Esclerodermia: como essa doença autoimune afeta o organismo

Médico examina paciente com suspeita de esclerodermia ou esclerose sistêmica

A esclerodermia, também chamada de esclerose sistêmica, é uma doença autoimune rara que chama atenção pela maneira como altera o corpo: tecidos que deveriam ser flexíveis tornam-se rígidos, como se desenvolvessem uma espécie de “cicatriz interna”.

Apesar de incomum, quem tem a condição precisa ter um acompanhamento especializado, já que pode atingir desde a pele até pulmões, coração e rins.

O que é esclerose sistêmica (esclerodermia)?

A esclerose sistêmica é uma doença reumática rara que afeta o tecido conectivo, responsável por sustentar e ligar órgãos do corpo. O principal processo dessa doença autoimune é a fibrose, ou seja, o endurecimento progressivo dos tecidos, que pode atingir pele, vasos sanguíneos e órgãos internos.

Principais formas da doença

  • Esclerodermia localizada: acomete pele e tecido subcutâneo.
  • Esclerose sistêmica limitada: espessamento cutâneo principalmente em extremidades.
  • Esclerose sistêmica difusa: comprometimento mais amplo da pele e maior risco de envolvimento de órgãos internos.

A doença é mais comum em mulheres entre 40 e 50 anos e tem maior prevalência em pessoas descendentes de povos africanos.

Como ocorre em outras doenças autoimunes, o sistema imunológico passa a atacar o tecido conectivo, gerando inflamação e levando à fibrose, um processo semelhante ao de cicatrização, o que deixa o tecido espesso e rígido.

Principais sintomas

A esclerose sistêmica pode se manifestar de formas muito diferentes entre os pacientes. Entre os sinais mais comuns estão:

Fenômeno de Raynaud

Presente em cerca de 95% dos casos, costuma ser o primeiro sintoma. A circulação das mãos e pés se altera com frio ou estresse, fazendo os dedos ficarem pálidos ou arroxeados.

Também pode ocorrer em pessoas sem doenças reumatológicas (cerca de 15% da população geral).

Sintomas cutâneos

São os mais marcantes:

  • Inchaço e vermelhidão iniciais
  • Espessamento progressivo da pele
  • Rigidez e perda da elasticidade

Essas alterações variam conforme o tipo de esclerodermia e podem dificultar movimentos.

Sintomas musculoesqueléticos

  • Dores articulares
  • Dores musculares
  • Contraturas e tendinites
  • Limitação de movimentos devido ao endurecimento da pele

Sintomas gastrointestinais

Muito frequentes e variados:

  • Dificuldade de abrir a boca
  • Boca seca
  • Dificuldade para engolir
  • Refluxo gastroesofágico
  • Esvaziamento gástrico lento, com distensão e sensação de saciedade precoce
  • Constipação

Sintomas pulmonares

Representam a principal causa de mortalidade.

Decorrem principalmente de:

  • Fibrose pulmonar
  • Pressão alta pulmonar

Sintomas:

  • Falta de ar
  • Cansaço
  • Tosse
  • Dor no peito

Casos avançados podem exigir oxigênio suplementar.

Sintomas cardíacos

Menos frequentes, mas graves:

  • Pericardite
  • Arritmias
  • Derrame pericárdico
  • Dilatação cardíaca secundária à pressão alta pulmonar

Sintomas renais

O quadro mais importante é a Crise Renal Esclerodérmica, marcada por:

  • Aumento súbito da pressão arterial
  • Piora rápida da função renal
  • Urina espumosa ou com sangue

Causas

A esclerose sistêmica não tem causa única, mas resulta da interação entre predisposição genética e fatores ambientais.

Fatores genéticos

  • Histórico familiar de doenças autoimunes
  • Presença de certos marcadores genéticos

Fatores ambientais

Podem atuar como gatilhos:

  • Infecções virais (citomegalovírus, Epstein-Barr, parvovírus B19)
  • Exposição à sílica
  • Contato com solventes orgânicos

A combinação desses fatores é considerada essencial para o início da doença.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico, feito em consultório médico, baseado na avaliação detalhada dos sintomas, exame físico e exames complementares.

Exames que auxiliam

  • Autoanticorpos específicos: ajudam a definir subtipo e entender o que esperar da doença.
  • Exames de sangue: anemia é comum; outras alterações dependem do órgão afetado.
  • Espirometria: identifica padrão restritivo em casos de fibrose pulmonar.
  • Endoscopia digestiva: avalia refluxo e alterações no esôfago ou estômago.

Tratamento

A esclerose sistêmica não tem cura, mas o tratamento adequado controla sintomas, reduz complicações e melhora a qualidade de vida.

Imunossupressores

São a base do tratamento, por reduzirem a atividade autoimune e retardarem a evolução da fibrose. A escolha depende do padrão de acometimento de cada paciente.

Tratamentos direcionados por manifestação

  • Medicações para refluxo
  • Tratamento da hipertensão pulmonar
  • Cuidados com a pele
  • Fisioterapia para manter mobilidade
  • Tratamento específico do fenômeno de Raynaud

O cuidado sempre deve ser individualizado e exige seguimento regular.

Veja também: Diabetes autoimune latente do adulto (LADA): o ‘tipo 1,5’ do diabetes

Perguntas frequentes sobre esclerose sistêmica

1. Esclerose sistêmica tem cura?

Não. Mas o tratamento adequado controla a doença e pode evitar complicações.

2. Esclerodermia e esclerose sistêmica são a mesma coisa?

O termo “esclerodermia” é amplo; inclui formas localizadas e sistêmicas. A esclerose sistêmica é o tipo que pode afetar órgãos internos.

3. O fenômeno de Raynaud sempre significa esclerodermia?

Não. Ele ocorre em até 15% da população geral sem doenças autoimunes.

4. A doença sempre afeta órgãos internos?

Não. Depende da forma: a esclerose sistêmica difusa tem maior risco; a localizada geralmente não afeta órgãos.

5. O que causa o endurecimento da pele?

A produção excessiva de colágeno, resultado da inflamação autoimune.

6. A doença é hereditária?

Não é hereditária no sentido clássico, mas há predisposição genética.

7. O tratamento sempre usa imunossupressores?

Na maioria dos casos sim, mas a escolha depende do tipo e da gravidade da doença.

Veja mais: Doenças autoimunes: 10 sinais para você ficar atento