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  • Cardiopatia chagásica: como se manifesta a fase crônica da doença de Chagas?

    Cardiopatia chagásica: como se manifesta a fase crônica da doença de Chagas?

    Com um desenvolvimento lento e silencioso, a doença de Chagas pode evoluir por muitos anos sem causar sintomas, enquanto o parasita produz pequenas lesões contínuas no organismo.

    Quando ela não é identificada e tratada na fase aguda, a doença pode avançar lentamente e afetar o coração ao longo dos anos, situação em que surge a cardiopatia chagásica — marcada por arritmias, fraqueza do músculo cardíaco e risco elevado de complicações graves.

    “A cardiopatia chagásica se desenvolve de forma lenta e progressiva após a infecção inicial pelo Trypanosoma cruzi. Após a fase aguda, a maioria entra em fase indeterminada, sem sintomas. Com o passar dos anos, geralmente de 10 a 30 anos, parte dos pacientes evolui para a forma cardíaca”, explica a cardiologista Gisele Bachur.

    O que é cardiopatia chagásica?

    A cardiopatia chagásica, também conhecida como cardiomiopatia crônica da doença de Chagas, é uma lesão progressiva do músculo do coração, provocada pela infecção persistente pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que é o agente causador da doença de Chagas.

    A evolução ocorre de maneira lenta, e o parasita mantém uma inflamação contínua no tecido cardíaco, provocando destruição das fibras musculares, alteração da condução elétrica e dilatação das câmaras cardíacas ao longo dos anos.

    A fase sintomática costuma surgir após um período prolongado sem sintomas clínicos, caracterizado por arritmias, palpitações, falta de ar, inchaço nas pernas, risco de insuficiência cardíaca e possibilidade de morte súbita.

    Vale apontar que não são todos os pacientes que vão desenvolver a forma cardíaca, e muitos permanecem assintomáticos por toda a vida, vivendo normalmente sem problemas.

    Apenas 20% a 30% dos pacientes cronicamente infectados (aqueles que estavam na forma indeterminada) irão progredir, anos ou décadas depois, para cardiopatia chagásica ou lesões no esôfago e/ou intestino grosso (megaesôfago e megacólon).

    Como ocorre a cardiopatia chagásica?

    Para entender melhor como a cardiopatia surge, vamos imaginar uma pessoa que foi infectada ainda na infância, durante o contato com o barbeiro em uma área rural.

    Ela passa por uma fase aguda da doença de Chagas, normalmente discreta, com sintomas que podem ser confundidos com uma virose comum, como febre, dor de cabeça e fraqueza. Então, a infecção inicial é controlada pelo organismo, mas o Trypanosoma cruzi permanece dentro das células cardíacas, escondido do sistema imune.

    A partir disso, a pessoa entra em uma fase indeterminada, sem sintomas, de acordo com Gisele. A inflamação, no entanto, continua de forma discreta e constante, produzindo microlesões no músculo cardíaco, pequenas cicatrizes e danos progressivos ao sistema elétrico do coração.

    Com o passar dos anos, normalmente 10 a 30 anos, os danos silenciosos no coração se acumulam e o órgão deixa de compensar a inflamação contínua. Assim, surge a fase crônica cardíaca, marcada por cansaço, palpitações, falta de ar, inchaço nas pernas e risco elevado de arritmias e insuficiência cardíaca.

    Qual é o mecanismo da infecção que leva ao dano no músculo cardíaco?

    De acordo com Gisele, o dano cardíaco decorre de três pilares principais, sendo eles:

      • Inflamação crônica mediada pelo sistema imune: a inflamação prolongada destrói fibras do músculo cardíaco porque o sistema imune, ao tentar controlar o parasita, mantém uma resposta exagerada que acaba atacando estruturas do próprio coração, produzindo lesões contínuas e perda progressiva da capacidade de contração;
      • Lesão direta pelo parasita: o barbeiro invade as células cardíacas e forma agrupamentos dentro do tecido, causando ruptura celular, desencadeando inflamação local e contribuindo para o enfraquecimento do músculo;
      • Fibrose miocárdica difusa e focal: a cicatrização repetida gera áreas de fibrose espalhadas e também pontos de rígida cicatrização localizada, o que altera a arquitetura do órgão, dificulta o fluxo elétrico normal e favorece o surgimento de arritmias, dilatação ventricular e queda da função de bombeamento.

    “O contínuo processo inflamatório cicatricial gera arritmias, disfunção contrátil e aneurismas localizados. O resultado é uma miocardiopatia dilatada peculiar, com regiões de fibrose junto a uma inflamação ativa”, complementa a cardiologista.

    Como a cardiopatia chagásica se manifesta?

    De acordo com Gisele, a forma crônica cardíaca apresenta as seguintes manifestações:

    • Arritmias ventriculares e supraventriculares: alterações no ritmo do coração, com batimentos rápidos, irregulares ou descompassados;
    • Bloqueios de condução: falhas na passagem do estímulo elétrico, que podem deixar o coração muito lento;
    • Insuficiência cardíaca sistólica: o coração fica dilatado e perde força para bombear sangue;
    • Tromboembolismos: formação de coágulos dentro do coração, que podem causar AVC ou embolias;
    • Aneurisma apical de ventrículo esquerdo: dilatação localizada muito típica da doença de Chagas;
    • Síncope ou pré-síncope: tonturas ou desmaios provocados por arritmias graves;
    • Morte súbita: normalmente causada por taquicardia ventricular sustentada.

    A evolução costuma ser lenta, começando com palpitações e cansaço e, ao longo dos anos, levando aos sintomas clássicos de insuficiência cardíaca.

    Sintomas da cardiopatia chagásica

    Quando os sintomas surgem, eles são resultado da falha do músculo cardíaco (insuficiência cardíaca) e dos problemas no sistema elétrico do coração (arritmias). Os principais incluem:

    • Palpitações;
    • Falta de ar;
    • Cansaço fácil;
    • Inchaço nas pernas;
    • Dor ou desconforto no peito;
    • Tonturas ou desmaios;
    • Batimentos muito rápidos ou muito lentos.

    Importante: muitas vezes, a primeira mudança que mostra que a doença está avançando aparece nos exames, como um eletrocardiograma alterado, mesmo antes de qualquer sintoma surgir.

    Como é feito o diagnóstico?

    O diagnóstico começa pela confirmação da infecção pelo T. cruzi e segue com exames que avaliam ritmo, força e estrutura do coração. Segundo Gisele, os principais exames incluem:

    • Sorologias: ELISA e imunofluorescência (dois métodos diferentes para confirmar);
    • Eletrocardiograma: mostra alterações do ritmo e da condução elétrica, como bloqueios e batimentos extras.;
    • Holter 24h: monitora o coração por um dia inteiro para detectar arritmias que podem não aparecer no exame rápido;
    • Ecocardiograma: avalia tamanho e força do coração e identifica dilatação, aneurisma apical e coágulos;
    • Ressonância cardíaca: padrão-ouro para avaliar áreas de inflamação e fibrose (cicatrizes) com grande precisão;
    • Teste ergométrico: analisa como o coração se comporta durante exercício;
    • Radiografia de tórax: ajuda a ver aumento do coração e sinais de insuficiência cardíaca.

    Como é feito o tratamento da cardiopatia chagásica?

    O tratamento da cardiopatia chagásica é sempre individualizado, porque cada pessoa apresenta um grau diferente de comprometimento cardíaco, risco de arritmias e sintomas. A escolha dos medicamentos e dos dispositivos depende da avaliação detalhada feita pelo cardiologista, que define o esquema mais seguro e eficaz, então não se automedique!

    No geral, podem ser adotadas duas abordagens:

    Tratamento cardiológico

    Quando a cardiopatia já está instalada, o foco principal passa a ser o tratamento cardiológico, que visa controlar arritmias, reduzir a progressão da insuficiência cardíaca e evitar complicações graves, como tromboembolismos e morte súbita.

    Remédios para cardiopatia chagásica

    A base do tratamento segue a mesma linha usada na insuficiência cardíaca, porque o coração dilatado e enfraquecido demanda de proteção contínua. Alguns dos medicamentos usados incluem:

    • IECA, BRA ou ARNI: ajudam a reduzir a pressão dentro do coração, diminuem a sobrecarga e retardam a progressão da doença;
    • Betabloqueador: controla o ritmo cardíaco, reduz arritmias e melhora a sobrevida;
    • Espironolactona: atua contra a fibrose e melhora o desempenho do músculo cardíaco;
    • Inibidores de SGLT2 (empagliflozina ou dapagliflozina): reduzem sintomas, diminuem hospitalizações e oferecem proteção adicional ao coração;
    • Diuréticos conforme necessidade: aliviam a falta de ar e o inchaço, retirando o excesso de líquido que se acumula quando o coração perde força.

    Cardiodesfibrilador Implantável (CDI)

    A presença de arritmias graves aumenta o risco de morte súbita, e o CDI funciona como um “vigia” permanente do ritmo cardíaco. O dispositivo identifica arritmias perigosas e aplica choques para restabelecer o ritmo normal. Segundo Gisele, ele é indicado nas seguintes situações:

    • Taquicardia ventricular sustentada;
    • Fração de ejeção igual ou menor que 35%;
    • Síncope causada por arritmia documentada.

    Marcapasso

    A falha na condução elétrica deixa o coração muito lento, causando tonturas e risco de desmaio. O marcapasso regula o ritmo e impede quedas bruscas da frequência cardíaca, sendo indicado quando há:

    • Bloqueio atrioventricular avançado (Mobitz II ou total);
    • Disfunção sinusal importante, que provoca bradicardia persistente.

    Transplante cardíaco

    A progressão da cardiopatia pode chegar a um ponto em que o coração não responde mais aos medicamentos nem aos dispositivos, como por exemplo:

    • Insuficiência cardíaca que não melhora mesmo com tratamento completo;
    • Arritmias que não podem ser controladas;
    • Baixa sobrevida estimada, mesmo com todas as terapias disponíveis.

    Nesses casos, o transplante de coração surge como alternativa para restaurar a função cardíaca e prolongar a vida.

    Tratamento etiológico

    O tratamento etiológico, realizado com medicamentos como o Benznidazol, é feito para combater o parasita, reduzindo a carga no organismo. Ele é extremamente eficaz na fase aguda ou na fase indeterminada, quando ainda não há danos estruturais importantes no coração.

    Na fase crônica, ele pode ser indicado para reduzir a replicação residual do parasita, mas a fibrose formada não pode ser revertida, de acordo com Gisele.

    Cardiopatia chagásica tem cura?

    Na fase crônica, com a cardiopatia já estabelecida, a fibrose presente no músculo cardíaco não pode mais ser revertida. O uso do benzonidazol não consegue corrigir o dano estrutural existente, embora possa ser indicado em situações específicas para diminuir a replicação residual do parasita.

    A partir daí, o tratamento foca em controlar arritmias, prevenir coágulos, evitar que a insuficiência cardíaca piore e melhorar a qualidade e o tempo de vida da pessoa. “A cura parasitológica completa é rara quando o coração já está acometido”, finaliza Gisele.

    Confira: Síndrome do coração partido: o que é, sintomas, riscos e como diferenciar do infarto

    Perguntas frequentes

    Como ocorre a transmissão da doença de Chagas?

    A transmissão da doença de Chagas ocorre principalmente pelo contato com fezes do barbeiro durante a picada, quando o protozoário entra pela pele lesionada ou pelas mucosas.

    Ela também pode ocorrer por transfusão de sangue, transplante de órgãos, acidentes laboratoriais, da gestante para o bebê ou pela ingestão de alimentos contaminados com o parasita. A transmissão direta entre pessoas não ocorre no convívio social.

    Quais são os sintomas da fase aguda da doença de Chagas?

    A fase aguda da Doença de Chagas é a fase inicial, logo após a infecção, e é caracterizada pela alta circulação do parasita no sangue. No entanto, o mais importante a saber é que ela é, na maioria das vezes, assintomática ou apresenta sintomas leves e inespecíficos. Quando eles surgem, costumam ser:

    • Febre persistente ou prolongada;
    • Mal-estar e dor de cabeça (cefaléia);
    • Fadiga e cansaço generalizado (astenia);
    • Edema (inchaço) e aumento de gânglios (linfonodopatia);
    • Aumento do fígado e do baço (hepatosplenomegalia).

    Após a fase aguda, caso a pessoa não receba tratamento adequado, ela pode desenvolver a fase crônica da doença.

    Como prevenir a doença de Chagas?

    A prevenção da doença de Chagas exige atenção ao modo como ocorre a transmissão, e o controle começa pela redução da presença do barbeiro no ambiente doméstico. A aplicação de inseticidas de ação prolongada, realizada por equipes treinadas, ajuda a impedir que o inseto se estabeleça em paredes, telhados e locais de abrigo dentro das moradias.

    A proteção das residências em áreas onde o barbeiro pode entrar voando por frestas ou aberturas inclui o uso de telas metálicas e mosquiteiros, criando barreiras físicas eficientes.

    A adoção de cuidados pessoais durante atividades noturnas em regiões de mata, como pesca, acampamentos ou caçadas, inclui o uso de repelentes e roupas de mangas longas, reduzindo o risco de contato com o inseto.

    Qual o período de incubação da doença de Chagas?

    O intervalo entre a infecção pelo Trypanosoma cruzi e o surgimento dos primeiros sinais varia conforme a forma de transmissão:

    • Transmissão pelo barbeiro: sintomas aparecem, em geral, entre 4 e 15 dias após a infecção;
    • Transfusão de sangue ou transplante: o início das manifestações pode ocorrer após 30 a 40 dias, podendo se estender além disso;
    • Transmissão oral: os sinais costumam surgir entre 3 e 22 dias;
    • Acidentes laboratoriais ou exposição direta: sintomas podem se desenvolver em até aproximadamente 20 dias;
    • Transmissão da gestante para o bebê: não existe um período definido, pois a passagem do parasita pode acontecer em qualquer fase da gravidez ou durante o parto.

    O que eu faço se ver um barbeiro na minha casa?

    As principais orientações do Ministério da Saúde se você encontrar um barbeiro em casa é:

    • Evitar esmagar, apertar ou ferir o inseto;
    • Proteger as mãos usando luvas ou um saco plástico;
    • Colocar o barbeiro em um recipiente plástico bem fechado, de preferência mantendo-o vivo para facilitar a análise;
    • Guardar separadamente os insetos coletados em locais distintos da casa ou do ambiente externo, como quarto, sala, cozinha ou áreas de mata.

    Doença de Chagas tem cura?

    A doença de Chagas pode ter cura nas fases iniciais, quando o tratamento com benzonidazol ou nifurtimox é iniciado logo após a infecção, período em que o parasita ainda se multiplica ativamente no organismo.

    A eficácia costuma ser maior em crianças e em adultos tratados precocemente, aumentando a chance de eliminação completa do Trypanosoma cruzi

    Veja mais: Dor no ombro esquerdo pode ser infarto? Saiba como identificar

  • Insuficiência cardíaca: o que é, sintomas, causas e tratamento

    Insuficiência cardíaca: o que é, sintomas, causas e tratamento

    No Brasil, cerca de dois milhões de pessoas convivem com insuficiência cardíaca — e cerca de 240 mil novos casos surgem a cada ano, segundo o Ministério da Saúde. A condição, que acontece quando o coração perde a capacidade de bombear o sangue de forma eficiente, está entre as principais causas de internações hospitalares em adultos acima de 60 anos.

    Apesar de ser progressiva, com o diagnóstico precoce e um tratamento adequado, é possível controlar os sintomas, reduzir o risco de complicações e ter uma vida com qualidade. Conversamos com um especialista para te explicar os principais detalhes sobre a insuficiência cardíaca.

    O que é insuficiência cardíaca?

    A insuficiência cardíaca, que também pode ser chamada de insuficiência cardíaca congestiva, acontece quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue de maneira adequada para atender à demanda dos tecidos do corpo. Quando isso acontece, há um fluxo sanguíneo insuficiente para levar oxigênio e nutrientes a órgãos e músculos.

    Para entender melhor, o coração é composto por quatro câmaras (dois átrios e dois ventrículos), que trabalham em conjunto para bombear sangue para todo o organismo. Quando existe alguma falha no mecanismo, o sangue pode se acumular nos pulmões, nas pernas e em outras partes do corpo, levando ao surgimento de sintomas como falta de ar, cansaço extremo e inchaço.

    De acordo com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto, a condição pode ocorrer porque o músculo cardíaco está enfraquecido, rígido ou lesionado — o que compromete a força e o enchimento do coração a cada batimento.

    Como classificar a insuficiência cardíaca?

    A insuficiência cardíaca pode ser classificada de diferentes formas, de acordo com a parte do coração afetada e a gravidade da condição:

    Insuficiência cardíaca esquerda: acontece quando o ventrículo esquerdo, que envia sangue para todo o corpo, perde força e não consegue manter o fluxo adequado, provocando acúmulo de líquido nos pulmões e falta de ar;

    Insuficiência cardíaca direita: surge quando o ventrículo direito, responsável por bombear sangue para os pulmões, passa a funcionar com menor eficiência, levando à retenção de líquidos nas pernas, tornozelos e abdômen;

    Insuficiência cardíaca sistólica: ocorre quando o coração perde a capacidade de se contrair com força suficiente, reduzindo a quantidade de sangue que é expulsa a cada batimento;

    Insuficiência cardíaca diastólica: caracteriza-se pela dificuldade do músculo cardíaco em relaxar após a contração, o que impede o enchimento adequado das câmaras e compromete o volume de sangue que será bombeado.

    “Na maioria das vezes, ela se desenvolve lentamente, ao longo de meses ou anos, especialmente em pessoas com pressão alta ou doenças cardíacas prévias. Porém, pode surgir de forma aguda, por exemplo, após um infarto ou infecção grave, quando o coração descompensa rapidamente”, explica Giovanni.

    Causas da insuficiência cardíaca

    Normalmente, a insuficiência cardíaca surge como consequência de outros problemas de saúde que danificam o músculo cardíaco ao longo do tempo, como:

    Infarto do miocárdio: quando ocorre um infarto, parte do músculo cardíaco sofre necrose (morte das células) devido à falta de oxigênio. Isso reduz a força de contração do coração e pode gerar falhas permanentes;

    Hipertensão arterial não controlada: a pressão alta força o coração a trabalhar com mais intensidade, o que provoca espessamento e rigidez das paredes cardíacas. Com o tempo, o músculo enfraquece e perde a capacidade de bombear sangue com eficiência;

    Doenças das válvulas cardíacas: as válvulas são responsáveis por regular o fluxo de sangue dentro do coração. Quando estão danificadas, o sangue pode voltar para câmaras anteriores (refluxo) ou encontrar dificuldade para avançar (estenose);

    Miocardites: são inflamações do músculo cardíaco que podem surgir após infecções virais, bacterianas ou reações autoimunes. A inflamação compromete a força de contração do coração, reduzindo sua capacidade de bombear sangue adequadamente;

    Miocardiopatias genéticas ou tóxicas: incluem alterações hereditárias que afetam diretamente a estrutura e o funcionamento do músculo cardíaco, bem como danos causados por substâncias tóxicas, como o álcool e alguns medicamentos quimioterápicos.

    Segundo Giovanni, o envelhecimento e a presença de algumas condições metabólicas, como diabetes e obesidade, também aumentam o risco de insuficiência cardíaca.

    Quais os sintomas de insuficiência cardíaca?

    Os sintomas da insuficiência cardíaca podem variar de acordo com o grau de comprometimento do coração e a velocidade de evolução da doença. No início, eles são discretos e facilmente confundidos com sinais de cansaço ou estresse, mas tendem a piorar com o tempo. Entre os mais comuns, é possível destacar:

    Falta de ar;

    Fadiga e fraqueza;

    Inchaço nas pernas, tornozelos e pés;

    Batimento cardíaco rápido ou irregular;

    Capacidade reduzida de exercício ou atividades regulares;

    Chiado no peito;

    Inchaço na região da barriga;

    Náuseas e falta de apetite;

    Dificuldade de concentração ou diminuição do estado de alerta;

    Dor no peito, se a insuficiência cardíaca for causada por um ataque cardíaco.

    “A falta de ar pode surgir nos esforços e, em casos mais avançados, até em repouso ou ao deitar. O inchaço costuma aparecer no fim do dia, com sensação de peso nas pernas e sapatos apertados. O cansaço vem da menor oxigenação muscular. Também é comum o aumento de peso repentino por acúmulo de líquido e a necessidade de urinar mais à noite”, completa Giovanni.

    Existem fatores de risco?

    Os principais fatores de risco para insuficiência cardíaca são:

    Hipertensão arterial;

    Doenças coronarianas e infarto prévio;

    Diabetes;

    Colesterol alto e obesidade;

    Sedentarismo;

    Tabagismo e consumo frequente de álcool;

    Apneia do sono, que provoca quedas de oxigênio durante o sono, sobrecarregando o coração;

    Histórico familiar de doenças cardíacas;

    Idade avançada, pois o risco aumenta após os 60 anos, pois o músculo cardíaco tende a se tornar mais rígido e menos eficiente.

    Como é feito o diagnóstico de insuficiência cardíaca

    O diagnóstico de insuficiência cardíaca é baseado na avaliação clínica detalhada e em exames complementares que verificam o funcionamento do coração. No exame físico, o especialista pode observar a presença de inchaço, ruídos pulmonares e frequência cardíaca.

    Entre os principais exames solicitados, Giovanni aponta:

    Eletrocardiograma, que avalia o ritmo e a atividade elétrica do coração;

    Ecocardiograma, que permite observar o funcionamento do músculo cardíaco e das válvulas;

    Exames de sangue, como o BNP e o NT-proBNP.

    Em alguns casos, o médico pode solicitar exames complementares, como raio-X de tórax, teste ergométrico, angiotomografia de coronárias e ressonância magnética cardíaca.

    Vale destacar que o diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações graves. Quanto antes a insuficiência é identificada, maiores são as chances de preservar a função cardíaca.

    Quando procurar um médico?

    Procure atendimento médico imediato se você sentir os seguintes sintomas:

    Dor no peito;

    Desmaio ou fraqueza severa;

    Batimento cardíaco rápido ou irregular com falta de ar, dor no peito ou desmaio;

    Falta de ar repentina e grave e tosse com muco espumoso branco ou rosa.

    Tratamento para insuficiência cardíaca

    O tratamento de insuficiência cardíaca envolve diversas abordagens para melhorar os sintomas, retardar a progressão da doença e reduzir o risco de complicações.

    Remédios para insuficiência cardíaca

    Os remédios são prescritos para melhorar o funcionamento do coração, aliviar sintomas e aumentar a qualidade e a expectativa de vida. Eles ajudam o coração a bombear o sangue de forma mais eficiente e reduzem a sobrecarga sobre o órgão.

    De acordo com Giovanni, são combinadas medicações específicas, como:

    Betabloqueadores;

    Inibidores da ECA (como Enalapril);

    Bloqueadores dos receptores de angiotensina – BRA (como Losartana);

    ARNI (como Sacubitril-valsartana);

    Antagonistas da aldosterona (como Espironolactona);

    Inibidores de SGLT2 (como Dapagliflozina).

    Somente um médico pode indicar o uso desses medicamentos. A automedicação é perigosa e pode agravar o quadro cardíaco, por isso, antes de iniciar qualquer tratamento, consulte um especialista.

    Mudanças no estilo de vida

    Como a insuficiência cardíaca muitas vezes está relacionada a fatores como pressão alta, diabetes e sedentarismo, adotar hábitos saudáveis no dia a dia é necessário para reduzir o risco de agravamento do quadro e controlar a doença, como:

    Reduzir o consumo de sal nas refeições;

    Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras e grãos integrais;

    Praticar atividade física, com orientação médica;

    Evitar o cigarro e o consumo de bebidas alcoólicas;

    Controlar o peso corporal e o índice de massa corporal (IMC);

    Monitorar a pressão arterial e o nível de glicose com regularidade;

    Dormir bem e respeitar os horários de descanso;

    Tomar corretamente os medicamentos prescritos;

    Fazer acompanhamento médico periódico.

    Cirurgias e outros procedimentos

    Em alguns casos, o tratamento da insuficiência cardíaca pode incluir cirurgias ou dispositivos que ajudam o coração a funcionar melhor — e as opções são indicadas pelo cardiologista de acordo com a causa e a gravidade da doença.

    Cirurgia de revascularização do miocárdio (ponte de safena): indicada quando há artérias coronárias bloqueadas. O procedimento cria um novo caminho para o sangue fluir até o coração, melhorando o aporte de oxigênio ao músculo cardíaco;

    Reparo ou substituição de válvula cardíaca: recomendada quando uma válvula danificada está prejudicando o fluxo de sangue. Pode ser feita por cirurgia aberta ou técnica minimamente invasiva;

    Cardiodesfibrilador implantável (CDI): dispositivo colocado sob a pele que monitora os batimentos e aplica choques elétricos quando o coração entra em ritmo perigoso, prevenindo paradas cardíacas;

    Terapia de ressincronização cardíaca (TRC): é usado um aparelho que envia impulsos elétricos para sincronizar as contrações das câmaras inferiores do coração, melhorando o bombeamento do sangue;

    Dispositivo de assistência ventricular (DAV): consiste em um equipamento mecânico que ajuda o coração a bombear o sangue, usado enquanto o paciente aguarda um transplante ou como tratamento definitivo em casos graves;

    Transplante cardíaco: indicado quando o coração está muito enfraquecido e não responde mais a medicamentos ou outros tratamentos. O procedimento substitui o órgão por um coração saudável de doador.

    Os procedimentos são indicados apenas após uma avaliação criteriosa, e a escolha depende do estado clínico e das necessidades de cada paciente.

    Insuficiência cardíaca tem cura?

    A insuficiência cardíaca, na maioria das vezes, é uma condição crônica e não tem uma cura definitiva, mas é possível controlar o quadro e levar uma vida com qualidade.

    “Quando o paciente segue o tratamento e mantém acompanhamento regular com o cardiologista, é possível ter boa qualidade de vida e controle dos sintomas. Hoje, com as novas terapias e dispositivos (como ressincronizadores e desfibriladores), muitos pacientes vivem por muitos anos de forma estável”, esclarece Giovanni.

    Como prevenir a insuficiência cardíaca?

    A prevenção está diretamente relacionada à adoção de um estilo de vida saudável e ao controle das doenças que prejudicam o coração. Algumas medidas importantes incluem:

    Controlar a pressão arterial;

    Manter níveis adequados de colesterol e glicose;

    Evitar o tabagismo e reduzir o consumo de álcool;

    Adotar uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras;

    Praticar atividade física regularmente;

    Controlar o peso corporal;

    Realizar consultas médicas periódicas;

    Evitar automedicação.

    “Em quem já tem o diagnóstico, essas medidas — somadas ao uso correto dos remédios — são essenciais para evitar descompensações e hospitalizações”, finaliza Giovanni.

    Veja mais: Síndrome do coração partido: o que é, sintomas, riscos e como diferenciar do infarto

    Perguntas frequentes

    A insuficiência cardíaca é a mesma coisa que ataque cardíaco?

    Não! O ataque cardíaco, também conhecido como infarto do miocárdio, acontece quando o fluxo de sangue que chega a uma parte do músculo cardíaco é interrompido, geralmente por um coágulo que obstrui uma artéria coronária. Quando isso ocorre, as células cardíacas daquela região começam a morrer por falta de oxigênio.

    Já a insuficiência cardíaca é o resultado da incapacidade do coração de bombear sangue de maneira eficiente para o resto do corpo. Em alguns casos, um infarto pode causar danos permanentes ao músculo cardíaco e evoluir para um quadro de insuficiência, mas são eventos diferentes.

    Enquanto o infarto é um episódio agudo, a insuficiência é uma condição crônica que precisa de acompanhamento prolongado.

    Quais os primeiros sinais de insuficiência cardíaca que devem gerar preocupação?

    Os sintomas iniciais de insuficiência cardíaca costumam ser discretos e passam despercebidos por muito tempo. O sintoma mais comum é a falta de ar, principalmente ao subir escadas ou realizar pequenas atividades — além de inchaço nos pés e tornozelos, resultado da retenção de líquidos.

    Também é importante observar cansaço excessivo, ganho de peso rápido (devido à retenção de líquidos), dificuldade para dormir deitado e batimentos acelerados. Quando esses sintomas aparecem juntos e persistem, é necessário procurar um cardiologista o quanto antes.

    O estresse pode causar insuficiência cardíaca?

    O estresse, por si só, não costuma causar insuficiência cardíaca, mas é um fator que contribui para o surgimento de doenças cardíacas. Em situações de tensão prolongada, o corpo libera hormônios como a adrenalina e o cortisol, que aumentam a pressão arterial e aceleram o ritmo cardíaco.

    Quando o estresse se torna crônico, ele prejudica a saúde do coração, favorecendo hipertensão, inflamações e até o estreitamento das artérias. Além disso, pessoas estressadas tendem a adotar hábitos que fazem mal à saúde, como fumar, ingerir álcool ou exagerar em alimentos ultraprocessados — fatores que, combinados, aumentam o risco de insuficiência cardíaca.

    Pessoas com insuficiência cardíaca podem engravidar?

    A gravidez em mulheres com insuficiência cardíaca exige avaliação médica rigorosa. Durante a gestação, o corpo precisa de mais sangue e oxigênio para nutrir o bebê, o que aumenta o esforço do coração.

    Nos casos leves e bem controlados, é possível ter uma gestação segura com acompanhamento conjunto de cardiologista e obstetra especializado em gravidez de alto risco. Quando a insuficiência cardíaca é mais grave, a gestação pode representar riscos significativos para a mãe e para o bebê, por isso é importante avaliar cuidadosamente cada situação.

    O planejamento familiar, feito com orientação médica e acolhimento, ajuda o casal a tomar decisões com segurança.

    Existe alguma dieta recomendada para quem tem insuficiência cardíaca?

    Sim! A dieta de pessoas com insuficiência cardíaca deve ser rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais, peixes e carnes magras, priorizando alimentos frescos e naturais. O consumo de sal também deve ser reduzido ao mínimo possível.

    Por fim, é importante limitar alimentos ultraprocessados, enlatados, refrigerantes e doces, que favorecem a retenção de líquidos e aumento de peso. A ingestão de líquidos pode precisar ser controlada, dependendo do grau da insuficiência — sempre sob orientação médica e nutricional.

    Quem tem insuficiência cardíaca pode beber álcool?

    O consumo de álcool deve ser evitado por pessoas que têm insuficiência cardíaca, pois o álcool sobrecarrega o músculo cardíaco, interfere na ação dos medicamentos e favorece a retenção de líquidos. Além disso, ele pode provocar arritmias e aumentar a pressão arterial, o que agrava o quadro.

    Quem tem insuficiência pode trabalhar?

    Sim, é possível trabalhar tendo insuficiência cardíaca, mas isso varia conforme o estágio da doença e o tipo de atividade exercida. Quando o quadro está controlado e os sintomas são leves, o trabalho pode ser mantido, desde que haja acompanhamento médico regular e, se necessário, pequenas adaptações na rotina.

    Porém, em casos em que a limitação física é maior e o esforço causa fadiga, falta de ar ou inchaço, pode ser indicado o afastamento temporário. Se a condição evoluir e impedir definitivamente o desempenho das funções, o trabalhador pode ter direito a benefícios previdenciários, como auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez concedida pelo INSS.

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  • Melatonina causa insuficiência cardíaca? Saiba por que ainda é cedo para afirmar 

    Melatonina causa insuficiência cardíaca? Saiba por que ainda é cedo para afirmar 

    A melatonina se tornou uma das substâncias mais populares entre quem busca uma noite de sono melhor. Vendida como suplemento em diversos países, inclusive no Brasil, é vista como uma alternativa natural para lidar com a insônia e o jet lag. Um novo estudo, porém, associou o uso prolongado de melatonina a um risco maior de insuficiência cardíaca, o que gerou preocupação e manchetes em todo o mundo.

    Apesar do impacto dos resultados, ainda não é possível afirmar que a melatonina cause problemas cardíacos. O estudo é observacional, ou seja, mostra uma correlação, mas não prova causa e efeito. Além disso, pessoas que usam melatonina com frequência geralmente apresentam insônia mais grave — e a própria insônia, quando persistente, já é conhecida por aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

    O que o estudo realmente descobriu

    Pesquisadores acompanharam mais de 130 mil adultos com histórico de insônia. Parte deles fazia uso regular de melatonina por pelo menos um ano. Após cerca de cinco anos de acompanhamento, os resultados mostraram que os usuários frequentes apresentaram maior incidência de insuficiência cardíaca e hospitalizações relacionadas ao coração.

    No entanto, os autores do estudo destacaram que essa relação não comprova que a melatonina seja a causa direta. Outros fatores, como o grau da insônia, a presença de doenças pré-existentes, uso de medicamentos ou hábitos de vida, podem ter influenciado os resultados.

    Por que a insônia merece atenção

    A insônia é um distúrbio do sono que afeta todo o corpo. Dormir mal de forma crônica está associado a aumento da pressão arterial, alterações hormonais, ganho de peso, diabetes, depressão e maior risco de infarto e insuficiência cardíaca.

    Quando uma pessoa tem insônia grave e não tratada, o coração trabalha sob estresse constante, o que ajuda a explicar por que dormir pouco ou dormir mal pode causar tantos problemas de saúde.

    Por isso, mesmo que a melatonina não seja isenta de riscos, o foco principal deve continuar sendo o tratamento adequado da insônia, com orientação médica e acompanhamento de um especialista em sono.

    O que fazer na prática

    • Não interrompa o uso por conta própria: se você toma melatonina regularmente e ela foi prescrita por um médico, converse com ele antes de parar.
    • Evite o uso prolongado sem orientação: mesmo suplementos naturais podem ter efeitos adversos e interações medicamentosas.
    • Avalie sua rotina de sono: manter horários regulares, evitar telas antes de dormir e cuidar da alimentação ajudam mais do que muitos imaginam.
    • Procure ajuda especializada: um médico pode indicar terapias comportamentais, ajustes no estilo de vida e, se necessário, outros medicamentos para tratar a insônia.

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    Quando a melatonina pode ser útil

    A melatonina pode ser útil em situações específicas, como:

    • Distúrbios do ritmo circadiano, como jet lag ou trabalho noturno;
    • Idosos com produção natural reduzida do hormônio;
    • Pessoas com autismo ou TDAH, sob supervisão médica.

    O uso contínuo deve ser avaliado individualmente, considerando histórico clínico, dose e tempo de uso.

    Portanto, o novo estudo não prova que a melatonina cause insuficiência cardíaca, mas reforça a importância de usar o suplemento com cautela e orientação médica. Mais do que culpar a melatonina, o recado é claro: tratar a insônia é também cuidar do coração.

    Confira: Insônia: por que dormir mal afeta corpo e mente

    Perguntas frequentes sobre melatonina e insuficiência cardíaca

    1. O estudo prova que a melatonina causa insuficiência cardíaca?

    Não. O estudo é observacional e mostra apenas uma associação, sem comprovar relação de causa e efeito.

    2. Então, posso continuar tomando melatonina?

    Sim, se for sob orientação médica. O risco maior está no uso prolongado, em altas doses e sem acompanhamento.

    3. E se eu usar melatonina só de vez em quando?

    O uso ocasional e em doses baixas é considerado seguro para a maioria das pessoas.

    4. A insônia é perigosa para o coração?

    Sim. Dormir mal de forma crônica pode aumentar o risco de hipertensão, infarto e insuficiência cardíaca.

    5. O que devo fazer se tenho insônia?

    Procure um médico para investigar a causa. Pode ser necessário ajustar hábitos, tratar ansiedade ou iniciar terapia do sono.

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