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  • Obesidade: por que é considerada uma doença crônica?

    Obesidade: por que é considerada uma doença crônica?

    Em um ritmo acelerado, o Brasil caminha para se tornar um país em que o excesso de peso será a realidade da maior parte da população. Em vinte anos, se a tendência permanecer, dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que 48% dos brasileiros serão obesos e outros 27% estarão com sobrepeso.

    Hoje, o Ministério da Saúde indica que um em cada três brasileiros vive com obesidade — e que mais da metade dos moradores das capitais apresenta excesso de peso. Apesar dos números elevados, ainda há grande dificuldade em entender o problema com a seriedade necessária.

    “Durante décadas, o excesso de peso foi explicado apenas como um problema de escolhas pessoais, ignorando a biologia e o ambiente. Essa visão simplista reforça o estigma e faz com que muitas pessoas com obesidade sofram culpa e discriminação, inclusive no sistema de saúde”, aponta a médica de família e comunidade, Fernanda Tasso Borges Fernandes.

    Segundo a especialista, existem evidências sólidas de que, isoladamente, a força de vontade não é capaz de superar os mecanismos biológicos que tendem a levar o corpo de volta ao peso anterior. A obesidade é uma doença em que fatores hormonais, genéticos e ambientais trabalham para manter o organismo em um patamar elevado de peso, mesmo quando a pessoa tenta mudar hábitos. É o que nós vamos entender mais, a seguir.

    Por que a obesidade é considerada uma doença crônica?

    A obesidade, que passou a ser considerada uma doença crônica pela American Medical Association em 2013, envolve alterações biológicas, genéticas, hormonais, ambientais e comportamentais que fazem o corpo defender um peso mais alto, mesmo quando a pessoa tenta emagrecer.

    Para se ter uma ideia, dados da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, mostram que cerca de 90% das pessoas que perdem peso acabam recuperando grande parte do que foi eliminado. O organismo passa a funcionar em um padrão que favorece acúmulo de gordura e torna o tratamento contínuo, assim como acontece em casos de hipertensão ou diabetes.

    “O excesso de peso não é apenas resultado de ‘comer demais’: há mudanças na regulação do apetite, no gasto energético e nos hormônios que controlam fome e saciedade. Assim como a hipertensão ou o diabetes, a obesidade não tem cura definitiva, mas pode ser controlada com acompanhamento médico, hábitos saudáveis e, em alguns casos, medicações”, explica Fernanda.

    Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade é um importante fator de risco para diversas doenças, porque o acúmulo excessivo de gordura altera o funcionamento do organismo e favorece processos inflamatórios, resistência à insulina, aumento da pressão arterial e desequilíbrios hormonais.

    Isso aumenta a probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, apneia do sono, alguns tipos de câncer e problemas articulares. Quanto maior o tempo de exposição ao excesso de peso, maior tende a ser o impacto sobre a saúde, o que reforça a necessidade de acompanhamento contínuo e intervenções precoces.

    Quais fatores influenciam na obesidade?

    Existem diversos fatores que influenciam o desenvolvimento da obesidade, e a maioria deles atua de forma combinada ao longo do tempo.

    Segundo Fernanda, o peso corporal é regulado por um sistema biológico complexo que envolve o cérebro, principalmente estruturas como o hipotálamo, e uma rede de hormônios responsável por informar ao corpo quando há energia suficiente ou quando é necessário comer. A médica cita alguns exemplos:

    • Leptina: produzida pelo tecido adiposo, normalmente reduz o apetite, mas em pessoas com obesidade o organismo pode se tornar resistente à sua ação;
    • Grelina: conhecida como o “hormônio da fome”, aumenta antes das refeições e diminui após comer, porém, em quem emagrece, tende a permanecer elevada, estimulando o apetite;
    • Insulina: além de controlar a glicose, exerce papel importante no armazenamento de gordura;
    • Cortisol e hormônios sexuais: modulam a distribuição e o acúmulo de gordura no corpo.

    Em pessoas com tendência à obesidade, esses sinais podem funcionar de modo alterado, dificultando o controle natural do apetite e do gasto energético. Ao mesmo tempo, os fatores externos têm influência tão importante quanto a genética — e acabam definindo se uma predisposição biológica vai, de fato, se tornar uma doença.

    “Pesquisas indicam que fatores genéticos podem explicar até 70% da tendência individual ao ganho de peso, influenciando desde o apetite e o gasto calórico até a forma como o corpo armazena gordura. No entanto, essa predisposição só se transforma em doença quando o corpo é exposto a um ambiente que favorece o ganho de peso — com alimentos ultraprocessados, sono insuficiente, estresse crônico e pouca atividade física”, aponta Fernanda.

    E qual o papel do cérebro?

    O cérebro participa de maneira direta na regulação do peso corporal, controlando fome, saciedade e prazer relacionado à comida. O hipotálamo funciona como centro de comando, ajustando apetite e gasto energético a partir de sinais enviados por hormônios como leptina e grelina — que, como já explicado, informam se há energia suficiente ou se é hora de buscar alimento.

    Além disso, as áreas ligadas ao sistema de recompensa influenciam o prazer e a motivação para comer, principalmente quando o ambiente oferece alimentos ricos em gordura, açúcar e sal.

    Por esse motivo, o tratamento da obesidade também envolve estratégias que ajudam o cérebro a desenvolver novas respostas — percebendo melhor os sinais de saciedade, reconhecendo os gatilhos emocionais e reduzindo a busca automática por comida.

    Obesidade tem cura?

    A obesidade é uma doença crônica, então não tem uma cura definitiva, mas pode ser controlada a partir de acompanhamento contínuo. O tratamento, além de reduzir o peso, também visa manter os resultados a longo prazo.

    Quando o peso diminui, o corpo reduz o gasto energético e aumenta o apetite para tentar recuperar o que perdeu. Por isso, Fernanda ressalta que interromper o tratamento pode levar à recidiva em grande parte dos casos.

    “Com seguimento médico, alimentação adequada, atividade física e, quando indicado, uso de medicamentos, é possível controlar a doença, reduzir riscos e melhorar a qualidade de vida de forma sustentável”, finaliza a médica de família.

    Confira: Canetas emagrecedoras: como evitar deficiências nutricionais?

    Perguntas frequentes sobre obesidade

    Qual é a diferença entre obesidade e sobrepeso?

    A diferença entre obesidade e sobrepeso está principalmente na quantidade de gordura acumulada e no impacto que isso causa na saúde.

    Sobrepeso é quando a pessoa apresenta acúmulo de gordura maior do que o considerado ideal, mas ainda sem ultrapassar limites que elevem de forma marcante o risco de doenças. Para o sobrepeso, o IMC fica entre 25 e 29,99;

    Obesidade corresponde a um aumento mais significativo desse acúmulo, a ponto de alterar o funcionamento do organismo, favorecer inflamação crônica, desequilibrar hormônios ligados ao apetite e elevar de maneira importante a probabilidade de desenvolver problemas de saúde. Para a obesidade, o IMC é a partir de 30.

    Apesar do IMC ser uma ferramenta bastante usada para distinguir ambas as condições, outros fatores (como composição corporal, distribuição de gordura e histórico clínico) também entram no diagnóstico. A diferença fundamental é que obesidade é considerada uma doença crônica que exige acompanhamento contínuo, enquanto sobrepeso é um estágio que pode evoluir ou ser revertido com tratamento adequado.

    Quais doenças podem estar associadas à obesidade?

    A obesidade aumenta o risco de várias condições, especialmente quando o corpo permanece por anos em estado de inflamação crônica causada pelo excesso de gordura. Entre elas, é possível destacar:

    • Diabetes tipo 2;
    • Hipertensão;
    • Doenças cardiovasculares;
    • Apneia do sono;
    • Gordura no fígado;
    • Refluxo;
    • Problemas articulares;
    • Infertilidade;
    • Irregularidade menstrual;
    • Determinados tipos de câncer.

    Por que é tão difícil manter o peso perdido?

    Quando alguém emagrece, o corpo interpreta o processo como ameaça à sobrevivência e aciona mecanismos de defesa. Então, o gasto energético diminui, a fome aumenta, a grelina permanece elevada e a leptina perde eficiência.

    Além disso, os músculos passam a usar energia de forma mais econômica, dificultando a manutenção do novo peso. Tudo isso faz com que a pessoa precise de acompanhamento contínuo para manter resultados.

    O que causa o efeito sanfona em quem tem obesidade?

    O efeito sanfona ocorre quando a pessoa perde peso rapidamente e recupera logo em seguida, repetindo esse ciclo várias vezes. Isso acontece porque dietas rígidas e de baixa caloria fazem o corpo interpretar a perda de peso como ameaça, reduzindo metabolismo, aumentando fome e estimulando mecanismos naturais de economia de energia.

    Quando a alimentação volta ao normal, o corpo repõe o peso perdido com rapidez, muitas vezes ultrapassando o valor inicial. Em pessoas com obesidade, o efeito sanfona é ainda mais intenso porque o organismo já opera com hormônios desregulados e maior tendência ao acúmulo de gordura. O ciclo repetido compromete o metabolismo, aumenta inflamação e dificulta a manutenção do peso no longo prazo.

    Obesidade pode causar problemas no coração?

    Sim, pois o acúmulo de gordura aumenta a inflamação, eleva pressão arterial e o colesterol, favorece resistência à insulina e sobrecarrega o sistema cardiovascular. O coração precisa trabalhar mais para bombear sangue, o que contribui para insuficiência cardíaca, arritmias e doença arterial coronariana.

    Confira: Obesidade infantil: o que é, causas e como prevenir

  • Obesidade infantil: o que é, causas e como prevenir

    Obesidade infantil: o que é, causas e como prevenir

    Você sabia que a obesidade infantil é um fator de risco importante para doenças crônicas na vida adulta, como diabetes tipo 2 e hipertensão? No Brasil, uma em cada três crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos está acima do peso, segundo levantamento nacional com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS). A taxa de sobrepeso nessa faixa etária cresceu quase 9% em dez anos.

    A exposição prolongada ao excesso de gordura corporal na infância pode desencadear uma série de problemas de saúde mais cedo, além de causar outras complicações a curto e longo prazo — afetando o desenvolvimento físico e psicológico da criança. Vamos entender mais, a seguir!

    O que é obesidade infantil?

    A obesidade infantil é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, acima do recomendado para a idade e altura, em crianças de até 12 anos de idade.

    A condição acontece quando o corpo recebe mais calorias do que gasta, o que pode ocorrer em uma alimentação rica em ultraprocessados e aliada ao pouco movimento no dia a dia, o grande tempo sentado e o uso excessivo de telas — que fazem o corpo armazenar gordura com facilidade.

    Quais os tipos de obesidade infantil?

    A obesidade infantil pode ser classificada de duas formas principais pela causa:

    Exógena: é causada pela soma de ambiente alimentar desregulado, consumo alto de ultraprocessados, bebidas açucaradas e rotina com pouco movimento. A criança vive em um ambiente que facilita comer muito e gastar pouco;

    Endógena: é provocada por alterações internas do organismo. A criança pode ter distúrbios hormonais (como problemas de tireoide ou síndrome de Cushing) ou usar remédios que favorecem ganho de peso, como corticoides.

    A obesidade infantil também pode ser dividida pela gravidade, medida pelo IMC para idade e sexo:

    • Sobrepeso, aparece quando o IMC está acima do percentil 85 e abaixo do percentil 95;
    • Obesidade, aparece quando o IMC está acima do percentil 95;
    • Obesidade grave (ou obesidade mórbida) costuma ser usada quando o IMC está em 40 kg/m² ou mais, refletindo acúmulo muito elevado de gordura corporal.

    O que causa a obesidade em crianças?

    A obesidade é uma doença multifatorial, o que significa que ela é influenciada por uma série de fatores biológicos, comportamentais e sociais, como:

    Alimentação inadequada

    O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados é uma das principais causas do acúmulo excessivo de gordura corporal em crianças.

    Refrigerantes, biscoitos, salgadinhos e fast food, por exemplo, são ricos em calorias, gorduras saturadas, açúcar e sódio — mas pobres em nutrientes, como fibras, vitaminas e minerais. Com o tempo, o desequilíbrio favorece o ganho de peso e prejudica o desenvolvimento adequado do organismo.

    Além disso, o consumo frequente desses produtos altera o paladar infantil, fazendo com que a criança prefira alimentos muito doces, salgados ou gordurosos, e rejeite opções mais naturais, como frutas, verduras e legumes.

    Sedentarismo

    O sedentarismo em crianças é caracterizado por longos períodos de inatividade, como assistir televisão, jogar videogame ou usar o celular. O comportamento ficou cada vez mais comum nos últimos anos, com o avanço da tecnologia e a redução das brincadeiras ao ar livre, o que faz com que as crianças gastem menos energia do que consomem.

    Quando a baixa movimentação é somada com uma alimentação rica em ultraprocessados e pobre em nutrientes, o resultado é o acúmulo de gordura corporal e o aumento do peso. O sedentarismo também interfere no desenvolvimento muscular, na coordenação motora e na saúde emocional, podendo causar irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração.

    A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças e adolescentes realizem pelo menos 60 minutos de atividade física por dia, incluindo brincadeiras, esportes e jogos.

    Fatores genéticos e hormonais

    As crianças filhas de pais com obesidade têm maior predisposição genética a desenvolver o mesmo quadro, já que herdam genes que influenciam o metabolismo, o apetite e a forma como o corpo armazena gordura.

    Além da herança genética, o ambiente familiar também tem grande impacto: hábitos alimentares inadequados, pouca prática de atividade física e rotina sedentária tendem a ser reproduzidos pelas crianças.

    Para complementar, distúrbios hormonais, como hipotireoidismo, síndrome de Cushing e resistência à insulina podem interferir no metabolismo, diminuindo o gasto energético e favorecendo o ganho de peso.

    Fatores emocionais

    Não é incomum que algumas crianças utilizem a comida como uma forma de compensar sentimentos de tristeza, ansiedade, solidão ou até tédio. O comportamento, conhecido como “fome emocional”, faz com que o alimento se torne uma válvula de escape para lidar com emoções difíceis.

    Com o tempo, isso pode gerar um ciclo de dependência: a criança come para se sentir melhor, mas logo sente culpa ou desconforto, o que leva a novos episódios de compulsão alimentar.

    Sono inadequado

    O sono inadequado na infância altera o equilíbrio hormonal e o funcionamento do metabolismo, aumentando o risco de obesidade. Durante o sono, o corpo regula hormônios importantes relacionados ao apetite, como a leptina (que sinaliza saciedade) e a grelina (que estimula a fome).

    Quando a criança dorme pouco, há uma redução da leptina e um aumento da grelina, o que faz com que ela sinta mais fome e tenha maior tendência a consumir alimentos calóricos e ultraprocessados.

    Crianças que dormem mal também tendem a ficar mais irritadas, dispersas e cansadas durante o dia, o que reduz a disposição para se movimentar, praticar esportes ou brincar, aumentando o comportamento sedentário e, consequentemente, o risco de obesidade.

    Por que a obesidade infantil tem crescido tanto nos últimos anos?

    A obesidade infantil no Brasil é um problema de saúde pública crescente, com cerca de um em cada três crianças entre 5 e 9 anos estando acima do peso. Para se ter uma ideia, pela primeira vez na história, o excesso de peso grave superou a desnutrição como a maior forma de má nutrição infantil, de acordo com dados do Fundo das Nações Unidas.

    Mas afinal, por que isso está acontecendo? De acordo com a nutricionista Mariana Del Bosco, o país vive uma realidade com ambientes cada vez mais obesogênicos. As crianças estão mais sedentárias, a questão da segurança tende a impedir atividade física e há uma enorme oferta de alimentos de alta densidade energética.

    O consumo de ultraprocessados cresceu, e os produtos têm alto teor de açúcar e gordura que aumentam a ingestão calórica e o risco de a obesidade aparecer.

    “Todas as esferas da sociedade têm o seu papel. O governo, por exemplo, com políticas que poderiam proteger as crianças, com regulamentação de rotulagem e de publicidade para produtos de criança; a escola, promovendo uma cantina mais saudável, podendo ser um ambiente de educação alimentar e nutricional; as indústrias fazendo uma comunicação clara, melhorando a qualidade de produtos, e a família com uma parcela dessa responsabilização”, explica a nutricionista.

    Sintomas de obesidade infantil

    A obesidade infantil pode se desenvolver de forma gradual, e nem sempre o quadro é percebido de imediato pelos pais. O principal sintoma é o acúmulo excessivo de gordura corporal, além de sinais como:

    • Aumento rápido de peso desproporcional ao crescimento da altura;
    • Acúmulo de gordura em regiões como abdômen, braços, coxas e rosto;
    • Roupas apertando com frequência ou necessidade de trocar de tamanho fora do padrão esperado para a idade;
    • Falta de fôlego ou cansaço durante atividades simples, como subir escadas ou correr;
    • Dores nas articulações, especialmente joelhos e tornozelos, devido à sobrecarga do peso.

    A criança também pode apresentar sinais comportamentais e emocionais, como:

    • Preferência por alimentos ultraprocessados e rejeição a frutas, verduras e refeições caseiras;
    • Sedentarismo e desinteresse por atividades físicas;
    • Uso excessivo de telas (celular, TV, videogame);
    • Baixa autoestima e isolamento social, muitas vezes por causa de bullying;
    • Alterações de humor, ansiedade e compulsão alimentar.

    Riscos da obesidade infantil

    O excesso de gordura corporal na infância pode causar diversos problemas de saúde ainda nessa fase e aumentar o risco de doenças graves na vida adulta. Entre os principais riscos, é possível destacar:

    • Diabetes tipo 2;
    • Colesterol e triglicerídeos elevados;
    • Hipertensão arterial;
    • Doenças cardiovasculares precoces;
    • Problemas respiratórios, como apneia do sono;
    • Alterações hormonais e puberdade precoce;
    • Dores nas articulações e deformidades ósseas;
    • Esteatose hepática (gordura no fígado);
    • Dificuldades de locomoção e baixa resistência física;
    • Transtornos alimentares e ansiedade;
    • Baixa autoestima e isolamento social;
    • Maior probabilidade de obesidade na vida adulta.

    Como é feito o diagnóstico?

    O diagnóstico da obesidade infantil é feito pelos pediatras através da avaliação do peso, da altura e outros fatores ligados ao crescimento e à composição corporal da criança. O principal parâmetro utilizado é o Índice de Massa Corporal (IMC), cujo valor é comparado com curvas de crescimento específicas para idade e sexo, de acordo com Mariana.

    Além do IMC, a avaliação pode incluir também composição corporal, percentual de gordura, circunferências e análise do padrão alimentar. Em muitos casos, são solicitados exames complementares, como:

    • Glicemia e insulina;
    • Colesterol total e frações (HDL, LDL);
    • Triglicerídeos;
    • Função hepática (TGO, TGP);
    • Função tireoidiana.

    Vale ressaltar que o diagnóstico não se baseia apenas em números e é fundamental compreender o contexto alimentar, o nível de atividade física e fatores emocionais e sociais que podem estar contribuindo para o ganho de peso.

    Nesse contexto, Mariana explica que o pediatra está na linha de frente dessa triagem, porque acompanha peso e estatura pelo menos uma vez por ano. A observação da curva de crescimento é um dos sinais mais precoces: mesmo antes de cruzar as linhas de sobrepeso ou obesidade, a tendência de subida já é alerta de risco e já justifica avaliação mais detalhada.

    Tratamento de obesidade infantil

    O tratamento da obesidade infantil deve ser sempre individualizado e supervisionado por profissionais de saúde, envolvendo médico, nutricionista, educador físico e, quando necessário, psicólogo. O objetivo principal não é apenas a perda de peso, mas a mudança de hábitos e a promoção de um estilo de vida saudável que possa ser mantido a longo prazo.

    Ele envolve uma série de medidas, como:

    Alimentação equilibrada: basear as refeições em alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, grãos integrais e proteínas magras. Deve-se reduzir o consumo de ultraprocessados, refrigerantes, doces e fast-food;

    Rotina alimentar estruturada: manter horários regulares para as refeições e evitar “beliscar” o tempo todo. Fazer as refeições à mesa, sem distrações como TV ou celular, ajuda a reconhecer quando está satisfeito;

    Atividade física diária: incentivar pelo menos 60 minutos de movimento por dia, incluindo brincadeiras, esportes e atividades ao ar livre. O objetivo é aumentar o gasto energético e fortalecer músculos e ossos;

    Uso de medicamentos (em casos específicos): indicado apenas sob orientação médica, quando há doenças associadas ou obesidade grave que não responde a outras medidas;

    Sono adequado: a privação de sono desequilibra os hormônios da fome (grelina e leptina) e favorece o ganho de peso;

    Redução do tempo de tela: limitar o uso de televisão, celular e videogame a no máximo duas horas por dia, conforme recomendação da OMS;

    Apoio psicológico: ajudar a criança a lidar com sentimentos de ansiedade, frustração e baixa autoestima que podem levar à compulsão alimentar.

    Segundo Mariana, se a criança entra na puberdade com peso adequado, o risco de manter obesidade na vida adulta diminui de forma significativa. Por isso, o cuidado precisa começar assim que o risco aparece, e não apenas quando o problema já está instalado.

    Dieta restritiva é necessária no tratamento de obesidade infantil?

    A dieta restritiva não é indicada no tratamento da obesidade infantil. A criança precisa comer bem para crescer, se desenvolver e construir relação saudável com o alimento. De acordo com Mariana, o foco não é cortar alimentos de forma rígida, mas melhorar a qualidade do que está na rotina da família.

    A orientação nutricional busca organizar o entorno: o que entra no carrinho de supermercado, o que está disponível em casa, como a família faz as refeições e como o alimento aparece no dia a dia.

    Assim, a rotina será mais equilibrada, com mais alimentos nutritivos e menos ultraprocessados, sem comprometer o desenvolvimento do pequeno. A inclusão de indulgências eventuais, como um sorvete no fim de semana ou uma festinha, faz parte do plano. O resultado vem da mudança sustentada de comportamento, e não de restrição radical.

    Quanto de atividade física para crianças é recomendado?

    De acordo com o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, as recomendações variam conforme a idade e o estágio de desenvolvimento da criança:

    • Crianças de até 1 ano: pelo menos 30 minutos por dia em posição de bruços (“de barriga para baixo”), distribuídos ao longo do dia, em diferentes momentos;
    • Crianças de 1 a 2 anos: pelo menos 3 horas por dia de atividades físicas de qualquer intensidade, divididas ao longo do dia;
    • Crianças de 3 a 5 anos: pelo menos 3 horas por dia de atividades físicas de qualquer intensidade, sendo no mínimo 1 hora de intensidade moderada a vigorosa.

    A atividade física para crianças pode acontecer principalmente por meio de jogos, brincadeiras e movimentos espontâneos, mas também pode envolver atividades mais estruturadas, como aulas de educação física, escolinhas de esportes e natação — sempre supervisionadas por pais, responsáveis ou professores.

    Alguns exemplos de atividades por faixa etária:

    • Até 1 ano: brincadeiras que estimulem movimentos como rolar, engatinhar, sentar, puxar, empurrar, equilibrar-se e alcançar objetos;
    • De 1 a 2 anos: atividades que envolvam andar, correr, pular, escalar, lançar e segurar bolas, girar e equilibrar-se;
    • De 3 a 5 anos: jogos e brincadeiras como caminhar, correr, chutar, saltar, arremessar e atravessar obstáculos. Nessa fase, a criança também pode participar de esportes, danças, ginástica, lutas e deslocamentos ativos (a pé ou de bicicleta, sempre acompanhada por um adulto).

    Confira: Como montar um prato saudável em buffets? Veja algumas dicas

    É possível prevenir a obesidade infantil?

    A obesidade infantil pode ser prevenida, principalmente com hábitos saudáveis adotados desde os primeiros anos de vida. A prevenção começa em casa, com o exemplo dos pais, e deve envolver alimentação equilibrada, prática de atividade física e um ambiente emocional saudável. Veja alguns cuidados:

    • Oferecer frutas, verduras, legumes, grãos integrais e alimentos naturais no dia a dia, evitando ultraprocessados, refrigerantes, doces e fast-food;
    • Manter horários regulares, comer à mesa e evitar distrações como TV e celular durante as refeições.
    • Manter a amamentação exclusiva e em livre demanda até os 6 meses, o que ajuda a regular o apetite e reduzir o risco de obesidade futura;
    • Crianças maiores de 6 meses devem beber água antes, durante e após a atividade física.
    • Estimular brincadeiras ativas, esportes e atividades ao ar livre diariamente, como caminhadas, corridas, danças e ginásticas;
    • Reduzir o tempo em frente à televisão, computador e celular a no máximo duas horas por dia.

    Quanto mais cedo os hábitos forem incorporados à rotina familiar, maiores serão as chances de a criança crescer saudável e manter um peso adequado na vida adulta.

    Leia também: Delivery saudável: nutricionista dá dicas para escolher bem

    Perguntas frequentes

    Como saber se meu filho está acima do peso?

    O peso isolado não é suficiente para avaliar a obesidade infantil. O pediatra utiliza o IMC (peso dividido pela altura ao quadrado) e compara com curvas de crescimento específicas para cada faixa etária. Quando o valor ultrapassa o percentil 97, a criança é considerada obesa.

    O acúmulo de gordura no abdômen, os hábitos alimentares, o nível de atividade física e o histórico familiar também entram na avaliação. Por isso, manter acompanhamento regular com o especialista é importante para identificar fatores de risco de forma precoce.

    A obesidade infantil tem cura?

    Sim, é possível reverter o quadro de obesidade infantil com mudanças de estilo de vida. Na infância, o organismo ainda está em formação, o que facilita o controle do peso quando há intervenção precoce.

    O tratamento envolve alimentação equilibrada, estímulo à atividade física e acompanhamento médico e nutricional. O foco não é apenas emagrecer, mas adotar hábitos que possam ser mantidos por toda a vida.

    Quando procurar ajuda profissional?

    Os pais devem procurar um pediatra ou nutricionista quando perceberem ganho de peso acelerado, cansaço, falta de disposição para brincar ou sinais de baixa autoestima.

    Mesmo em casos leves, o acompanhamento profissional é importante para evitar que o quadro se agrave. Quanto mais cedo o diagnóstico e a orientação, maiores as chances de sucesso.

    A obesidade infantil pode continuar na vida adulta?

    Sim! Pesquisas mostram que cerca de 70% das crianças com obesidade se tornam adultos obesos, principalmente quando o problema não é tratado precocemente. Isso aumenta o risco de desenvolver doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Assim, a infância é a fase mais importante para agir e tratar a condição.

    A amamentação ajuda a prevenir a obesidade infantil?

    Sim, pois o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade ajuda a regular o apetite da criança e favorece o desenvolvimento de um metabolismo saudável. O leite materno contém todos os nutrientes necessários e estimula o bebê a reconhecer os sinais de fome e saciedade, o que reduz o risco de obesidade no futuro.

    Crianças obesas podem praticar qualquer tipo de esporte?

    Sim, desde que respeitadas suas condições físicas e sob orientação de um profissional. Esportes como natação, caminhada, ciclismo e dança são boas opções, pois reduzem o impacto nas articulações e estimulam o prazer pelo movimento.

    O mais importante é que a criança se divirta e mantenha a regularidade, sem sentir que o exercício é uma punição.

    Veja mais: Fome emocional: o que é, sintomas e como controlar

  • Gordura visceral: como ela se relaciona ao risco cardíaco?

    Gordura visceral: como ela se relaciona ao risco cardíaco?

    Sabia que o acúmulo de gordura na região abdominal não está ligado apenas a questões estéticas? Na verdade, a obesidade abdominal é um dos principais marcadores de risco para doenças do coração e pode indicar que existe um excesso de gordura visceral — que é a gordura que se acumula entre os órgãos internos, como fígado e pâncreas.

    Ela é responsável por liberar uma série de substâncias inflamatórias no organismo, que promovem um estado de inflamação crônica e aumentam o risco de problemas cardiovasculares. Para entender melhor os riscos e os valores que podem indicar o acúmulo de gordura visceral, conversamos com a cardiologista Juliana Soares. Confira!

    Afinal, o que é gordura visceral?

    A gordura visceral é a gordura que se acumula dentro da cavidade abdominal, ao redor de órgãos internos como fígado, intestino, estômago e pâncreas. Ao contrário da gordura subcutânea, que fica logo abaixo da pele, ela está localizada em uma camada mais profunda e é muito mais perigosa do ponto de vista metabólico.

    De acordo com a cardiologista Juliana Soares, a gordura visceral libera uma série de substâncias inflamatórias que promovem um estado de inflamação crônica, aumentando o risco de várias condições de saúde.

    Quanto maior o volume de gordura visceral, maior o risco cardiovascular — mesmo quando o peso total na balança não parece tão elevado. Por isso, medidas como circunferência abdominal são amplamente utilizadas na avaliação de risco cardíaco.

    Qual a diferença entre gordura visceral e gordura subcutânea?

    A gordura subcutânea é a gordura que fica logo abaixo da pele, e funciona como reserva de energia, protege contra impactos e ajuda no isolamento térmico do corpo. Ela costuma aparecer mais em áreas como quadris, coxas, glúteos e barriga — e, no geral, ela é menos perigosa para o metabolismo.

    A gordura visceral, por outro lado, está localizada em uma camada mais profunda e se acumula dentro do abdômen, entre os órgãos internos. Ela é metabolicamente ativa e libera substâncias inflamatórias que alteram o funcionamento do organismo, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, de acordo com Juliana.

    Riscos da gordura visceral para a saúde do coração

    A gordura visceral aumenta o risco cardiovascular porque promove um processo de inflamação crônica que altera a função das artérias e da circulação, interferindo no metabolismo, piorando o perfil de colesterol e aumentando a resistência à insulina. Tudo isso, em conjunto, favorece o desenvolvimento de:

    • Hipertensão arterial (pressão alta);
    • Rigidez das artérias;
    • Acúmulo de placas de gordura nas paredes dos vasos;
    • Piora do colesterol e dos triglicérides;
    • Maior risco de diabetes tipo 2;
    • Insuficiência cardíaca;
    • Infarto agudo do miocárdio;
    • Acidente vascular cerebral (AVC).

    Vale ressaltar que as condições se instalam de forma lenta e silenciosa, conforme o organismo convive com níveis elevados de inflamação, má circulação e alterações metabólicas contínuas.

    Como medir a circunferência abdominal para estimar gordura visceral?

    A circunferência abdominal é a medida que funciona como marcador de risco cardiovascular porque reflete o acúmulo de gordura visceral. Diferentemente do IMC, que indica apenas a relação entre peso e altura, a circunferência abdominal mostra onde a gordura está concentrada — e quando ela está no abdômen, o risco metabólico e cardiovascular é maior.

    Os valores podem variar conforme as diretrizes, mas de forma geral, Juliana Soares aponta:

    • Mulheres: medidas de cintura acima de 80 cm já ligam o sinal de alerta; valores acima de 88 cm estão associados a risco cardiovascular aumentado;
    • Homens: medidas de cintura acima de 94 cm já representam atenção; valores superiores a 102 cm se relacionam a risco cardiovascular significativamente maior.

    É possível ter peso normal e alto risco cardíaco ao mesmo tempo?

    A resposta é sim. De acordo com Juliana, existe uma condição clínica chamada obesidade com peso normal, em que a pessoa pode ter um índice de massa corporal (IMC) dentro da faixa considerada normal e, ainda assim, apresentar excesso de gordura visceral — identificado pela circunferência abdominal aumentada.

    Pessoas nessa condição podem ter o mesmo risco metabólico e cardiovascular de quem apresenta obesidade.

    Como perder gordura visceral para proteger o coração?

    A redução da gordura abdominal é um processo que envolve uma série de mudanças no dia a dia, como:

    • Priorizar alimentos in natura, como hortaliças, frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras;
    • Reduzir o consumo de açúcar, farinhas refinadas, álcool e ultraprocessados, que favorecem picos de glicemia, aumento de inflamação e acúmulo de gordura abdominal;
    • Praticar atividade física regular, combinando exercício aeróbico e treino de força ao longo da semana, para aumentar o gasto energético e estimular o metabolismo;
    • Dormir bem, com horário definido e boa higiene do sono (ambiente adequado, luz reduzida, rotina previsível), para evitar alterações hormonais que favorecem a fome e o armazenamento de gordura;
    • Controlar o estresse de forma contínua, já que o cortisol elevado por longos períodos aumenta o acúmulo de gordura visceral e piora o risco metabólico.

    Atividades como caminhada, corrida leve, bike, dança, elíptico, natação e qualquer atividade aeróbica regular ajudam a reduzir a gordura visceral. Já o treino de força aumenta a massa muscular, melhora o metabolismo e facilita que o corpo queime gordura ao longo do dia.

    O Ministério da Saúde recomenda o mínimo de 150 minutos semanais de atividade física moderada ou 75 minutos semanais de atividade vigorosa para adultos. Além disso, ele indica incluir exercícios de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana.

    Com a perda de peso, o corpo demora a se recuperar?

    O risco cardiovascular diminui relativamente rápido à medida que a gordura visceral começa a ser reduzida, segundo Juliana. Quando o organismo é submetido a mudanças positivas, como alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e ajustes de estilo de vida, a gordura é mobilizada com mais facilidade.

    Os benefícios metabólicos podem aparecer já nas primeiras semanas. Mesmo que o peso total demore mais para cair, só o fato de melhorar o estilo de vida já traz impacto positivo consistente para a saúde.

    Confira: 7 erros comuns que atrapalham a saúde do coração

    Perguntas frequentes

    1. A gordura visceral aumenta a pressão arterial?

    Sim, pois a gordura visceral libera substâncias inflamatórias que prejudicam a função vascular. As artérias vão perdendo elasticidade e ficam mais rígidas com o tempo, favorecendo o aumento da pressão arterial. O coração precisa fazer mais força para bombear sangue e isso, ao longo dos anos, desgasta o sistema cardiovascular.

    2. O álcool contribui para gordura abdominal?

    Sim! O álcool tem alto valor calórico, altera metabolismo de gordura no fígado e favorece acumulação de gordura visceral. Ele também aumenta o apetite, reduz a saciedade e facilita o consumo de calorias extras sem percepção clara.

    Com o tempo, o hábito de consumo frequente pode acelerar o acúmulo de gordura na região do abdômen e aumentar o risco metabólico.

    3. Cortar glúten reduz a gordura abdominal?

    Não necessariamente, pois o que reduz gordura abdominal é diminuir alimentos de alta carga glicêmica e calorias vazias. Algumas pessoas observam melhora ao retirar glúten apenas porque deixam de consumir alimentos muito refinados, como pizzas, massas e bolos, que são ricos em farinha branca.

    A mudança ocorre por causa da redução de carboidratos ultraprocessados, e não pelo glúten em si. O foco deve estar em reduzir o excesso de carboidratos refinados, com alimentação mais natural e equilibrada.

    4. Quando o inchaço abdominal deve ser investigado como gordura visceral?

    Quando o aumento do abdômen é persistente e não se relaciona apenas à retenção de líquidos pontual ou distensão após refeições. Se o volume permanece ao longo dos dias e semanas, existe probabilidade de estar relacionado a depósito de gordura visceral, e não a inchaço transitório. Nesses casos, é indicada uma avaliação clínica.

    5. Quando a gordura abdominal passa a ser um sinal de alerta?

    A gordura abdominal começa a preocupar quando o volume do abdômen aumenta de forma contínua, quando roupas deixam de servir na cintura ou quando há ganho de centímetros na circunferência abdominal, mesmo sem aumento significativo no peso total.

    Assim, sempre que houver percepção de mudança rápida do formato da barriga, o ideal é buscar avaliação clínica para medir a circunferência abdominal e revisar fatores de risco associados.

    6. Quando é necessário procurar atendimento de urgência?

    Procure um médico quando houver sintomas como falta de ar repentina, dor ou pressão no peito, palpitações intensas, tontura, sensação de desmaio ou mal-estar súbito. Eles podem indicar um evento cardiovascular e exigem atendimento imediato.

    Leia também: Sedentarismo faz mal ao coração? Veja em quanto tempo o risco aumenta

  • ‘Bebês Ozempic’: como os análogos do GLP-1 impactam a fertilidade?

    ‘Bebês Ozempic’: como os análogos do GLP-1 impactam a fertilidade?

    Inicialmente criados para o tratamento de diabetes tipo 2, os remédios análogos do GLP-1, como o Ozempic, também se tornaram populares para a perda de peso. Eles funcionam imitando a ação de um hormônio produzido no intestino, responsável por controlar a glicose no sangue e aumentar a sensação de saciedade.

    Mas, nos últimos anos, com o crescimento acelerado do uso dos medicamentos, começaram a surgir relatos curiosos sobre outros possíveis efeitos: mulheres que antes enfrentavam dificuldades para engravidar acabaram gestando após o início do tratamento. Nas redes sociais, o fenômeno ganhou um apelido que rapidamente viralizou — os chamados “bebês Ozempic”.

    Mas, afinal, existe relação entre os agonistas de GLP-1 e a fertilidade? Para esclarecer as principais dúvidas (e trazer orientações), conversamos com a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza.

    O que são os agonistas do GLP-1 e como eles funcionam?

    O GLP-1 (glucagon-like peptide-1) é um hormônio produzido pelo intestino logo após as refeições. Ele ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue ao estimular a liberação de insulina, reduzir a secreção de glucagon e retardar o esvaziamento gástrico. Também aumenta a sensação de saciedade, favorecendo a redução natural da ingestão de calorias.

    Como o GLP-1 é rapidamente degradado pelo organismo, surgiram os agonistas do GLP-1 (GLP-1 RAs), medicamentos que imitam sua ação, mas permanecem ativos por mais tempo, trazendo efeitos prolongados no controle metabólico e no auxílio ao emagrecimento.

    Um dos mais conhecidos é a semaglutida (Ozempic). Além do efeito metabólico, ela atravessa a barreira hematoencefálica e age em áreas do cérebro relacionadas ao craving (compulsão por comida), reduzindo o apetite e o comportamento compulsivo.

    Como resultado, a pessoa tende a comer menos, perder peso e melhorar condições associadas, como resistência à insulina e síndrome metabólica — fatores que impactam diretamente a saúde reprodutiva e a fertilidade feminina.

    Como a obesidade e o metabolismo influenciam a fertilidade feminina?

    A obesidade é um dos principais fatores que afetam a fertilidade. O excesso de gordura corporal contribui para o desequilíbrio hormonal, pois o tecido adiposo também produz hormônios. Isso pode levar a ciclos irregulares, ausência de ovulação e dificuldade para engravidar.

    Outro ponto é a resistência à insulina, comum em mulheres com sobrepeso/obesidade. Quando o corpo não responde bem à insulina, ele produz mais hormônio, o que aumenta a produção de androgênios (hormônios masculinos). Esse desequilíbrio atrapalha o amadurecimento e a liberação do óvulo.

    Exemplo frequente é a síndrome dos ovários policísticos (SOP), que afeta cerca de 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva: ciclos irregulares, anovulação e impacto na fertilidade.

    Nesse cenário, os análogos de GLP-1 podem auxiliar ao:

    • Reduzir o peso corporal;
    • Melhorar a sensibilidade à insulina;
    • Reequilibrar os hormônios sexuais;
    • Favorecer o retorno da ovulação.

    Segundo Andreia, mulheres com SOP que emagrecem (especialmente com obesidade) muitas vezes restabelecem o equilíbrio hormonal apenas com a perda de peso, voltando a menstruar regularmente após meses de amenorreia. Por isso, a perda de peso é parte fundamental do tratamento, e o uso de GLP-1 pode ser uma abordagem útil — sempre com orientação profissional.

    Os agonistas do GLP-1 podem interferir no anticoncepcional?

    Até o momento, não há evidências robustas de redução da eficácia da pílula anticoncepcional em usuárias de agonistas do GLP-1.

    No entanto, esses fármacos alteram a motilidade gastrointestinal e podem retardar a absorção de medicamentos orais, inclusive contraceptivos. Na prática, as pílulas costumam ter dose suficiente para manter a eficácia, mesmo com absorção mais lenta.

    Ainda assim, recomenda-se considerar métodos que não dependam da via oral (DIU, implantes, adesivos, anéis, injetáveis) durante o uso de GLP-1, sobretudo em quem não deseja engravidar.

    Existe risco para o bebê ao engravidar durante o uso de GLP-1?

    Faltam dados de segurança na gestação; portanto, não se recomenda o uso de agonistas do GLP-1 durante a gravidez.

    Se a mulher descobrir que está grávida enquanto usa Ozempic ou similares, deve interromper imediatamente e procurar orientação médica. O mesmo cuidado vale para a lactação, pois não se sabe se o medicamento é excretado no leite materno.

    Em gestação planejada, recomenda-se suspender com antecedência:

    • Versões diárias: alguns dias podem bastar;
    • Versões semanais (ex.: semaglutida): cerca de duas semanas para eliminação;
    • Ainda assim, prefere-se suspender 1 a 2 meses antes de tentar engravidar.

    Engravidei tomando Ozempic. E agora?

    Interrompa o uso imediatamente e procure seu médico. Não há estudos controlados em gestantes, e os efeitos sobre o desenvolvimento fetal são incertos.

    Para gestantes com diabetes tipo 2, uma alternativa é a metformina, medicamento amplamente estudado e considerado seguro na gestação. Ela não promove perda de peso, mas auxilia no controle da resistência insulínica.

    Veja também: Wegovy e Ozempic: como funcionam para perda de peso

    Perguntas frequentes

    Tomar Ozempic pode atrapalhar quem já está tentando engravidar?

    De forma direta, não. Porém, o medicamento não deve ser usado na gravidez pela falta de dados de segurança. Se estiver em fase ativa de tentativas, suspenda o uso 1–2 meses antes de buscar a concepção.

    Os agonistas do GLP-1 são indicados como tratamento para infertilidade?

    Não. Eles não são indutores de fertilidade. Foram desenvolvidos para diabetes tipo 2 e aprovados para obesidade. O benefício na fertilidade é indireto: melhora metabólica, menor resistência insulínica e perda de peso tendem a favorecer a ovulação.

    Existe diferença entre o efeito do Ozempic e de outros agonistas do GLP-1 na fertilidade?

    Os efeitos de classe são semelhantes (controle glicêmico, menor apetite, perda de peso). A semaglutida (Ozempic/Wegovy) costuma ser mais potente para emagrecimento do que a liraglutida, o que pode trazer impacto indireto maior na ovulação devido à maior redução ponderal.

    Quero engravidar, mas tenho diabetes tipo 2. O que fazer?

    Converse com seu ginecologista/endócrino. Em geral, substitui-se GLP-1 por fármacos com segurança estabelecida na gestação, como metformina ou, em alguns casos, insulina, antes de tentar engravidar.

    Resistência à insulina sem SOP também afeta a fertilidade?

    Sim. Mesmo sem SOP, a hiperinsulinemia pode elevar andrógenos ovarianos e prejudicar a ovulação. O manejo do peso, da resistência insulínica e do estilo de vida ajuda a restabelecer ciclos ovulatórios.

    Leia também: Ozempic na gravidez: por que não é seguro usar

  • Ozempic e similares podem reduzir risco de câncer ligado à obesidade?

    Ozempic e similares podem reduzir risco de câncer ligado à obesidade?

    Considerada um importante problema de saúde pública, a obesidade é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de câncer. O acúmulo de gordura corporal provoca inflamação crônica e altera níveis hormonais, favorecendo a multiplicação de células cancerígenas.

    Manter um peso saudável é essencial tanto para prevenir tumores malignos quanto para melhorar a resposta ao tratamento em quem já possui o diagnóstico. Nos últimos anos, alternativas como os agonistas do GLP-1 (como Ozempic e Wegovy), inicialmente desenvolvidos para tratar diabetes tipo 2, têm ganhado destaque no controle da obesidade.

    Esses medicamentos aumentam a saciedade, retardam o esvaziamento gástrico e ajudam no controle da glicose, reduzindo o apetite e o peso corporal. Mas será que eles podem realmente mudar o cenário da prevenção do câncer? Veja o que dizem as pesquisas.

    Qual a relação entre o excesso de peso e o câncer?

    O câncer surge de alterações no DNA que levam ao crescimento desordenado de células. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), grande parte dos casos está ligada a hábitos como má alimentação, sedentarismo e excesso de peso.

    O oncologista Thiago Chadid destaca que, a cada 5 pontos que o IMC sobe, o risco de câncer aumenta cerca de 15% em mulheres e 13% em homens. Isso significa que uma pessoa que passa de IMC 22 para 27 já tem aumento de cerca de 25% no risco de desenvolver câncer.

    O risco está relacionado à gordura corporal, não apenas ao peso total. O excesso de gordura aumenta a probabilidade de câncer por três mecanismos principais:

    • Inflamação crônica: a gordura em excesso promove inflamação contínua, que facilita mutações genéticas e o crescimento de células anormais;
    • Desequilíbrio hormonal: há aumento de insulina e fatores de crescimento celular, que estimulam a proliferação tumoral;
    • Produção de estrogênio: em mulheres na pós-menopausa, a gordura abdominal torna-se a principal fonte de estrogênio, elevando o risco de câncer de mama.

    O excesso de peso está associado a pelo menos 13 tipos de câncer, como os de pâncreas, fígado, rins, intestino, estômago, mama e vesícula biliar, além de possíveis vínculos com câncer de próstata avançado e linfomas.

    O que são agonistas do GLP-1?

    Os agonistas do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) são medicamentos criados para tratar diabetes tipo 2. Eles imitam a ação de um hormônio intestinal que estimula a liberação de insulina, reduz o apetite e retarda o esvaziamento gástrico, promovendo saciedade.

    A semaglutida (Ozempic) é o exemplo mais conhecido. Além de controlar o metabolismo, age no sistema nervoso central, reduzindo a fome e facilitando dietas hipocalóricas, o que levou à sua adoção também no tratamento da obesidade.

    Ao reduzir o excesso de gordura, esses fármacos diminuem inflamação e desequilíbrios hormonais, podendo teoricamente reduzir o risco de câncer. Mas as evidências ainda estão sendo estudadas.

    Agonistas de GLP-1 e câncer: o que dizem as pesquisas científicas?

    Os agonistas de GLP-1 são medicamentos recentes, e as evidências sobre seu impacto no risco de câncer ainda são iniciais, embora promissoras.

    Um estudo publicado na JAMA Oncology com mais de 86 mil adultos com obesidade mostrou que o uso desses medicamentos reduziu o risco geral de câncer em cerca de 17%. Já uma análise nacional de 1,1 milhão de pacientes (revista Cancers, 2025) reforçou o potencial protetor — especialmente contra tumores de mama, próstata e trato gastrointestinal. A semaglutida mostrou forte proteção para cânceres digestivos.

    Aumento discreto de risco

    Apesar dos resultados positivos, alguns estudos observaram pequeno aumento de risco em casos específicos. A liraglutida foi associada a maior incidência de câncer de tireoide e pulmão em algumas populações, e a JAMA Oncology apontou aumento discreto (não significativo) de câncer renal.

    Segundo os pesquisadores liderados por Hao Dai, os GLP-1 parecem ter efeito protetor em vários tipos de câncer, mas ainda é preciso acompanhar a longo prazo para entender melhor os mecanismos e possíveis riscos em órgãos específicos.

    Thiago Chadid lembra que muitos estudos foram feitos com pessoas com diabetes tipo 2 — grupo que já tem risco maior de câncer — e que o grau de perda de peso influencia diretamente os resultados. Por isso, embora os dados sejam animadores, ainda não é possível afirmar com certeza que esses medicamentos previnem o câncer.

    E para quem já teve câncer?

    Não há evidências suficientes de que os agonistas de GLP-1 reduzam recidivas ou aumentem a sobrevida em quem já teve câncer. Também não se sabe se são totalmente seguros em pacientes com histórico de determinados tumores, como os de tireoide. O uso deve ser individualizado e decidido junto ao médico responsável.

    Quais são os melhores hábitos para prevenir a obesidade?

    O estilo de vida continua sendo o fator mais importante para prevenir obesidade e doenças associadas:

    • Alimentação equilibrada: prefira alimentos in natura e reduza ultraprocessados, fast food e bebidas açucaradas;
    • Atividade física regular: pratique pelo menos 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos moderados e inclua treinos de força;
    • Sono de qualidade: dormir bem regula os hormônios da fome e da saciedade, como grelina e leptina;
    • Controle do estresse: o estresse crônico favorece ganho de peso; técnicas como meditação e respiração ajudam no equilíbrio emocional;
    • Hidratação adequada: beba água ao longo do dia e evite confundir sede com fome;
    • Evite álcool em excesso: é calórico e favorece o acúmulo de gordura e o risco de câncer.

    Aliado aos hábitos, o acompanhamento médico e nutricional é fundamental para prevenir e tratar a obesidade de forma personalizada e segura.

    Confira: Câncer de mama: o que é, sintomas, causa e como identificar

    Perguntas frequentes

    1. Quais tipos de câncer estão mais relacionados à obesidade?

    Segundo o INCA, a obesidade está ligada a tumores de esôfago (adenocarcinoma), estômago (cárdia), pâncreas, fígado, vesícula biliar, intestino, rins, mama (pós-menopausa), ovário, endométrio, tireoide, meningioma e mieloma múltiplo. Também há indícios de relação com câncer de próstata avançado, linfomas e câncer de mama em homens.

    2. Como a gordura corporal influencia no desenvolvimento do câncer?

    A gordura corporal libera substâncias inflamatórias, altera hormônios e favorece a resistência à insulina, criando um ambiente propício para mutações celulares. Além disso, a gordura abdominal produz estrogênio em excesso, aumentando o risco de câncer de mama e endométrio.

    3. Quem já teve câncer pode usar Ozempic?

    Em teoria, reduzir o peso e a inflamação pode trazer benefícios, mas ainda não há estudos robustos que confirmem a segurança e eficácia do Ozempic em pessoas com histórico de câncer. O uso deve ser avaliado individualmente e nunca feito sem prescrição médica.

    4. É possível prevenir a obesidade apenas com remédios?

    Não. Os medicamentos não substituem hábitos saudáveis. A prevenção envolve alimentação equilibrada, atividade física, suporte psicológico e, quando necessário, tratamento médico.

    5. Quanto de atividade física devo fazer para prevenir a obesidade?

    O Ministério da Saúde recomenda 150 a 300 minutos semanais de exercícios moderados (como caminhada ou dança) ou 75 a 150 minutos de atividades vigorosas (como corrida ou natação), distribuídos em três a cinco dias por semana. Mesmo pequenas mudanças, como usar escadas ou caminhar mais, ajudam a manter o corpo ativo e o peso sob controle.

    Leia também: Recidiva do câncer: por que ele pode voltar após o tratamento?

  • Ela perdeu 25 kg: ‘Minha relação com o corpo e saúde antes do emagrecimento era das piores’

    Ela perdeu 25 kg: ‘Minha relação com o corpo e saúde antes do emagrecimento era das piores’

    Mudar de vida nunca é simples: exige coragem, persistência e dedicação. Foi exatamente assim com Suzane Nascimento, advogada de 35 anos, que durante anos conviveu com o sedentarismo, o tabagismo e hábitos alimentares desregrados até perceber que sua saúde estava em risco. Hoje, depois de um longo processo, ela celebra não apenas um corpo transformado, mas uma nova relação consigo mesma.

    “A minha relação com o meu corpo e a minha saúde antes do emagrecimento era das piores. Eu não era uma pessoa que me preocupava muito com isso, além de ser fumante. Eu fui fumante durante 15 anos e decidi parar de fumar logo quando comecei esse processo de perda de peso”, conta.

    O ponto de virada para a perda de peso

    Uma cena aparentemente banal foi o gatilho para Suzane repensar sua vida.

    “Eu fui ao parque com meu cachorro, com o meu noivo na época, e andei do estacionamento para dentro do parque. Era janeiro e fiquei muito cansada e suando muito. Até então eu honestamente nem lembro se tinha me pesado, mas lembro que aquilo me preocupou bastante. Aí resolvi, naquele mês de janeiro ou fevereiro, procurar um médico. Achei que aquilo não estava muito certo”.

    Mais do que o incômodo físico, o episódio trouxe uma sensação de alerta. Ela procurou um especialista, começou a prestar atenção ao corpo e, pela primeira vez, encarou a balança com seriedade. Decidiu então iniciar uma mudança radical: parou de fumar, contratou uma nutricionista, voltou para a academia e ajustou toda a rotina.

    “Eu mudei tudo ao mesmo tempo porque, para mim, não ia funcionar se eu fizesse as coisas aos poucos. Então foi superdifícil, obviamente. Mas se eu tivesse feito de outro jeito, não teria conseguido”.

    Essa decisão exigiu disciplina desde o início, mas também coincidiu com um desafio emocional inesperado. Durante o processo de emagrecimento, seu noivo foi diagnosticado com leucemia.

    “Pensei que eu poderia me afundar ou eu poderia pegar a tristeza que eu estava sentindo e focar em alguma coisa que fizesse bem para mim. Foi quando foquei ainda mais na academia”.

    Apoio da terapia e da psiquiatria para a mudança de hábitos

    O processo não foi apenas físico, focado apenas na perda de peso. Para dar conta da carga emocional e da mudança de hábitos, Suzane buscou ajuda psicológica e médica.

    “Fiz terapia para poder processar tudo isso da melhor forma e tive tratamento psiquiátrico”, lembra. No início do processo ela usou medicamentos para poder passar por essa fase.

    “Me ajudou muito. Eu era contra esse tipo de uso de medicamento, até mesmo os psiquiátricos de ansiedade e depressão, mas percebi que são mecanismos que ajudam a gente a chegar no objetivo e a melhorar”.

    Ela conta que, em primeiro lugar, começou a fazer terapia e depois buscou ajuda psiquiátrica. “Isso me fez entender que os medicamentos iam me ajudar ainda mais no processo e contribuíram muito para enfrentar a doença do meu noivo sem voltar para os velhos hábitos”, recorda.

    Reaprendendo a comer

    Uma das mudanças mais difíceis foi ter uma alimentação equilibrada. Suzane conta que cresceu com o chamado “paladar infantil”, muito ligado a frituras, doces e fast-food.

    “Eu sempre adorei fritura, fast-food e comidas de criança mesmo. Foi um processo difícil sair disso para escolher uma alimentação saudável”, conta.

    Para não se perder na rotina, adotou estratégias práticas:

    • Fazer marmitas e congelar refeições para não cair em desculpas após o trabalho;
    • Reservar parte do domingo para cozinhar toda a semana;
    • Comer em casa antes de ir a festas ou churrascos, evitando exageros.

    “No começo tive que cortar drasticamente as coisas que eu gostava para poder me acostumar com alimentação saudável. Hoje a minha relação com a comida é completamente diferente”, conta.

    “Mesmo fora de casa, sempre opto por refeições saudáveis. Coloco legumes e salada primeiro no prato, depois proteína, um pouco de arroz e feijão. Isso aprendi com o tempo, consultando nutricionista e mudando a alimentação”.

    Leia também: Como montar um prato saudável para todas as refeições?

    A disciplina nos treinos

    A rotina de exercícios se tornou a base da transformação de Suzane. “Às vezes acordo às 4h50 da manhã para treinar, porque a estratégia que funciona comigo é treinar cedo. Sei que o resto do dia pode dar errado, mas já garanti meu treino. A sensação do pós-treino é o que me motiva”.

    Suzane treina musculação seis vezes por semana, corre de quatro a cinco vezes e, às vezes, inclui pilates. “Descanso só no domingo. Quando estou animada vou ao parque correr, mas geralmente domingo é pra não fazer nada”, fala.

    Ela comenta que o desânimo às vezes faz parte do percurso. “Tem hora que você quer desistir de tudo, comer um McDonald’s e não acordar cedo para treinar. Mas vou falar: os resultados, quando aparecem, viram um vício. No começo é muito difícil, demora para ver, mas quando começam a aparecer, viram motivação”.

    Mais que estética: saúde física, mental e emocional

    Suzane conta que, para o processo de emagrecimento, teve que passar por mudanças em todas as esferas possíveis: físicas, mentais e emocionais.

    “Foi um conjunto. Do mesmo jeito que é um conjunto para chegar nos objetivos. Não dá para trabalhar só uma coisa. Se você não cuida da mente, não cuida do corpo. Eu não acho que funciona escolher só uma coisa. Para mim não funciona. Preciso fazer tudo de uma vez. Se fosse aos poucos, eu desistiria”.

    Essa visão integrada também foi o que a manteve longe do cigarro, mesmo em momentos de grande dor.

    “Quando meu noivo ficou doente, eu tinha uns quatro, cinco meses de processo, já tinha parado de fumar. Pensei: ‘se eu não voltar a fumar nesse momento, nunca mais volto’. E realmente não voltei”.

    Para isso, ela passou a focar ainda mais nas coisas que faziam bem sem se vitimizar.

    “Foi a melhor coisa que fiz. No final, não pude salvá-lo, mas fiquei bem comigo mesma. Poderia ter perdido tudo: autoestima, emprego, um monte de coisa. Ele não estaria aqui de qualquer forma, mas eu teria que recomeçar do zero. Então decidi minimizar esses impactos”.

    Conquistas e próximos objetivos

    O processo já dura mais de três anos e rendeu resultados expressivos: perda de cerca de 25 quilos de gordura e ganho de massa magra.

    “Não é uma coisa de meses. Ainda tenho gordura pra perder. Vou no meu tempo, respeitando meu corpo e meus limites, pois tenho muita coisa pra conquistar ainda. Não cheguei no meu objetivo. Sempre preciso ter uma meta pra não desistir. Quando melhoro uma coisa, coloco na cabeça que preciso melhorar outra”.

    Ela conta que, parte do processo, é sempre buscar algo para melhorar.

    “O corpo, a mente e o físico nunca vão estar num limite de dizer: ‘estou bem’. Às vezes até chega perto, mas é importante manter a melhor versão e não desistir. Os hábitos bons, quando a gente aprende, não quer largar. Quem entra nisso e vê os benefícios que traz para o dia a dia não desiste”.

    Conselho de quem viveu na pele

    Ao olhar para trás, Suzane faz questão de destacar a importância da paciência e da persistência. Vai ter desânimo, vontade de desistir, mas os resultados vêm!

    “Meu conselho para quem está começando é: não desistir. É um processo difícil, mudar hábitos não é fácil. Mas uma coisa eu garanto: uma vez que você começa e se dedica, só vai ter benefícios”.

    Ela lembra que orientação profissional é sempre importante no processo, principalmente com relação ao acompanhamento nutricional. Mas, para começar, basta força de vontade!

    “Há métodos como aplicativos de treino que já ajudam muito. Antes de ter personal trainer, comecei o processo usando treinos prontos ou com ajuda de professores de academias de rede. Já perdi uns 10 quilos assim”.

    “Para quem está começando, digo: continue, tenha paciência, porque os resultados vêm e, quando vêm, é a melhor sensação do mundo. Esse é meu conselho”.

    Benefícios do emagrecimento para a saúde

    A cardiologista Juliana Soares, que integra o corpo clínico do Hospital Albert Einstein, explica que buscar e manter um peso saudável vai muito além da estética: é um investimento na saúde. O excesso de peso está associado a maior risco de pressão alta, diabetes tipo 2, colesterol alto e doenças cardiovasculares.

    Ao emagrecer de forma equilibrada, com acompanhamento profissional, o corpo reduz a sobrecarga sobre o coração, melhora a circulação, controla melhor a glicose no sangue e diminui a inflamação crônica que prejudica o organismo.

    Do ponto de vista cardiovascular, a perda de peso pode ajudar a regular a pressão arterial, reduzir o risco de infarto e AVC e melhorar a função do coração.

    Além disso, estar em um peso saudável significa ter mais disposição para atividades físicas, melhor qualidade do sono e mais bem-estar. Em resumo: emagrecer com saúde significa ganhar qualidade e expectativa de vida.

    *Cada caso é único. Consulte sempre um médico.

    Leia também: ‘Acordava com a sensação de que não conseguia respirar’: o relato de quem convive com ansiedade

  • IMC: o índice avalia o peso, mas não conta toda a história 

    IMC: o índice avalia o peso, mas não conta toda a história 

    No consultório médico, na academia ou em calculadoras online, o IMC (Índice de Massa Corporal) é um dos parâmetros mais usados para avaliar se uma pessoa está dentro do peso considerado saudável, pois relaciona o peso e a altura e classifica em faixas que vão de baixo peso até obesidade grave.

    Apesar de ser prático e útil para identificar riscos em populações, o IMC não é perfeito. Ele não diferencia massa muscular de gordura corporal, por exemplo, o que pode gerar distorções, como no caso de uma pessoa musculosa que aparece como acima do peso ou daquela com aparência magra, mas com alto percentual de gordura.

    Como calcular o IMC?

    É bem fácil fazer a conta:

    IMC = peso (kg) ÷ altura² (m)

    Uma pessoa com 70 kg e 1,70 m de altura, por exemplo, tem IMC de 24,2 kg/m².

    Valores de referência de IMC

    Os valores de referência para adultos são:

    • Abaixo de 18,5: baixo peso
    • 18,5 a 24,9: peso normal
    • 25 a 29,9: sobrepeso
    • 30 a 34,9: obesidade grau I
    • 35 a 39,9: obesidade grau II
    • 40 ou mais: obesidade grau III

    Essa tabela é usada como ferramenta de triagem para riscos ligados ao excesso de peso, como diabetes tipo 2, pressão alta e problemas cardiovasculares.

    Leia mais: Alimentação saudável: o que é, benefícios e como ter

    Limitações: quando ele pode enganar

    Embora seja importante, fácil de calcular e traga uma boa noção de que faixa a pessoa está, o exame tem algumas limitações:

    • Pessoas muito musculosas: o IMC pode apontar sobrepeso ou obesidade, mesmo quando o percentual de gordura é baixo;
    • Falsos magros: pessoas com peso considerado normal podem ter excesso de gordura corporal e baixo percentual de massa magra, o que aumenta o risco metabólico;
    • Diferenças individuais: idade, sexo e etnia influenciam na composição corporal, mas não são considerados no cálculo.

    Por isso, o ideal é que o IMC seja avaliado junto com outros parâmetros, como percentual de gordura, circunferência da cintura e exames laboratoriais.

    Percentual de gordura: por que também importa?

    O percentual de gordura corporal mostra de fato quanto do peso é composto por gordura e quanto corresponde a músculos, ossos e água. Ele pode ser medido com equipamentos como bioimpedância ou dobras cutâneas.

    Uma pessoa pode ter IMC normal, mas percentual de gordura elevado (falso magro). Outra, porém, pode ter IMC de sobrepeso, mas ser muito musculosa e saudável.

    Por isso, especialistas defendem que olhar apenas para o IMC é como ver só a capa do livro, e é preciso avaliar o conteúdo, nesse caso, a composição corporal.

    Obesidade pré-clínica

    A partir de 2025, o diagnóstico da obesidade ganha um olhar mais sofisticado, não só com o IMC. Com base em recomendações científicas, hoje se passou a diferenciar dois estágios da obesidade: pré-clínica e clínica.

    Obesidade pré-clínica

    É o excesso de gordura corporal em pessoas saudáveis, ou seja, ainda sem sinais claros de disfunção metabólica ou física, mas com risco de desenvolver complicações como diabetes, pressão alta e doenças cardiovasculares.

    Obesidade clínica

    É a obesidade que já manifesta impacto funcional em órgãos ou na capacidade de fazer atividades básicas do dia a dia. Essa distinção traz mais sensibilidade ao diagnóstico e permite tomar atitudes preventivas antes que o problema piore.

    Perguntas frequentes

    1. O IMC é confiável?

    Sim, mas é uma medida de triagem. Funciona bem em grandes populações, mas pode falhar em avaliações individuais.

    2. Crianças usam a mesma tabela de IMC?

    Não. Para crianças e adolescentes, existem curvas específicas de crescimento que levam em conta idade e sexo.

    3. O IMC serve para idosos?

    O índice pode não refletir bem a composição corporal em idosos, já que a perda de massa muscular é comum nessa fase da vida.

    4. Percentual de gordura é mais importante que IMC?

    Não é que seja “mais importante”, mas sim mais específico. O ideal é avaliar os dois em conjunto.

    5. Qual percentual de gordura é considerado saudável?

    Depende do sexo, da idade e do quanto de atividade física a pessoa faz, mas em geral:

    • Homens: 10% a 20%
    • Mulheres: 18% a 28%

    6. Só corro riscos se tiver IMC alto?

    Não. Mesmo com IMC normal, fatores como percentual de gordura, colesterol, pressão arterial e estilo de vida também contam muito para a saúde.

    Leia também: 9 hábitos alimentares que ajudam a prevenir doenças no dia a dia

  • Wegovy e Ozempic: como funcionam para perda de peso

    Wegovy e Ozempic: como funcionam para perda de peso

    Nos últimos anos, os remédios Ozempic e Wegovy ganharam as manchetes e as redes sociais por um motivo: a promessa de ajudar na perda de peso. Desenvolvidos originalmente para tratar diabetes tipo 2, esses remédios à base de semaglutida vêm sendo cada vez mais usados por quem busca emagrecer com apoio médico.

    Mas, afinal, o que eles têm de tão especial? Qual a diferença entre Ozempic e Wegovy? Funcionam mesmo? E será que todo mundo pode usar?

    O que são Wegovy e Ozempic

    Tanto Wegovy quanto Ozempic têm como princípio ativo a semaglutida, um medicamento que imita o hormônio GLP-1, naturalmente produzido pelo nosso corpo. “Essa substância atua regulando os níveis de açúcar no sangue e também o apetite”, explica a cardiologista Juliana Soares, que integra o corpo clínico do Hospital Albert Einstein.

    Quando a glicose (açúcar) no sangue está alta, a semaglutida estimula a liberação de insulina (hormônio que ajuda a reduzir a glicose) e inibe a produção de glucagon (hormônio que aumenta a glicose). Além disso, ela age em áreas do cérebro que controlam fome e saciedade, fazendo com que a pessoa se sinta satisfeita com pequenas porções. Também retarda o esvaziamento do estômago, prolongando a saciedade.

    A diferença entre eles está na indicação:

    • Ozempic: aprovado para tratar diabetes tipo 2.
    • Wegovy: aprovado para tratar sobrepeso e obesidade, junto com dieta e exercícios.

    Como esses medicamentos ajudam a emagrecer

    Agem no cérebro e no apetite

    Segundo a cardiologista, a semaglutida atua no cérebro, especialmente no hipotálamo e no tronco cerebral, que controlam a fome e a saciedade. Isso reduz a vontade de comer, especialmente alimentos ricos em gordura e açúcar.

    Têm efeito no esvaziamento do estômago

    Ela também retarda o esvaziamento do estômago, o que prolonga a sensação de saciedade após as refeições.

    Qual a diferença entre Wegovy e Ozempic

    Embora tenham o mesmo princípio ativo, as dosagens são diferentes. Wegovy contém doses maiores de semaglutida e é aprovado especificamente para o tratamento da obesidade.

    Já Ozempic, mesmo sendo usado por muitos para emagrecer, ainda é aprovado apenas para o tratamento do diabetes tipo 2 no Brasil.

    Quem pode usar Wegovy ou Ozempic para emagrecer

    Esses medicamentos não são para todo mundo. São indicados principalmente para:

    • Pessoas com IMC acima de 30, que indica obesidade;
    • Ou com IMC acima de 27 e doenças associadas (como pressão alta, apneia do sono ou colesterol alto)

    É sempre o médico quem deve avaliar os riscos e benefícios antes de indicar o uso.

    Apesar de o princípio ativo ser o mesmo para Ozempic e Wegovy, os critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são diferentes.

    “O Ozempic é aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2, indicado nos casos em que não é possível controlar os níveis de açúcar no sangue apenas com dieta e atividade física, quando o uso de outros remédios para diabetes não estão sendo suficientes para o controle a doença ou quando outras medicações para o diabetes são mal toleradas ou contraindicadas”, detalha a médica.

    “O emagrecimento, com o uso do Ozempic é um efeito adicional, não o objetivo principal”.

    No caso do Wegovy, explica ela, os critérios para indicação são o sobrepeso, quando o índice de massa corpórea (IMC) está entre 27 kg/m² e 30 kg/m² e o paciente apresenta pelo menos uma outra doença relacionada ao excesso de peso. “Diabetes, pressão alta, alteração de colesterol, apneia do sono, doenças cardiovasculares, ou adultos com obesidade (IMC acima de 30 kg/m²), por exemplo”, explica a especialista. “A perda de peso é a principal indicação do Wegovy e ele deve ser usado juntamente com dieta e prática regular de atividade física”.

    Efeitos colaterais mais comuns

    Como qualquer medicamento, Ozempic e Wegovy podem causar efeitos colaterais. Por conta do mecanismo de ação, a maioria desses efeitos atinge o sistema digestivo, especialmente no início ou quando a dose aumenta. Os mais comuns são:

    • Enjoos;
    • Vômitos;
    • Diarreia;
    • Prisão de ventre;
    • Dor de cabeça.

    A médica recomenda refeições menores e mais frequentes, mastigar bem, evitar comidas gordurosas e manter boa hidratação. “Outro ponto importante é evitar perda excessiva de massa muscular com a ingestão adequada de proteínas, além de treino de força, como musculação, e exercícios de resistência, como pilates e calistenia”.

    Resultados: quanto peso é possível perder?

    “A perda de peso vai variar conforme cada pessoa e também vai estar relacionada com o estilo de vida adotado com alimentação adequada e prática regular de atividade física”, diz a médica.

    Ela conta que os estudos mostram que o Wegovy pode levar à perda média de 15% do peso inicial, enquanto o Ozempic costuma gerar cerca de 7%.

    Wegovy e Ozempic substituem dieta e exercício?

    Não. Esses medicamentos são uma ferramenta a mais no tratamento da obesidade. Sem mudanças no estilo de vida, os resultados são limitados.

    A boa notícia é que, ao controlar o apetite, eles podem ajudar as pessoas a adotarem uma rotina mais saudável com mais facilidade.

    Posso usar Ozempic ou Wegovy por conta própria?

    A resposta é não. “A semaglutida exige supervisão rigorosa para que o tratamento seja seguro e eficaz”, afirma Juliana Soares.

    Os riscos incluem pancreatite, pedras na vesícula, complicações em cirurgias (por retardar o esvaziamento do estômago) e contraindicações específicas, como histórico de carcinoma medular de tireoide ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.

    Por isso, é muito importante só usar o remédio com indicação médica.

    Perguntas frequentes sobre Wegovy e Ozempic

    1. Ozempic e Wegovy são a mesma coisa?

    Não exatamente. Os dois são feitos com semaglutida, mas Wegovy tem doses maiores e é aprovado para emagrecimento.

    2. Posso usar Ozempic para emagrecer mesmo sem diabetes?

    Somente com prescrição médica e se houver indicação clínica, como obesidade ou sobrepeso com doenças associadas.

    3. Quanto tempo leva para começar a emagrecer com Ozempic?

    Muitas pessoas notam perda de peso nas primeiras semanas, mas os resultados variam de pessoa para pessoa.

    4. O uso desses remédios é para sempre?

    Não necessariamente. O tempo de uso depende da resposta da pessoa ao remédio e da orientação médica.

    5. Os efeitos colaterais desaparecem?

    Na maioria dos casos, sim. O corpo costuma se adaptar ao Ozempic ou Wegovy após algumas semanas.

    6. É verdade que o medicamento pode causar flacidez?

    A flacidez é consequência comum de perda de peso rápida, não do remédio em si. Pode acontecer com ou sem semaglutida.

    7. Pode causar perda de massa muscular?

    Sim, se a pessoa não ingerir proteínas e fizer exercícios de força adequadamente.