Não tem tempo para academia? Saiba se vale a pena treinar só no fim de semana

Mulher treinando de fim de semana em casa, apoiada no colchonete em posição de prancha, mostrando força e concentração durante o exercício.

Por causa da rotina agitada, seja por trabalho ou estudos, não é todo mundo que consegue conciliar uma rotina de treinos ao longo da semana — e o sábado e o domingo acabam sendo os únicos momentos livres para movimentar o corpo.

Contudo, concentrar as atividades físicas em dois dias pode levantar uma dúvida muito comum: vale a pena praticar exercícios apenas no final de semana? Conversamos com a cardiologista Gisele Bachur para entender se existem benefícios e quais os cuidados básicos para não exagerar.

Treinar só no fim de semana faz diferença para a saúde?

Quando o volume total semanal de exercícios é atingido nos fins de semana, é possível reduzir o risco cardiovascular mesmo quando a atividade é concentrada em dois dias, de acordo com Gisele. O organismo responde ao esforço acumulado, independentemente da distribuição dos treinos ao longo da semana, desde que a carga semanal recomendada seja cumprida.

A regularidade relativa, ainda que comprimida em 48 horas, ajuda o corpo a se adaptar — melhorando a saúde do coração, aumentando a sensibilidade à insulina, reduzindo inflamações e fortalecendo os músculos que protegem as articulações.

O padrão, conhecido como weekend warrior (guerreiros do fim de semana, na tradução), apresentou os seguintes benefícios, de acordo com estudos:

  • Redução do risco de hipertensão (pressão alta);
  • Menor risco de diabetes tipo 2;
  • Redução do risco de obesidade;
  • Redução do risco de apneia do sono;
  • Redução do risco de mais de 200 doenças;
  • Melhora da saúde cardiovascular;
  • Melhora do metabolismo e da sensibilidade à insulina;
  • Menor inflamação corporal;
  • Melhora da capacidade cardiorrespiratória;
  • Proteção contra diversas doenças digestivas, respiratórias e mentais.

No entanto, Gisele lembra que distribuir os exercícios ao longo da semana continua sendo a opção mais indicada. Quando o esforço não fica concentrado em poucos dias, o corpo recupera melhor, há menos chance de lesões e os estímulos são mais regulares. Mesmo assim, para quem só consegue treinar no sábado e no domingo, manter essa rotina é muito mais vantajoso do que ficar sedentário.

Existem riscos de lesão para quem só treina dois dias?

Quando todo o treino é concentrado em pouco tempo, o corpo enfrenta um esforço intenso e pouco frequente, o que aumenta o risco de lesões musculoesqueléticas, como distensões, tendinites e dores articulares. A musculatura e os tendões não recebem estímulos regulares ao longo da semana, acumulando tensão e fadiga de uma só vez, o que aumenta a chance de sobrecarga.

Quanto ao coração, Gisele aponta que o risco depende do histórico de cada pessoa:

  • Em pessoas sedentárias, que decidem treinar forte apenas no fim de semana, picos súbitos de intensidade podem elevar o risco cardiovascular;
  • Já em indivíduos que se mantêm minimamente ativos, sem cardiopatias estruturais e com condicionamento razoável, o risco é baixo.

O recomendado, quando o treino fica restrito a dois dias na semana, é progredir lentamente na intensidade, realizar um aquecimento adequado e evitar sessões muito longas de uma só vez. Também é importante alternar modalidades para não sobrecarregar sempre as mesmas articulações e permitir que o corpo tenha tempo suficiente para se recuperar.

Quanto de atividade física é recomendado?

O recomendado pela Organização Mundial da Saúde é alcançar 150 minutos por semana de atividade aeróbica moderada ou 75 minutos por semana de atividade intensa. Mesmo quando a rotina só permite treinar no fim de semana, é possível organizar o tempo de forma prática e segura.

Gisele aponta uma distribuição possível:

  • 2 sessões de 40 a 45 minutos de atividade moderada (como caminhada rápida, bicicleta leve ou dança);
  • ou 2 sessões de 25 a 30 minutos de atividade intensa (como corrida, tiros curtos, bicicleta em ritmo forte ou HIIT).

Também é importante reservar 10 a 15 minutos para aquecimento antes da atividade e 10 a 15 minutos para desaquecimento no final. Isso reduz o risco de lesões, ajuda na adaptação do corpo ao esforço e deixa o treino mais confortável.

Como evitar exageros nos treinos de fim de semana?

Para evitar exageros e diminuir o risco de lesões, alguns cuidados simples tornam o treino mais seguro, como:

  • Fazer um aquecimento gradual de 5 a 10 minutos, preparando músculos, articulações e coração para o esforço e evitando impacto súbito no organismo;
  • Evitar treinos máximos quando o condicionamento ainda não está adequado, já que esforços intensos demais aumentam o risco de lesões e podem causar fadiga;
  • Priorizar exercícios que você já domina, pois os movimentos familiares reduzem chances de erros de técnica e sobrecarga inesperada nas articulações;
  • Beber bastante água ao longo do dia, não apenas durante o treino, para garantir recuperação adequada e evitar tonturas, cãibras e queda de desempenho;
  • Usar tênis adequados ao tipo de atividade, com bom amortecimento e estabilidade, oferecendo mais segurança e proteção às articulações;
  • Evitar treinar logo após refeições pesadas, dando tempo ao processo digestivo para prevenir enjoo, desconforto abdominal e sensação de mal-estar;
  • Reduzir a intensidade após doença viral recente, permitindo que o organismo retome forças antes de ser exposto a esforços maiores.

Cuidados para manter a saúde do coração

Além de alcançar a quantidade semanal de atividade aeróbica, mesmo para quem treina apenas aos sábados e domingos, alguns cuidados ajudam a manter o coração saudável, como:

  • Realizar uma caminhada diária curta, mesmo que de 10 a 15 minutos, para estimular a circulação e reduzir o tempo total parado;
  • Quebrar longos períodos de sedentarismo, levantando-se regularmente para andar, alongar ou mover o corpo de forma leve;
  • Optar por exercícios seguros e sustentáveis, que combinem prazer, regularidade e baixo risco de lesão, facilitando a manutenção do hábito;
  • Manter alimentação saudável, com frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras, favorecendo o controle de peso e a saúde metabólica;
  • Priorizar o sono de qualidade, garantindo horas suficientes de descanso para melhorar recuperação muscular e equilíbrio hormonal.

No caso de pessoas com problemas cardiovasculares, é importante fazer uma avaliação médica antes de iniciar esforços intensos. A consulta garante orientações adequadas e ajustes no tipo, na carga e na intensidade do exercício, de acordo com as necessidades de cada pessoa.

Leia também: Treino full body: o que é, para quem é indicado e como montar

Perguntas frequentes

Como começar a treinar aos poucos quando falta tempo durante a semana?

O primeiro passo é escolher atividades simples e viáveis, que caibam na rotina sem exigir grandes deslocamentos ou equipamentos, como caminhadas curtas, alongamentos leves e exercícios com peso do próprio corpo.

A evolução deve ser lenta, aumentando a duração e a intensidade somente quando o corpo se adaptar. Pequenas sessões de 10 a 15 minutos já despertam músculos, melhoram a circulação e reduzem o impacto de treinos concentrados no fim de semana. O importante é criar consistência, mesmo com pouco tempo.

Como se movimentar mais no dia a dia?

Uma dica prática é espalhar pequenas doses de movimento ao longo do dia. Se você trabalha sentado por muitas horas, levantar-se a cada hora, alongar braços e pernas, escolher escadas em vez do elevador e caminhar curtas distâncias sempre que possível criam microestímulos que reduzem o sedentarismo.

Também vale incluir metas simples na rotina, como dez minutos de caminhada após o almoço ou deslocamentos mais ativos em tarefas diárias, por exemplo.

Como saber se estou exagerando no treino?

Os sinais de excesso de treino podem incluir tontura, náusea, dor aguda, sensação de peso no peito, fadiga desproporcional, falta de ar intensa e dores persistentes após dias de descanso. O corpo costuma avisar antes de uma lesão aparecer.

Se houver sintomas desse tipo, a recomendação é reduzir a carga, descansar e, se necessário, buscar avaliação de um profissional.

Quais dicas ajudam a manter constância ao longo das semanas?

Quanto mais o exercício físico fizer parte da rotina, menor a chance de abandonar depois. Algumas dicas incluem:

  • Criar horários fixos para treinar;
  • Registrar treinos;
  • Estabelecer metas realistas e evitar comparações com outras pessoas;
  • Preparar roupas com antecedência;
  • Escolher locais acessíveis;
  • Contar com apoio de amigos ou familiares.

Qual é o melhor exercício para quem está começando do zero?

As atividades simples e de baixo impacto costumam ser as mais seguras para quem está começando, como caminhada acelerada, bicicleta em ritmo leve ou exercícios básicos com peso corporal.

Eles exigem pouco conhecimento e permitem que o corpo se adapte aos poucos. À medida que a resistência melhora, é possível incluir exercícios mais desafiadores e aumentar a intensidade com segurança.

Qual é o melhor horário para treinar no fim de semana?

O melhor horário para treinar é aquele em que o corpo está mais disposto e o clima mais confortável. Pela manhã, as temperaturas costumam ser mais amenas e o organismo responde bem ao esforço. À tarde, os músculos já estão aquecidos e a mobilidade tende a ser maior. O importante é evitar treinar em horários muito quentes e manter hidratação adequada.

Suplementos são necessários para quem treina só no fim de semana?

A maioria das pessoas não precisa de suplementos, pois uma alimentação equilibrada e hidratação adequada normalmente já atendem às necessidades do corpo. Os suplementos podem ser úteis em situações específicas, como baixa ingestão proteica ou deficiências nutricionais, sempre com orientação profissional.

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