Criptorquidia: o que é, causas, fatores de risco e cirurgia

Bebê em consulta médica, sendo examinado pelo pediatra, avaliação importante para diagnóstico precoce de criptorquidia. 

Comum em bebês, especialmente os que nascem prematuros, a criptorquidia é uma condição em que um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal. Ela pode se resolver espontaneamente, ocorrendo a decida testicular até o 6º mês após o nascimento. Se a partir dessa data não se confirmar a decida testicular, há a indicação de tratamento cirúrgico.

“É uma das mais comuns alterações da genitália masculinas identificadas, acometendo cerca de 1 a 4% dos meninos nascidos de gestação a termo e até 40% dos meninos nascidos prematuros”, explica a urologista pediátrica Veridiana Andrioli.

Esclarecemos, a seguir, as principais dúvidas sobre a condição, como ela é identificada e as medidas de tratamento.

O que é criptorquidia?

A criptorquidia, também chamada de criptorquidismo, é uma condição em que um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal (saco onde deveriam estar) durante o desenvolvimento do bebê.

Normalmente, os testículos se formam dentro do abdômen e descem para a bolsa escrotal ainda na gestação. Quando isso não acontece, o menino nasce com o testículo “fora do lugar”, que pode estar na virilha, no abdômen ou em outra posição anormal.

É um problema relativamente comum em recém-nascidos — especialmente em prematuros, e precisa ser acompanhado de perto por um médico, pois pode afetar a fertilidade no futuro e aumentar o risco de câncer de testículo se não for tratado.

A criptorquidia pode afetar os dois testículos?

Sim, a criptorquidia pode afetar os dois testículos. O tipo mais comum é o unilateral, em que apenas um testículo não desce para a bolsa escrotal — e representa de 75% a 90% dos casos. Já a bilateral, quando os dois testículos ficam fora da bolsa, é menos frequente, mas pode acontecer em até 25% dos meninos diagnosticados.

Quais são as causas da criptorquidia?

Não existe uma única causa para a descida dos testículos, que pode ser influenciada por fatores hormonais, anatômicos e genéticos. A Sociedade Brasileira de Pediatria aponta alguns fatores:

  • Alterações anatômicas: como ausência de musculatura abdominal ou defeitos no canal inguinal;
  • Deficiência hormonal: falhas na produção ou resposta a hormônios que estimulam a descida do testículo;
  • Fatores genéticos: mutações ou síndromes específicas que afetam o desenvolvimento reprodutivo.

A criança pode desenvolver criptorquidia depois de nascer?

Sim, a condição também pode surgir após o nascimento. Nesse caso, é chamado de testículo ascendente, em que o testículo estava normalmente na bolsa escrotal, mas “sobe” com o crescimento da criança.

Ela acontece porque o cordão espermático não cresce na mesma proporção do corpo, puxando o testículo para cima ou mesmo por ficar limitado por uma cicatriz, como por exemplo uma hérnia corrigida precocemente.

Quais são os fatores de risco para a criptorquidia?

Algumas condições aumentam as chances de um bebê nascer com criptorquidia, como:

  • Histórico familiar de criptorquidismo;
  • Idade materna avançada;
  • Exposição a substâncias químicas na gravidez (como pesticidas, por exemplo);
  • Diabetes ou obesidade materna;
  • Apresentação pélvica no parto;
  • Síndromes genéticas e alterações cromossômicas;
  • Prematuridade ou baixo peso ao nascer;
  • Doenças hormonais;
  • Paralisia cerebral.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de criptorquidia é clínico, feito durante o exame físico, em que o pediatra ou urologista verifica a presença dos testículos na bolsa escrotal. Quando apenas um testículo não é palpável, pode ser sinal de que ele não desceu ou de que se atrofiou.

“Se a partir do 6º mês de vida após o nascimento (idade que deve ser corrigida para quem nasceu prematuro) o testículo não estiver localizado na bolsa, já está indicada a cirurgia”, conta a médica.

“No caso de testículos não palpáveis, realiza-se a cirurgia por videolaparoscopia, buscando uma localização inguinal alta ou mesmo intra abdominal desse testículo. Por vezes, há a identificação de um cordão testicular pouco desenvolvido, o que pode corresponder a um testículo que atrofiou ou não se formou durante a gestação”, diz.

Se nenhum dos dois testículos for palpável, a avaliação deve ser feita logo após o nascimento, para descartar alterações no desenvolvimento sexual. Se não houver problema hormonal ou genético, a laparoscopia também ajuda a localizar os testículos no abdômen e permite a correção cirúrgica.

De acordo com Veridiana, não há indicação de exames de imagem como ultrassonografia ou ressonância, já que eles não conseguem confirmar a posição do testículo nem mudam a conduta médica.

Quais são as opções de tratamento da criptorquidia?

O tratamento da criptorquidia geralmente é feito com uma cirurgia chamada orquidopexia, que reposiciona o testículo dentro da bolsa escrotal. O ideal é que ela seja realizada ainda no primeiro ano de vida, a partir do 6º mês de vida depois do nascimento para aumentar as chances de preservação da fertilidade e reduzir riscos futuros, como câncer de testículo.

Quando o testículo não é palpável, o médico pode usar a laparoscopia, uma técnica minimamente invasiva que ajuda a localizar e corrigir o problema.

O uso de hormônios (como hCG ou análogos de LHRH) foi uma prática do passado, mas a urologista pediátrica Veridiana Andrioli aponta que não é recomendado, pois apresenta baixa eficácia e não há comprovação de benefícios futuros para a fertilidade.

Com qual idade a cirurgia deve ser feita?

A cirurgia geralmente é indicada a partir do sexto mês, preferencialmente ainda no primeiro ano de vida, e não deve ser postergada além dos 18 meses. Quanto mais cedo for feita, maiores as chances de preservar a fertilidade e reduzir riscos futuros para a criança.

Quando procurar um urologista pediátrico?

Os pais devem procurar um urologista pediátrico sempre que houver dúvidas no exame físico, se o testículo não puder ser sentido ou se houver alterações no saco escrotal. Quando o bebê nasce sem o testículo na bolsa, a recomendação é marcar a consulta por volta dos 6 meses de idade para definir o tratamento.

Criptorquidia pode se resolver sozinha?

Sim! De acordo com Veridiana, em muitos casos, o testículo pode descer sozinho até o sexto mês de vida, considerando a idade corrigida em bebês prematuros. Se após esse período o testículo ainda não estiver na bolsa escrotal, a criança já tem indicação para avaliação cirúrgica.

Quais os riscos da criptorquidia se não for tratada?

  • Infertilidade futura, devido ao comprometimento da função testicular;
  • Aumento do risco de câncer de testículo (mesmo após a cirurgia, o risco continua maior do que na população em geral);
  • Maior chance de torção ou trauma testicular;
  • Associação com hérnia inguinal;
  • Impactos psicológicos e de imagem corporal na adolescência.

Confira: Fimose em crianças: quando é normal e quando a cirurgia é necessária

Perguntas frequentes sobre criptorquidia

1. A criptorquidia pode voltar depois do tratamento?

Em alguns casos, pode acontecer de o testículo “subir” novamente após a cirurgia ou mesmo após ter descido sozinho nos primeiros meses de vida — e isso é chamado de testículo ascendente.

Quando isso ocorre, a criança deve ser reavaliada pelo especialista, pois pode haver necessidade de uma nova cirurgia. Por isso, o acompanhamento médico ao longo da infância é tão importante, mesmo depois de a cirurgia já ter sido feita.

2. Após a cirurgia, é preciso acompanhamento a longo prazo?

Sim, o acompanhamento deve continuar mesmo após a correção. Durante a infância, o pediatra deve examinar regularmente os testículos e orientar os pais sobre sinais de alerta.

Na adolescência, o jovem deve aprender a fazer o autoexame testicular para perceber nódulos ou mudanças cedo. Também é importante manter as consultas de rotina com o médico, pois quem teve criptorquidia tem mais risco de problemas no futuro.

3. Crianças que tiveram criptorquidia têm mais risco de câncer de testículo?

Sim, mesmo após a correção cirúrgica, homens que tiveram criptorquidia apresentam um risco maior de desenvolver câncer de testículo em comparação à população geral.

No entanto, a cirurgia precoce reduz o risco e facilita a detecção de qualquer alteração, já que o testículo passa a estar em uma posição acessível para o autoexame. Por isso, o acompanhamento ao longo da vida é tão importante.

4. Qual a diferença entre criptorquidia e anorquia?

A criptorquidia é quando o testículo existe, mas não desceu para a bolsa escrotal. Já a anorquia é a ausência completa do testículo, ou seja, ele não chegou a se formar.

O diagnóstico é importante porque, no caso da anorquia, não há como reposicionar o testículo por cirurgia. Em algumas situações, pode ser necessária a colocação de uma prótese testicular para fins estéticos e psicológicos na adolescência ou vida adulta.

5. A criptorquidia pode causar dor?

Na maior parte do tempo, a criptorquidia não causa dor e o bebê não sente desconforto por ter o testículo fora da bolsa.

No entanto, a condição aumenta o risco de problemas dolorosos, como a torção testicular, quando o testículo se enrola no cordão espermático e causa dor forte, o que exige uma cirurgia imediata.

6. Quais médicos tratam a criptorquidia?

O diagnóstico inicial geralmente é feito pelo pediatra, que examina o bebê logo após o nascimento e durante as consultas de rotina. Caso haja suspeita de criptorquidia, a criança deve ser encaminhada ao urologista pediátrico ou ao cirurgião pediátrico, profissionais especializados no tratamento dessa condição.

Em alguns casos, também pode ser necessária a avaliação de um endocrinologista pediátrico, especialmente se houver suspeita de alterações hormonais associadas.

Leia também: Desfralde diurno: saiba a idade ideal para a criança controlar o xixi e quando procurar ajuda