Sabia que o acúmulo de gordura na região abdominal não está ligado apenas a questões estéticas? Na verdade, a obesidade abdominal é um dos principais marcadores de risco para doenças do coração e pode indicar que existe um excesso de gordura visceral — que é a gordura que se acumula entre os órgãos internos, como fígado e pâncreas.
Ela é responsável por liberar uma série de substâncias inflamatórias no organismo, que promovem um estado de inflamação crônica e aumentam o risco de problemas cardiovasculares. Para entender melhor os riscos e os valores que podem indicar o acúmulo de gordura visceral, conversamos com a cardiologista Juliana Soares. Confira!
Afinal, o que é gordura visceral?
A gordura visceral é a gordura que se acumula dentro da cavidade abdominal, ao redor de órgãos internos como fígado, intestino, estômago e pâncreas. Ao contrário da gordura subcutânea, que fica logo abaixo da pele, ela está localizada em uma camada mais profunda e é muito mais perigosa do ponto de vista metabólico.
De acordo com a cardiologista Juliana Soares, a gordura visceral libera uma série de substâncias inflamatórias que promovem um estado de inflamação crônica, aumentando o risco de várias condições de saúde.
Quanto maior o volume de gordura visceral, maior o risco cardiovascular — mesmo quando o peso total na balança não parece tão elevado. Por isso, medidas como circunferência abdominal são amplamente utilizadas na avaliação de risco cardíaco.
Qual a diferença entre gordura visceral e gordura subcutânea?
A gordura subcutânea é a gordura que fica logo abaixo da pele, e funciona como reserva de energia, protege contra impactos e ajuda no isolamento térmico do corpo. Ela costuma aparecer mais em áreas como quadris, coxas, glúteos e barriga — e, no geral, ela é menos perigosa para o metabolismo.
A gordura visceral, por outro lado, está localizada em uma camada mais profunda e se acumula dentro do abdômen, entre os órgãos internos. Ela é metabolicamente ativa e libera substâncias inflamatórias que alteram o funcionamento do organismo, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, de acordo com Juliana.
Riscos da gordura visceral para a saúde do coração
A gordura visceral aumenta o risco cardiovascular porque promove um processo de inflamação crônica que altera a função das artérias e da circulação, interferindo no metabolismo, piorando o perfil de colesterol e aumentando a resistência à insulina. Tudo isso, em conjunto, favorece o desenvolvimento de:
- Hipertensão arterial (pressão alta);
- Rigidez das artérias;
- Acúmulo de placas de gordura nas paredes dos vasos;
- Piora do colesterol e dos triglicérides;
- Maior risco de diabetes tipo 2;
- Insuficiência cardíaca;
- Infarto agudo do miocárdio;
- Acidente vascular cerebral (AVC).
Vale ressaltar que as condições se instalam de forma lenta e silenciosa, conforme o organismo convive com níveis elevados de inflamação, má circulação e alterações metabólicas contínuas.
Como medir a circunferência abdominal para estimar gordura visceral?
A circunferência abdominal é a medida que funciona como marcador de risco cardiovascular porque reflete o acúmulo de gordura visceral. Diferentemente do IMC, que indica apenas a relação entre peso e altura, a circunferência abdominal mostra onde a gordura está concentrada — e quando ela está no abdômen, o risco metabólico e cardiovascular é maior.
Os valores podem variar conforme as diretrizes, mas de forma geral, Juliana Soares aponta:
- Mulheres: medidas de cintura acima de 80 cm já ligam o sinal de alerta; valores acima de 88 cm estão associados a risco cardiovascular aumentado;
- Homens: medidas de cintura acima de 94 cm já representam atenção; valores superiores a 102 cm se relacionam a risco cardiovascular significativamente maior.
É possível ter peso normal e alto risco cardíaco ao mesmo tempo?
A resposta é sim. De acordo com Juliana, existe uma condição clínica chamada obesidade com peso normal, em que a pessoa pode ter um índice de massa corporal (IMC) dentro da faixa considerada normal e, ainda assim, apresentar excesso de gordura visceral — identificado pela circunferência abdominal aumentada.
Pessoas nessa condição podem ter o mesmo risco metabólico e cardiovascular de quem apresenta obesidade.
Como perder gordura visceral para proteger o coração?
A redução da gordura abdominal é um processo que envolve uma série de mudanças no dia a dia, como:
- Priorizar alimentos in natura, como hortaliças, frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras;
- Reduzir o consumo de açúcar, farinhas refinadas, álcool e ultraprocessados, que favorecem picos de glicemia, aumento de inflamação e acúmulo de gordura abdominal;
- Praticar atividade física regular, combinando exercício aeróbico e treino de força ao longo da semana, para aumentar o gasto energético e estimular o metabolismo;
- Dormir bem, com horário definido e boa higiene do sono (ambiente adequado, luz reduzida, rotina previsível), para evitar alterações hormonais que favorecem a fome e o armazenamento de gordura;
- Controlar o estresse de forma contínua, já que o cortisol elevado por longos períodos aumenta o acúmulo de gordura visceral e piora o risco metabólico.
Atividades como caminhada, corrida leve, bike, dança, elíptico, natação e qualquer atividade aeróbica regular ajudam a reduzir a gordura visceral. Já o treino de força aumenta a massa muscular, melhora o metabolismo e facilita que o corpo queime gordura ao longo do dia.
O Ministério da Saúde recomenda o mínimo de 150 minutos semanais de atividade física moderada ou 75 minutos semanais de atividade vigorosa para adultos. Além disso, ele indica incluir exercícios de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana.
Com a perda de peso, o corpo demora a se recuperar?
O risco cardiovascular diminui relativamente rápido à medida que a gordura visceral começa a ser reduzida, segundo Juliana. Quando o organismo é submetido a mudanças positivas, como alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e ajustes de estilo de vida, a gordura é mobilizada com mais facilidade.
Os benefícios metabólicos podem aparecer já nas primeiras semanas. Mesmo que o peso total demore mais para cair, só o fato de melhorar o estilo de vida já traz impacto positivo consistente para a saúde.
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Perguntas frequentes
1. A gordura visceral aumenta a pressão arterial?
Sim, pois a gordura visceral libera substâncias inflamatórias que prejudicam a função vascular. As artérias vão perdendo elasticidade e ficam mais rígidas com o tempo, favorecendo o aumento da pressão arterial. O coração precisa fazer mais força para bombear sangue e isso, ao longo dos anos, desgasta o sistema cardiovascular.
2. O álcool contribui para gordura abdominal?
Sim! O álcool tem alto valor calórico, altera metabolismo de gordura no fígado e favorece acumulação de gordura visceral. Ele também aumenta o apetite, reduz a saciedade e facilita o consumo de calorias extras sem percepção clara.
Com o tempo, o hábito de consumo frequente pode acelerar o acúmulo de gordura na região do abdômen e aumentar o risco metabólico.
3. Cortar glúten reduz a gordura abdominal?
Não necessariamente, pois o que reduz gordura abdominal é diminuir alimentos de alta carga glicêmica e calorias vazias. Algumas pessoas observam melhora ao retirar glúten apenas porque deixam de consumir alimentos muito refinados, como pizzas, massas e bolos, que são ricos em farinha branca.
A mudança ocorre por causa da redução de carboidratos ultraprocessados, e não pelo glúten em si. O foco deve estar em reduzir o excesso de carboidratos refinados, com alimentação mais natural e equilibrada.
4. Quando o inchaço abdominal deve ser investigado como gordura visceral?
Quando o aumento do abdômen é persistente e não se relaciona apenas à retenção de líquidos pontual ou distensão após refeições. Se o volume permanece ao longo dos dias e semanas, existe probabilidade de estar relacionado a depósito de gordura visceral, e não a inchaço transitório. Nesses casos, é indicada uma avaliação clínica.
5. Quando a gordura abdominal passa a ser um sinal de alerta?
A gordura abdominal começa a preocupar quando o volume do abdômen aumenta de forma contínua, quando roupas deixam de servir na cintura ou quando há ganho de centímetros na circunferência abdominal, mesmo sem aumento significativo no peso total.
Assim, sempre que houver percepção de mudança rápida do formato da barriga, o ideal é buscar avaliação clínica para medir a circunferência abdominal e revisar fatores de risco associados.
6. Quando é necessário procurar atendimento de urgência?
Procure um médico quando houver sintomas como falta de ar repentina, dor ou pressão no peito, palpitações intensas, tontura, sensação de desmaio ou mal-estar súbito. Eles podem indicar um evento cardiovascular e exigem atendimento imediato.
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