Ao contrário do que muitos pensam, a coagulação do sangue é um processo natural do organismo, responsável por conter sangramentos e permitir a cicatrização de ferimentos. Quando você corta o dedo, por exemplo, o corpo reage formando um coágulo que interrompe o sangramento. O problema é quando esse mecanismo ocorre sem motivo, dentro de uma veia saudável.
De acordo com o cirurgião vascular Marcelo Dalio, quando o sangue coagula sem necessidade e bloqueia o vaso, ocorre um quadro de trombose, que pode provocar dor, inchaço e vermelhidão, principalmente nas pernas. E, em alguns casos, esse coágulo pode se soltar e seguir pela corrente sanguínea até o pulmão, onde bloqueia a passagem do sangue — é o que chamamos de embolia pulmonar.
Apesar de estarem diretamente relacionadas, trombose e embolia pulmonar não são a mesma coisa e saber identificar as diferenças é importante para reconhecer os sinais de alerta e procurar ajuda a tempo. Entenda mais, a seguir!
O que é trombose?
A trombose ocorre quando um coágulo sanguíneo se forma em uma ou mais veias, impedindo o fluxo normal do sangue. O tipo mais comum é a Trombose Venosa Profunda (TVP), que costuma afetar as pernas, coxas e panturrilhas.
Em alguns casos, o coágulo é pequeno e o próprio corpo consegue dissolvê-lo naturalmente. Mas, em situações mais sérias, o trombo pode crescer, causar inchaço, dor e até se desprender, viajando até órgãos vitais — o que resulta em uma embolia.
A trombose costuma surgir após cirurgias, longos períodos de imobilização, gravidez, uso de anticoncepcionais hormonais ou presença de doenças crônicas. Ainda assim, qualquer pessoa pode desenvolver o problema quando existe predisposição genética ou a combinação de fatores de risco.
Quais são os tipos de trombose?
A trombose pode ser aguda ou crônica, dependendo da evolução do coágulo e da resposta do organismo:
- Trombose aguda: ocorre de forma repentina e pode se resolver naturalmente, já que o corpo possui mecanismos para dissolver o trombo. Quando isso acontece sem sequelas, o paciente recupera a circulação normal;
- Trombose crônica: acontece quando, durante a dissolução do coágulo, a estrutura das válvulas das veias é danificada. Isso compromete o retorno do sangue, gerando inchaço persistente, escurecimento da pele, varizes e, em casos mais avançados, feridas.
Sintomas de trombose
Em alguns casos, a trombose se desenvolve de forma silenciosa, sem sintomas, principalmente nas fases inicias. Mas quando os sintomas aparecem, é importante agir rápido. Os mais comuns incluem:
- Dor ou sensação de peso na perna (geralmente em apenas um lado);
- Calor e vermelhidão local;
- Inchaço que piora com o passar do dia;
- Endurecimento da musculatura da panturrilha.
A condição também é conhecida como “trombose do viajante”, porque pode surgir após longos períodos sentado, como em viagens de avião, ônibus ou carro. Nessas situações, a falta de movimentação faz com que o sangue circule mais devagar nas pernas, favorecendo a formação de coágulos.
Por isso, o problema é relativamente comum em pessoas que passam muitas horas em voos internacionais ou trabalham em posições fixas.
O que é embolia pulmonar?
A embolia pulmonar é uma condição potencialmente fatal que ocorre quando um coágulo bloqueia uma ou mais artérias do pulmão, dificultando a passagem do sangue e a oxigenação do corpo. Isso aumenta a pressão sobre o coração e pode levar à insuficiência cardíaca ou parada cardiorrespiratória.
Na maioria dos casos, a embolia pulmonar ocorre como consequência direta da trombose venosa profunda — quando um coágulo se forma nas veias das pernas e, posteriormente, se desprende, migrando até os pulmões.
O tromboembolismo venoso é a terceira principal causa de morte cardiovascular, ficando atrás apenas do infarto e do AVC. A gravidade da embolia depende do tamanho e da quantidade de artérias pulmonares obstruídas. Quando a obstrução é grande, a primeira manifestação pode ser parada cardíaca e morte súbita, o que reforça a importância do diagnóstico precoce.
Sintomas de embolia pulmonar
Os sintomas da embolia pulmonar variam conforme a extensão do bloqueio, mas alguns sinais merecem atenção imediata, como:
- Falta de ar súbita (mesmo em repouso);
- Dor no peito, que piora ao tossir, espirrar ou inspirar fundo;
- Tosse com sangue;
- Tontura, palpitação e desmaio;
- Batimentos acelerados;
- Febre e suor excessivo;
- Dor ou inchaço nas pernas (indicando trombose associada).
Em 25% dos casos graves, a embolia pulmonar se manifesta diretamente como uma parada cardíaca — e, nesses casos, é muito importante que o atendimento médico seja imediato.
O que aumenta os riscos de trombose e embolia pulmonar?
Qualquer pessoa pode desenvolver coágulos, mas alguns fatores aumentam muito as chances. Entre os principais:
- Ficar muito tempo parado (viagens longas, repouso hospitalar ou pós-cirurgia);
- Cirurgias grandes, principalmente ortopédicas, ginecológicas ou oncológicas;
- Uso de anticoncepcionais hormonais ou terapia de reposição hormonal;
- Gravidez e pós-parto;
- Varizes e insuficiência venosa;
- Tabagismo;
- Obesidade e sedentarismo;
- Idade avançada;
- Histórico familiar de trombose;
- Câncer ou quimioterapia;
- Doenças cardíacas e distúrbios de coagulação.
Durante a gestação, por exemplo, o peso do bebê e as mudanças hormonais dificultam o retorno do sangue das pernas, favorecendo a formação de trombos. Já os anticoncepcionais aumentam o risco por alterarem a viscosidade do sangue.
Trombose e embolia pulmonar: quais as diferenças?
| Trombose | Embolia pulmonar | |
|---|---|---|
| Definição | Formação de um coágulo sanguíneo (trombo) dentro de uma veia, normalmente nas pernas | Bloqueio de uma ou mais artérias do pulmão causado por um coágulo que se desprendeu da trombose |
| Causa principal | Cirurgias, imobilização prolongada, uso de anticoncepcionais, gestação tabagismo e obesidade | Deslocamento de um coágulo formado na trombose venosa profunda até o pulmão |
| Local mais comum | Veias profundas das pernas e coxas | Artérias pulmonares |
| Sintomas principais | Dor, inchaço, calor e vermelhidão na perna (geralmente em apenas um lado) | Falta de ar súbita, dor no peito, tosse com sangue, palpitação e tontura |
| Risco imediato | Pode evoluir para uma embolia se o coágulo se desprender | Pode causar insuficiência respiratória e morte súbita |
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de trombose e embolia pulmonar começa com a avaliação dos sintomas e do histórico do paciente. No caso da trombose venosa profunda, o médico observa sinais como dor, inchaço, calor e vermelhidão na perna. Depois, costuma pedir um exame de ultrassom com doppler, de acordo com Marcelo, que mostra se há algum coágulo bloqueando a circulação nas veias.
Já a embolia pulmonar é mais grave e costuma causar falta de ar repentina, dor no peito e sensação de desmaio. O diagnóstico envolve exames de imagem, como tomografia do tórax, que mostra se há um coágulo obstruindo as artérias do pulmão. De acordo com o cirurgião vascular, o ultrassom não é capaz de alcançar o pulmão.
Tratamentos para trombose e embolia pulmonar
O tratamento precisa começar imediatamente após o diagnóstico, pois quanto antes for iniciado, menores os riscos de complicações.
Trombose
No caso da trombose, o principal objetivo é impedir o crescimento do coágulo e evitar que ele se desprenda, o que poderia causar uma embolia pulmonar. Segundo Marcelo, é feito o uso de anticoagulantes, que impedem a formação de novos coágulos.
Alguns pacientes podem precisar de filtros na veia cava, a principal veia do abdômen, que funcionam como uma barreira para evitar que coágulos das pernas cheguem aos pulmões. O uso de meias de compressão também é uma medida importante, pois melhora a circulação nas pernas, reduz o inchaço e ajuda no retorno venoso.
Embolia pulmonar
Quando o quadro evolui para uma embolia pulmonar, o tratamento se torna uma emergência. O uso de anticoagulantes continua sendo a principal abordagem, mas em doses mais altas, para impedir a formação de novos coágulos e facilitar a dissolução dos existentes.
Em casos críticos, são usados trombolíticos, medicamentos capazes de dissolver o coágulo rapidamente, restabelecendo o fluxo de sangue para o pulmão. Em situações extremas, quando o trombo é volumoso e o paciente corre risco de vida, pode ser necessário realizar cateterismo ou cirurgia para remover o bloqueio.
Em pacientes de alto risco, especialmente internados por longos períodos, os anticoagulantes podem ser administrados de forma profilática (ou seja, preventiva) para evitar a formação de trombos. No entanto, ele alerta que o uso desses medicamentos deve sempre ocorrer sob supervisão médica rigorosa, já que o uso inadequado pode causar sangramentos importantes.
É possível prevenir?
A melhor forma de evitar tanto a trombose quanto a embolia pulmonar é manter o corpo em movimento e cultivar hábitos saudáveis, como:
- Levantar-se e andar a cada 1 hora se ficar muito tempo sentado;
- Fazer alongamentos nas pernas, especialmente em viagens longas;
- Usar meias elásticas, com orientação médica, para melhorar o retorno venoso;
- Beber bastante água e evitar álcool em excesso;
- Controlar o peso e parar de fumar;
- Praticar atividades físicas regularmente.
Por fim, é fundamental aprender a reconhecer sinais como dor repentina na perna, inchaço, calor local ou falta de ar súbita. Procurar ajuda médica imediata diante desses sintomas é a melhor forma de evitar que um quadro de trombose evolua para uma embolia pulmonar.
Confira: Sente pernas pesadas no fim do dia? Confira dicas para aliviar
Perguntas frequentes
A trombose pode acontecer em pessoas jovens e saudáveis?
Sim! Apesar de ser mais comum em idosos, gestantes ou pessoas com doenças crônicas, a trombose também pode atingir jovens aparentemente saudáveis. O risco aumenta quando há longos períodos de imobilidade — como passar horas estudando ou jogando sentado, viagens longas, ou mesmo durante o uso de anticoncepcionais hormonais.
Além disso, fatores genéticos, como a predisposição à hipercoagulabilidade (tendência do sangue a coagular mais facilmente), podem causar trombose em pessoas sem outros problemas de saúde.
Uma trombose superficial pode virar uma embolia pulmonar?
É bem raro, mas pode acontecer. A trombose superficial se forma em veias logo abaixo da pele, geralmente associada a varizes. Por estar mais próxima da superfície, ela costuma ter menor risco de gerar êmbolos (fragmentos de coágulo que se deslocam).
No entanto, se a inflamação alcançar veias mais profundas e houver comunicação entre elas, o trombo pode migrar para o sistema venoso profundo e, dali, para o pulmão. Por isso, até tromboses aparentemente leves merecem avaliação médica.
Viagens longas realmente causam trombose?
Sim, podem causar trombose pois ficar sentado por muitas horas, especialmente com os joelhos dobrados e pouca movimentação, dificulta o retorno do sangue das pernas para o coração. A falta de mobilidade facilita a formação de coágulos — daí o nome “trombose do viajante”.
O risco aumenta em voos internacionais, motoristas de longa distância e passageiros de ônibus ou carros que passam horas sem se levantar. O ideal é se movimentar a cada 1 ou 2 horas, fazer rotações nos tornozelos e manter boa hidratação durante o trajeto.
O que é síndrome pós-trombótica?
É uma complicação que pode surgir meses após uma trombose venosa profunda. Mesmo com o coágulo dissolvido, as válvulas das veias podem ficar danificadas, dificultando o retorno do sangue. O resultado é inchaço persistente, dor, sensação de peso nas pernas e escurecimento da pele.
Em casos avançados, surgem feridas difíceis de cicatrizar. O uso de meias elásticas e o acompanhamento com angiologista ajudam a controlar o problema.
Por que o anticoncepcional aumenta o risco de trombose?
O anticoncepcional aumenta o risco de trombose principalmente por causa do estrogênio, um dos hormônios presentes na maioria das pílulas combinadas. Ele altera o equilíbrio natural do sangue, aumentando a produção de proteínas que favorecem a coagulação e reduzindo outras que ajudam a dissolver coágulos. O resultado é um sangue mais “espesso”, com maior tendência a formar trombos dentro das veias — especialmente nas pernas.
Além disso, o estrogênio pode afetar as paredes dos vasos sanguíneos, deixando-as mais suscetíveis à inflamação e ao acúmulo de coágulos. Por isso, o uso de anticoncepcionais hormonais deve sempre ser avaliado de forma individual, levando em conta o histórico familiar, a idade e o estilo de vida da pessoa.
Leia mais: Trombose do viajante: o que é, sintomas, causas e como evitar

