Quantas vezes você já disse que quase morreu de susto? Em situações inesperadas, o coração acelera, as pernas ficam bambas e a respiração fica mais curta. A reação não é exagero do corpo, mas uma resposta fisiológica diante de uma possível ameaça.
Em alguns casos, ela pode ser tão intensa que realmente achamos que vamos morrer. Mas afinal, será que isso é possível? Vamos entender a seguir!
Mas o que é um susto e para que ele serve?
Um susto é uma resposta imediata do organismo diante de algo que o cérebro interpreta como ameaça ou perigo repentino — o que pode ser um barulho, uma imagem inesperada, alguém que surge do nada ou até uma situação que ativa memórias de risco.
Quando isso acontece, a cardiologista Juliana Soares explica que o corpo ativa uma reação automática, chamada de resposta de luta ou fuga, liberando hormônios como adrenalina e noradrenalina. Eles promovem um redirecionamento do sangue no corpo, direcionando-o para órgãos como os músculos, o coração e o cérebro, justamente para preparar o organismo para correr ou lutar.
Por isso, em milésimos de segundo, o coração acelera, a pressão arterial pode subir e a respiração muda (daí a expressão “meu coração quase saiu pela boca”). Tudo isso acontece de maneira automática, sem que a pessoa tenha tempo para pensar ou racionalizar o que está acontecendo.
Basicamente, é o organismo tentando garantir que você tenha energia e capacidade imediata para reagir ao que o cérebro entende como perigo.
Por que o coração acelera durante o susto?
O coração acelera durante o susto porque o corpo precisa reagir de forma muito rápida. Quando o cérebro identifica um risco, ele libera adrenalina e noradrenalina, que aumentam a frequência dos batimentos e a força de contração do coração para levar mais sangue, oxigênio e energia para órgãos como músculos, cérebro e pulmões.
Com isso, o organismo fica preparado para correr, se defender, reagir ou tomar uma atitude imediata. O aumento dos batimentos é uma parte natural da resposta de luta ou fuga, que existe para proteger a vida em situações de perigo, mesmo quando o susto acontece em situações que não representam ameaça real.
Isso é perigoso para a saúde?
Para a maioria das pessoas, um susto não representa perigo para a saúde. Mas, para quem já tem problemas cardíacos ou predisposição, Juliana explica que a descarga de adrenalina pode provocar um pico de pressão arterial e desencadear arritmias, aumentando o risco de complicações como:
- Aumento importante da frequência cardíaca;
- Piora súbita da pressão arterial;
- Ruptura de placa de gordura dentro de uma artéria;
- Formação de coágulo e obstrução do fluxo sanguíneo;
- Possibilidade real de infarto ou arritmia grave.
Segundo Juliana, o infarto por estresse pode acontecer de duas maneiras. Em pessoas que já têm o comprometimento das artérias, durante o momento do susto, o aumento repentino da frequência cardíaca e da pressão arterial podem causar o rompimento de uma placa — o que leva a obstrução de uma artéria e, consequentemente, a um infarto.
Ele também pode acontecer devido a uma condição chamada síndrome do coração partido, ou cardiomiopatia de Takotsubo. Ela é rara, mas pode ser grave porque provoca um enfraquecimento temporário do músculo do coração.
Nessa situação, Juliana explica que ocorre uma descarga muito alta de adrenalina e noradrenalina, que altera o funcionamento do coração e reduz sua capacidade de bombear sangue. Os sintomas são praticamente iguais aos de um infarto comum, como dor no peito, falta de ar, palpitação, tontura e até desmaio. A diferença é que ela não provoca obstrução das artérias, sendo súbita, transitória e reversível após o tratamento correto.
Pessoas com ansiedade ou pressão alta sentem o susto de forma mais intensa?
De acordo com Juliana, quem tem pressão alta já convive com valores mais elevados no dia a dia, e a descarga de adrenalina no momento do susto pode fazer a pressão subir ainda mais, atingindo níveis perigosos. Isso aumenta o risco de sintomas mais fortes e, em alguns casos, até de complicações cardiovasculares.
Já pessoas ansiosas costumam ter um sistema nervoso simpático mais sensível, então, quando o susto acontece, a resposta de alerta pode durar mais tempo, com coração acelerado, tremores e sensação de falta de ar que demoram a passar. Em algumas situações, a reação exagerada pode até evoluir para uma crise de pânico.
Como o organismo volta ao estado de repouso
O primeiro passo depois de um susto é se afastar do ambiente que desencadeou o mal-estar. Em seguida, você pode adotar respirações lentas e profundas para ajudar o corpo a desacelerar e recuperar o equilíbrio — além de manter uma boa hidratação, o que favorece o relaxamento do organismo.
Depois que o susto passa, o sistema nervoso parassimpático entra em ação para desfazer a resposta de luta ou fuga e trazer o corpo de volta ao equilíbrio. Os batimentos cardíacos começam a desacelerar em poucos minutos, normalmente entre 5 e 10 minutos após o estímulo que causou o susto.
Já a sensação de nervosismo, tremor ou corpo “ainda em alerta” pode levar um pouco mais de tempo para desaparecer completamente. Em média, entre 20 e 30 minutos o organismo costuma voltar ao estado normal.
Quando procurar ajuda médica?
Procure atendimento médico imediato nas seguintes situações:
- Coração acelerado por mais de 30 minutos;
- Dor ou aperto no peito;
- Falta de ar ou dificuldade para respirar;
- Sudorese intensa sem motivo aparente;
- Tontura, desmaio ou sensação de desmaio iminente.
Os sinais podem indicar alguma complicação desencadeada pelo pico de adrenalina, como arritmia, piora da pressão arterial ou até início de um quadro cardíaco agudo.
A avaliação médica é importante para descartar problemas maiores e garantir que o coração volte ao funcionamento normal de maneira segura.
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Perguntas frequentes
Como diferenciar um susto de um infarto de verdade?
O susto tende ao melhorar espontaneamente em minutos, de modo que os batimentos desaceleram e o desconforto diminui.
Em casos de infarto, a dor no peito costuma ser forte, como um aperto, não passa com o tempo, pode irradiar para braço, costas ou mandíbula. A pessoa também pode sentir falta de ar, suor frio, náusea e tontura.
Assim, se você apresentar sintomas persistentes ou intensos, trate como uma urgência e procure atendimento médico!
O que fazer para acalmar o coração mais rápido?
Algumas medidas podem ajudar a aliviar o coração acelerado, como:
- Afastar-se do estímulo que causou o susto;
- Sentar ou deitar com conforto;
- Respirar lenta e profundamente (por exemplo, inspirar 4 segundos e expirar 6 segundos por alguns minutos);
- Beber água;
- Ficar em ambientes tranquilos, com pouca luz;
- Focar no relaxamento muscular.
Um susto isolado faz mal para o coração a longo prazo?
Para pessoas sem doença cardíaca, um susto isolado não costuma deixar sequelas, pois o organismo foi feito para lidar com picos de estresse e retornar ao equilíbrio. O problema acontece quando os picos são muito frequentes e existem fatores de risco, como estresse crônico, sono ruim, sedentarismo e tabagismo.
O coração pode “pular batidas” depois do susto?
O coração pode apresentar batimentos irregulares logo após um susto porque a adrenalina age diretamente no nó sinusal, que é o marcapasso natural do coração. Ele torna o ritmo mais excitável e pode provocar batimentos extras ou a sensação de que o coração está falhando por alguns segundos.
O susto pode causar desmaio?
O susto pode causar desmaio porque o cérebro pode receber menos sangue por alguns segundos no pico do estresse. A circulação muda muito rápido e o corpo pode desligar por um instante como forma de proteção. Depois, a pressão tende a normalizar, o sangue volta a circular bem no cérebro e a pessoa acorda sozinha.
No entanto, se o desmaio vier acompanhado de dor torácica intensa, falta de ar intensa ou demora para recuperar a consciência, é fundamental buscar atendimento médico imediato.
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