O que significa ter o corpo inflamado por obesidade?

Pessoa em pé sobre balança branca, mostrando peso corporal em ambiente doméstico.

Considerada um dos principais e crescentes problemas de saúde pública no Brasil, a obesidade é uma doença crônica caracterizada por um acúmulo de gordura no corpo que excede os níveis considerados normais e saudáveis, responsável por desencadear uma série de reações biológicas dentro do organismo.

Uma delas é a inflamação crônica de baixo grau, que está associada ao desenvolvimento de outras doenças graves, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Vamos entender mais, a seguir.

Afinal, o que significa ter o corpo inflamado por obesidade?

Em quadros de obesidade, o consumo constante de mais calorias do que o corpo gasta faz com que as células de gordura (adipócitos) aumentem drasticamente de tamanho. Quando estão sobrecarregadas, elas sofrem estresse e passam a liberar substâncias químicas na corrente sanguínea, conhecidas como citocinas pró-inflamatórias.

As substâncias sinalizam ao sistema imunológico que existe um problema, de modo que ele interpreta a alteração como uma ameaça e envia células imunológicas para o tecido adiposo, criando um ambiente de constante ativação.

Segundo a cardiologista Juliana Soares, a interação entre células de gordura sobrecarregadas e células de defesa gera uma liberação contínua de mediadores inflamatórios, que entram na corrente sanguínea e mantêm o organismo em estado de inflamação de baixo grau.

A inflamação se torna crônica porque o estímulo não desaparece: a gordura segue produzindo sinais de estresse, o sistema imunológico continua reagindo e o corpo inteiro passa a conviver com um processo inflamatório silencioso que, ao longo do tempo, contribui para várias doenças metabólicas e cardiovasculares.

Como a inflamação aumenta o risco de doenças?

A inflamação associada à obesidade cria um ambiente interno de alerta contínuo, que desgasta os órgãos e altera o funcionamento normal do corpo. A circulação constante de substâncias inflamatórias interfere em vários sistemas ao mesmo tempo, abrindo caminho para problemas metabólicos e cardiovasculares. Isso acontece por vários mecanismos, como:

  • A inflamação altera as paredes das artérias (endotélio), deixando o vaso sanguíneo mais vulnerável;
  • A facilidade para a entrada de colesterol ruim aumenta, favorecendo o acúmulo de placas de gordura;
  • Formação de placas instáveis torna o vaso mais propenso a ruptura, o que pode causar infarto ou AVC;
  • Liberação de substâncias como interleucina 6 e TNF-alfa prejudica a ação da insulina, aumentando o risco de diabetes tipo 2;
  • Proteína C reativa, estimulada pela inflamação, eleva a chance de formação de coágulos.

A combinação de paredes vasculares fragilizadas, colesterol elevado, resistência à insulina e maior tendência a coágulos cria um cenário que favorece doenças cardíacas, AVC, diabetes tipo 2 e outras complicações crônicas.

Mesmo pessoas com poucos quilos a mais podem estar com inflamação?

De acordo com Juliana, o ponto central não é somente a quantidade de peso, mas o local onde a gordura se concentra. A gordura localizada entre os órgãos, chamada gordura visceral, é metabolicamente ativa, libera substâncias inflamatórias de forma constante e aumenta o risco de alterações metabólicas e cardiovasculares. Mesmo um leve acúmulo nessa região já pode estimular um estado de inflamação de baixo grau.

Portanto, o risco não depende apenas do número de quilos acumulados, mas da distribuição corporal e do impacto da gordura na função dos órgãos internos.

Como é feita a detecção da inflamação?

A forma mais usada para medir a inflamação de baixo grau é o exame de proteína C reativa ultrassensível (PCR-us), de acordo com Juliana. A PCR-us consegue identificar pequenas elevações na inflamação, algo muito comum em quadros de obesidade, especialmente quando há acúmulo de gordura visceral.

A avaliação clínica também ajuda, já que o profissional de saúde considera o histórico de saúde, hábitos, medidas corporais e presença de doenças associadas.

Vale apontar que a simples elevação de um marcador não confirma, isoladamente, uma inflamação relevante, mas o padrão de substâncias alteradas, aliado ao excesso de gordura corporal, dá fortes indicações de que o organismo está em estado de alerta contínuo.

Como diminuir a inflamação da obesidade?

A perda de peso é uma das principais medidas para reduzir a inflamação relacionada à obesidade, porque diminui a sobrecarga das células de gordura, reduz a liberação de substâncias inflamatórias e melhora o funcionamento de vários sistemas do organismo.

A redução de apenas 5 a 10% do peso corporal já provoca queda importante nos marcadores inflamatórios e melhora a sensibilidade à insulina, de acordo com estudos.

Como a obesidade é uma doença multifatorial, o tratamento envolve uma série de abordagens diferentes, como:

  • Alimentação baseada em alimentos naturais, com variedade de frutas, verduras, legumes, peixes ricos em ômega-3, azeite de oliva, sementes e oleaginosas, que fornecem compostos com ação anti-inflamatória;
  • Redução do consumo de ultraprocessados, açúcar refinado, gordura trans, frituras e bebidas adoçadas, evitando estímulos que mantêm o organismo em estado de alerta;
  • Prática regular de atividade física, fundamental para diminuir gordura visceral, melhorar a circulação e fortalecer a função das artérias;
  • Sono adequado, já que noites mal dormidas elevam hormônios ligados à inflamação e dificultam o controle metabólico;
  • Manejo do estresse, importante para reduzir a liberação contínua de cortisol e favorecer o equilíbrio do organismo;
  • Acompanhamento médico, incluindo avaliação para uso de medicamentos quando indicado, com o objetivo de auxiliar no controle do peso e da inflamação.

Segundo Juliana, a dieta com propriedades anti-inflamatórias pode ajudar muito no controle da inflamação causada pela obesidade. A dieta mediterrânea é considerada uma das mais completas nesse sentido, porque reúne alimentos naturais que atuam diretamente na redução de mediadores inflamatórios.

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Perguntas frequentes

1. O que causa a obesidade?

A obesidade é uma doença multifatorial, causada por uma combinação de fatores biológicos, ambientais, emocionais e sociais. A alimentação rica em ultraprocessados, a rotina sedentária, o sono insuficiente e o estresse prolongado favorecem o acúmulo de gordura. A genética também influencia, pois altera o modo como o corpo armazena energia.

2. O que é gordura visceral e por que ela preocupa?

A gordura visceral é aquela que envolve órgãos internos, como fígado, intestino e pâncreas. O acúmulo provoca inflamação contínua, altera hormônios importantes e aumenta o risco de diabetes, hipertensão e doenças do coração. A identificação ocorre por exames clínicos e é um dos principais marcadores de risco para complicações metabólicas.

3. Como a prática de atividade física ajuda no controle da obesidade?

A prática regular de atividade física diminui gordura visceral, aumenta a massa muscular e melhora a sensibilidade à insulina. O movimento fortalece o sistema cardiovascular, reduz estresse e melhora o sono, fatores que influenciam diretamente no controle do peso. Mesmo atividades leves, como caminhada, já oferecem benefícios importantes quando realizadas com frequência.

4. A obesidade aumenta o risco de câncer?

A obesidade está relacionada ao risco maior de alguns tipos de câncer, como mama, colorretal, fígado e pâncreas. A inflamação crônica, a alteração de hormônios e o excesso de gordura visceral criam um ambiente que favorece o crescimento de células anormais.

5. Por que algumas pessoas têm dificuldade em perder peso?

A dificuldade pode surgir devido a fatores hormonais, genéticos, emocionais, ambientais e comportamentais. A presença de inflamação, resistência à insulina e gordura visceral torna o processo mais lento. O corpo tende a manter o peso habitual, o que exige constância e acompanhamento profissional para superar barreiras biológicas e psicológicas.

6. A cirurgia bariátrica é indicada para todos?

A cirurgia bariátrica é indicada apenas para casos selecionados, normalmente quando há obesidade grave ou presença de doenças associadas que colocam a vida em risco. O procedimento reduz o tamanho do estômago ou modifica o trajeto do alimento, facilitando perda de peso e melhora de condições metabólicas. A decisão exige avaliação criteriosa e acompanhamento de longo prazo.

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