reação alérgica ao material;
  • Irritação da pele;
  • Raros choques inadvertidos em CDI.

A maioria tem manejo simples, especialmente com seguimento adequado.

Leia mais: Holter 24h: como o exame ajuda a flagrar arritmias ocultas

Perguntas frequentes

1. O marcapasso exige acompanhamento para o resto da vida?

Sim. Consultas regulares (geralmente semestrais) verificam cabos, gerador, bateria e permitem ajustes pelo médico via telemetria, sem necessidade de cirurgia.

2. O marcapasso é visível sob a pele?

Depende do biotipo. Em pessoas magras, pode ficar levemente saliente sob a clavícula; em outras, é quase imperceptível. Com o tempo, os tecidos se adaptam.

3. Quem usa marcapasso pode infartar?

Sim. O marcapasso corrige o ritmo, mas o infarto é causado por obstrução das artérias coronárias — são problemas distintos.

4. Posso viajar de avião com marcapasso?

Sim, sem restrições. Leve o cartão de identificação do dispositivo e apresente-o nos controles de segurança para evitar detectores de metal convencionais.

5. Quais atividades são permitidas após o implante?

Após a recuperação, quase todas: correr, nadar, pedalar, viajar e praticar esportes leves. Respeite os limites do corpo e mantenha seguimento com o cardiologista.

6. O que acontece se o marcapasso parar de funcionar?

É raro falhar de forma súbita. As revisões identificam fim de bateria com antecedência. Se houver tontura, palpitações, desmaios ou fadiga súbita, procure seu médico ou pronto-socorro.

Confira: Arritmia cardíaca: quando os batimentos fora de ritmo merecem atenção