Você sabia que quase todos os brasileiros consomem café diariamente? Seja ao acordar ou durante a tarde, a bebida é uma paixão nacional e ajuda a manter o corpo alerta, melhorar o foco e trazer sensação de aconchego em meio à rotina agitada.
Mas, apesar de fazer parte do dia a dia de tantas pessoas, existem alguns pontos sobre o café (e a cafeína) que precisam de atenção para não prejudicar o organismo — sobretudo em pessoas que convivem com problemas cardiovasculares, como hipertensão e arritmia. Entenda mais, a seguir.
Como a cafeína afeta o coração?
De acordo com a cardiologista Juliana Soares, a cafeína é responsável por bloquear os receptores cerebrais de adenosina, uma substância que normalmente induz o relaxamento dos vasos e contribui para reduzir a atividade cardíaca. Quando isso acontece, ocorre um estímulo direto ao sistema nervoso central, o que aumenta a liberação de noradrenalina.
A liberação de substâncias estimulantes aumenta a frequência dos batimentos cardíacos, deixando o coração mais acelerado por um período curto de tempo. Isso aumenta a sensação de alerta, melhora o foco e deixa o corpo em estado de maior atenção, algo comum quando o sistema nervoso simpático é ativado.
Ao mesmo tempo, logo depois de tomar café, pode ocorrer um aumento temporário da pressão arterial — principalmente em quem não tem hábito de beber café ou quando a quantidade é muito alta, segundo Juliana. Isso acontece porque a cafeína prepara o corpo para uma reação de luta ou fuga.
Nesta resposta, há liberação de adrenalina e constrição dos vasos sanguíneos, o que provoca elevação temporária da pressão e pode intensificar a sensação de batimentos mais rápidos. Ela costuma ser temporária, mas em pessoas sensíveis ou com problemas cardiovasculares, o corpo pode reagir de forma mais intensa, causando desconforto e palpitações.
E os riscos do café?
Os riscos do café existem quando o consumo é exagerado ou quando há alguma condição de saúde que torna o organismo mais sensível aos efeitos da cafeína. Por isso, é importante considerar alguns pontos, como:
- Aumento transitório da pressão arterial, especialmente em pessoas que não bebem café regularmente ou que têm hipertensão não controlada. A cafeína ativa o sistema nervoso simpático e pode elevar a pressão por alguns minutos;
- Palpitações, taquicardia e desconforto cardíaco em indivíduos sensíveis ou com arritmias pré-existentes. Nessas situações, mesmo quantidades pequenas podem gerar sensação de coração acelerado;
- Ansiedade, irritabilidade e tremores, já que a cafeína estimula o sistema nervoso central. Em quem tem ansiedade generalizada, o café pode piorar sintomas;
- Insônia e piora da qualidade do sono, sobretudo quando consumido no fim da tarde ou à noite. A cafeína permanece no organismo por horas e interfere no ciclo natural de repouso;
- Refluxo e desconforto gastrointestinal em pessoas predispostas, porque o café aumenta a acidez e estimula a produção de ácido gástrico;
- Aumento do risco de sintomas desagradáveis quando o consumo é muito alto (acima de 400 mg de cafeína por dia), incluindo dor de cabeça, sudorese, náusea e sensação de agitação.
Pessoas com arritmia ou hipertensão devem evitar o café?
O consumo de café deve ser moderado e levar em conta as condições individuais de cada pessoa, como explica Juliana. Pessoas com hipertensão podem beber café, desde que o consumo seja leve a moderado, sem exageros ao longo do dia.
No caso de pessoas com arritmia, a recomendação é de atenção redobrada. Juliana aponta que doses altas de cafeína podem favorecer o aparecimento de arritmias pelo mesmo mecanismo de estímulo ao sistema nervoso simpático e aumento da frequência cardíaca. Em pessoas com arritmia prévia, essa elevação pode causar episódios mais intensos.
Vale apontar que a sensibilidade à cafeína não é igual para todos: quem sente taquicardia, palpitações ou batimentos irregulares após consumir café deve reduzir ao máximo ou evitar a bebida.
Qual a diferença entre a cafeína do café e de outras bebidas energéticas?
O principal fator responsável pelo efeito estimulante do café, dos chás e dos energéticos é a presença de cafeína. O que muda entre as bebidas é a quantidade da substância em cada uma, segundo Juliana.
Os energéticos costumam ter doses muito mais altas de cafeína e podem incluir outros estimulantes, como a taurina, além de grandes quantidades de açúcar — o que intensifica ainda mais o efeito no organismo. Os chás, por outro lado, normalmente apresentam concentrações menores de cafeína quando comparados ao café.
Por isso, a resposta do organismo pode variar bastante. Com os energéticos, o pico de estimulação tende a ser mais rápido e mais intenso, elevando o risco de taquicardia, aumento transitório da pressão e sensação de agitação..
No caso dos chás, o impacto costuma ser mais suave. Além da menor quantidade de cafeína, muitos contêm compostos que modulam a absorção e deixam o efeito mais gradual. Ainda assim, em pessoas sensíveis ou que já apresentam arritmias, qualquer fonte de cafeína pode desencadear desconforto.
Quanto beber de café por dia?
Para um adulto saudável, o recomendado é não ultrapassar 400 mg de cafeína por dia, o que equivale a aproximadamente três ou quatro xícaras de café filtrado.
Em algumas situações, Juliana aponta que o limite deve ser mais baixo, como no caso de gestantes ou de pessoas com doenças cardíacas, para quem a orientação costuma variar entre 100 e 200 mg diários. O consumo acima do recomendado pode aumentar o risco de efeitos indesejados, incluindo alterações cardiovasculares.
Como saber se estou exagerando no café?
O excesso de café costuma provocar sinais ligados à superestimulação do sistema nervoso, como:
- Ansiedade;
- Agitação;
- Palpitações;
- Dificuldade para dormir;
- Refluxo ou dor de estômago;
- Alteração do funcionamento intestinal;
- Irritabilidade;
- Mau humor;
- Dor de cabeça.
Quando a quantidade ingerida ultrapassa o que o corpo consegue tolerar, começam a surgir sintomas incômodos que servem como alerta. Nesses casos, a dose deve ser reduzida e o corpo observado ao longo dos dias.
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Perguntas frequentes
Café prejudica o sono mesmo quando tomado à tarde?
A cafeína permanece no organismo por horas, e em algumas pessoas a eliminação é mais lenta devido a diferenças genéticas e metabólicas. Tomar café no fim da tarde pode interferir no início do sono, reduzir a qualidade das fases profundas e causar despertares noturnos.
A recomendação é evitar o café seis horas antes de dormir, especialmente para quem já possui dificuldade para adormecer ou distúrbios do sono.
Quanto de cafeína tem no café?
Uma xícara de café de cerca de 200 ml contém em média de 80 a 100 mg de cafeína, mas a quantidade pode variar bastante conforme o tipo de grão, o método de preparo e a intensidade da torra. Cafés mais concentrados, como expresso ou cold brew, por exemplo, podem apresentar valores maiores, enquanto versões mais suaves tendem a oferecer doses menores.
Café causa dependência?
O café pode gerar dependência leve, tanto pelo hábito quanto pelos efeitos estimulantes da cafeína. Quando o consumo é interrompido de repente, algumas pessoas apresentam dor de cabeça, irritabilidade, cansaço e dificuldade de concentração.
Os sintomas costumam desaparecer em poucos dias. A dependência não é comparável à de outras substâncias, mas o consumo exagerado facilita esse ciclo de necessidade e abstinência.
Café descafeinado faz mal ao coração?
O descafeinado possui uma quantidade muito reduzida de cafeína, o que diminui efeitos como taquicardia, palpitações e insônia. Porém, ele mantém os polifenóis e parte dos antioxidantes naturais do café, o que preserva alguns benefícios cardiovasculares.
Para quem tem arritmia, hipertensão descontrolada ou sensibilidade à cafeína, o descafeinado pode ser uma alternativa mais segura — desde que liberado pelo nutricionista.
Café pode interferir em exames ou medicamentos?
O café pode interferir em alguns medicamentos que afetam o sistema nervoso central, como ansiolíticos e estimulantes — e também pode alterar a absorção de certos remédios quando ingerido logo após o uso.
Além disso, a cafeína pode distorcer resultados de exames que avaliam pressão, frequência cardíaca e estresse metabólico. Por isso, sempre é recomendável seguir as orientações médicas antes de exames ou durante tratamentos específicos.
O organismo se acostuma com a cafeína ao longo do tempo?
O organismo desenvolve tolerância quando o consumo de cafeína é constante. Então, com o passar dos dias ou semanas, quem bebe café regularmente passa a sentir menos os efeitos estimulantes iniciais, como aceleração dos batimentos, aumento transitório da pressão e sensação de energia imediata.
Basicamente, isso acontece porque receptores cerebrais ligados à adenosina se adaptam ao estímulo contínuo, reduzindo a resposta fisiológica. Por outro lado, a adaptação pode levar a um aumento gradual da dose para obter o mesmo nível de alerta, o que eleva o risco de algumas pessoas exagerarem na dose.
Café interfere no humor?
Para muitas pessoas, o café ajuda a melhorar humor, motivação e disposição, graças ao aumento da atividade cerebral associada à liberação de dopamina e noradrenalina.
Mas, em indivíduos mais sensíveis, a cafeína pode causar irritabilidade, impaciência e aumento da ansiedade, principalmente quando ingerida em grandes quantidades. A resposta emocional varia conforme genética, rotina, qualidade do sono e estado emocional — e observar mudanças de humor após o consumo ajuda a identificar o limite ideal para cada um.
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