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  • Testes genéticos para remédios contra depressão: saiba o que são e como funcionam 

    Testes genéticos para remédios contra depressão: saiba o que são e como funcionam 

    Encontrar o antidepressivo adequado costuma ser um caminho de tentativas e erros. Para muitos pacientes, o processo exige semanas até que a resposta clínica seja avaliada — período em que podem surgir efeitos colaterais, ajustes de dose e, às vezes, troca do medicamento. Com o avanço da medicina de precisão, surgiram os testes genéticos para antidepressivos, que prometem encurtar esse percurso.

    Segundo o psiquiatra Luiz Dieckmann, a ideia é analisar previamente como o organismo do paciente metaboliza e responde a diferentes remédios. “Esses testes funcionam como um mapa: mostram não só como o corpo processa o medicamento, mas também dão pistas de como o cérebro pode reagir”.

    Testes genéticos para antidepressivos: farmacocinéticos e farmacodinâmicos

    A farmacogenética estuda a relação entre genes e resposta a medicamentos. Na psiquiatria, o foco recai especialmente sobre os antidepressivos, usados em depressão, transtornos de ansiedade e outros quadros.

    Nesse contexto, avaliam-se dois conjuntos de genes:

    • Genes farmacocinéticos (metabolismo do fármaco);
    • Genes farmacodinâmicos (alvos e efeito do fármaco no sistema nervoso).

    A maior parte dos testes disponíveis hoje enfatiza os farmacocinéticos, pois analisam como o fígado “quebra” e elimina as substâncias. Os mais estudados são:

    • CYP2D6 e CYP2C19: codificam enzimas hepáticas que metabolizam muitos antidepressivos.

    Pessoas com variantes que aceleram o metabolismo podem eliminar o remédio rápido demais, reduzindo o efeito. Já variantes que lentificam o metabolismo elevam o risco de acúmulo e efeitos colaterais.

    Há também os farmacodinâmicos, que não tratam da metabolização, mas da ação no sistema nervoso, por exemplo:

    • SLC6A4 (transportador de serotonina);
    • HTR2A (receptor de serotonina).

    Esses marcadores ajudam a explicar por que algumas pessoas respondem melhor a certos fármacos ou têm maior propensão a determinados efeitos.

    Diretrizes internacionais e evidências de testes genéticos para antidepressivos

    De acordo com diretrizes do Clinical Pharmacogenetics Implementation Consortium (CPIC), já há recomendações claras para o uso clínico de resultados relacionados a genes de metabolismo (farmacocinéticos). Já os farmacodinâmicos exigem cautela porque:

    • O metabolismo se relaciona diretamente às concentrações do fármaco no sangue (mensuráveis);
    • O efeito cerebral envolve múltiplos mecanismos, ambiente e interação de vários genes simultaneamente.

    Assim, os achados farmacodinâmicos devem ser interpretados de forma complementar e sempre no contexto clínico.

    Leia mais: Tratamento da depressão em 2025: o que tem de novo

    Como funcionam os testes na prática

    Os testes genéticos para antidepressivos basicamente funcionam da seguinte forma:

    • Coleta: geralmente por saliva com swab bucal (ou sangue, quando indicado);
    • Análise: o laboratório pesquisa variantes nos genes de interesse;
    • Laudo: classifica fármacos e orienta ajustes que o médico irá interpretar.

    Relatórios comerciais costumam agrupar medicamentos em categorias:

    • Uso normal: sem variantes relevantes;
    • Uso com cautela: possível baixa eficácia ou maior risco de efeitos, exigindo ajuste de dose/monitorização;
    • Uso não recomendado: alta chance de ineficácia ou toxicidade.

    Exemplo: se um paciente é metabolizador ultrarrápido para um antidepressivo, a probabilidade de benefício é baixa — o que permite ajustar a escolha logo no início e evitar tentativas infrutíferas.

    Conclusão do especialista: “Os testes não dão uma resposta definitiva, mas encurtam o caminho até um tratamento mais eficaz, com menos tentativas frustradas e menos efeitos indesejados”.

    Perguntas e respostas sobre testes genéticos para antidepressivos

    1. O que são testes genéticos para antidepressivos?

    Exames que avaliam variações no DNA para entender como o corpo metaboliza e responde aos medicamentos. Ajudam a personalizar o tratamento e podem acelerar a escolha do antidepressivo mais eficaz.

    2. Quais genes costumam ser avaliados?

    Principalmente CYP2D6 e CYP2C19 (metabolismo) e marcadores como SLC6A4 e HTR2A (ação no sistema nervoso).

    3. Qual a diferença entre farmacocinéticos e farmacodinâmicos?

    Farmacocinéticos: mostram como e quão rápido o organismo metaboliza o fármaco.
    Farmacodinâmicos: indicam como o cérebro e os neurotransmissores reagem ao medicamento.

    4. Esses testes já são recomendados em diretrizes?

    orientações consolidadas para genes de metabolismo. Para os farmacodinâmicos, o uso é mais cauteloso e complementar.

    5. Como é feito o exame?

    Coleta simples e pouco invasiva, geralmente por saliva com cotonete estéril (ou por sangue, quando necessário).

    6. Qual o principal benefício para o paciente?

    Reduzir tentativas e erros, evitar longos períodos sem resposta, minimizar efeitos colaterais e chegar mais rápido ao tratamento adequado.

    Leia mais: Depressão não é frescura ou falta de fé: veja mitos sobre a doença

  • Depressão não é frescura ou falta de fé: veja mitos sobre a doença 

    Depressão não é frescura ou falta de fé: veja mitos sobre a doença 

    Você já ouviu algo como “depressão é frescura” ou “é só ter força de vontade”? Frases assim não apenas machucam, como também não têm qualquer fundamento científico. A neurociência desmonta esses preconceitos e mostra que a depressão é uma condição real, com alterações cerebrais e biológicas bem documentadas.

    Depressão não é tristeza passageira, não é preguiça e definitivamente não é frescura”, afirma o psiquiatra Luiz Dieckmann.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a depressão como a principal causa de incapacidade no mundo, afetando quase 300 milhões de pessoas. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 15,5% da população terá depressão ao longo da vida.

    Por que os mitos sobre depressão fazem tanto mal

    Quando alguém diz que a depressão é “frescura” ou “falta de Deus”, ignora todos os mecanismos biológicos envolvidos e desvaloriza o sofrimento de quem passa por isso. Esse preconceito aumenta o isolamento, dificulta a busca por ajuda e atrasa o tratamento — o que pode agravar os sintomas.

    O psiquiatra Luiz Dieckmann faz uma comparação: “Você não diria para uma pessoa com asma: ‘nossa, tem tanto ar para você respirar e você está aí com falta de ar’, certo?”.

    Na depressão, há desequilíbrio em diversos neurotransmissores, como serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato. “Os estudos mostram que pessoas com depressão têm inflamação crônica de baixo grau no cérebro, alteração no sistema imunológico e até mudanças na expressão genética”, detalha o médico especialista.

    Por que quebrar o preconceito sobre depressão é essencial

    O preconceito faz com que muitos não procurem tratamento, o que pode agravar o quadro. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) considera a psicofobia um crime. “Temos que quebrar esse preconceito”, alerta Dieckmann.

    Quanto antes a depressão é diagnosticada e tratada, melhores os resultados: menos sofrimento, menor risco de agravamento e recuperação mais rápida. A empatia, a informação correta e o acolhimento são fundamentais desde o início.

    Veja também: Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

    Perguntas frequentes sobre depressão

    1. A depressão é só tristeza?

    Não. A tristeza pode ser um dos sintomas, mas a depressão envolve alterações bioquímicas, genéticas, imunológicas e ainda influencia o sono, o apetite e o funcionamento no dia a dia.

    2. Depressão é preguiça ou falta de força de vontade?

    Não. Esses mitos não têm base científica. A depressão é uma condição médica real, com causas neurobiológicas e fatores de risco complexos.

    3. Quantas pessoas no Brasil têm depressão?

    Segundo o Ministério da Saúde, 15,5% dos brasileiros terão depressão ao longo da vida. Isso é um número bem alto, considerando o volume da população brasileira.

    4. Por que só algumas pessoas com depressão recebem diagnóstico?

    Por causa de barreiras como estigma, falta de informação, dificuldade de reconhecer sintomas, acesso limitado a serviços de saúde e desigualdades regionais.

    5. Se a depressão tem componentes biológicos, significa que não há tratamento?

    Pelo contrário. Entender os aspectos biológicos orienta o tratamento adequado, que pode incluir medicamentos, psicoterapia e mudanças no estilo de vida. A genética mostra caminhos, mas não define o destino.

    6. Vale a pena procurar ajuda médica mesmo que os sintomas pareçam leves?

    Sim. Buscar apoio desde o início ajuda a evitar agravamentos e facilita encontrar o tratamento certo.

    7. Como posso ajudar alguém que está sofrendo?

    Sem julgamentos: ouça, demonstre compreensão, incentive a busca por ajuda profissional e evite reforçar mitos como “isso é frescura” ou “é só ter força de vontade”.

    Leia também: Tratamento da depressão em 2025: o que tem de novo

  • Tratamento da depressão em 2025: o que tem de novo 

    Tratamento da depressão em 2025: o que tem de novo 

    O tratamento da depressão tem evoluído rapidamente nos últimos anos. Em 2025, novas opções surgem para pessoas que já tentaram diferentes antidepressivos sem sucesso, além de alternativas específicas para situações como a depressão pós-parto.

    Essas inovações trazem esperança, mas é importante lembrar: os pilares do tratamento continuam sendo o acompanhamento médico, em que o psiquiatra define a melhor estratégia, a psicoterapia e os cuidados com o estilo de vida.

    O psiquiatra Luiz Dieckmann explica o que há de novo no tratamento da depressão em 2025.

    Escetamina em spray nasal: agora como tratamento único

    A escetamina em spray nasal já vinha sendo usada em casos de depressão resistente, mas precisava ser associada a outro antidepressivo oral.

    A novidade é que, em janeiro de 2025, ela foi aprovada nos Estados Unidos para uso como monoterapia, ou seja, pode ser prescrita sozinha. “Antes era necessário combiná-la com outro antidepressivo oral. Essa mudança abre novas possibilidades para pacientes que já tentaram vários remédios sem melhora”, conta o médico.

    Leia mais: O que é depressão e quais são os principais sintomas

    Psilocibina: psicodélicos no radar

    A psilocibina, substância presente em alguns cogumelos, ganhou destaque em 2025. Em junho, um estudo de fase 3 mostrou que uma única sessão, associada à psicoterapia, trouxe melhora significativa em pessoas com depressão resistente.

    “A psilocibina ainda não foi aprovada, mas o resultado reforça o potencial dos psicodélicos no tratamento, desde que usados em ambiente controlado”, detalha Dieckmann.

    Zuranolona: foco na depressão pós-parto

    Para mulheres com depressão pós-parto, uma novidade importante é a zuranolona, primeira medicação oral aprovada especificamente para essa condição. Ela foi aprovada em 2023 e, em 2025, já está disponível em alguns países.

    Essa opção representa um avanço, já que até então o tratamento era feito apenas com antidepressivos convencionais, sem foco específico nesse tipo de depressão.

    Veja também: O que é ansiedade e por que ela está aumentando

    Dextrometorfano + bupropiona: antidepressivo de ação mais rápida

    Outra combinação que ganhou espaço é a de dextrometorfano com bupropiona. Trata-se de um antidepressivo oral que age mais rápido do que os tradicionais e traz melhora em menos tempo para algumas pessoas.

    Essa rapidez pode ser decisiva em quadros graves, onde esperar semanas para o efeito dos antidepressivos comuns é um desafio.

    O que muda na prática?

    As novidades de 2025 ampliam as alternativas de tratamento. Agora, quem não responde aos antidepressivos convencionais tem opções como:

    • Escetamina em spray nasal, agora aprovada como monoterapia;
    • Psilocibina, ainda em estudo, mas com resultados promissores;
    • Zuranolona, voltada à depressão pós-parto;
    • Dextrometorfano associado à bupropiona, de ação mais rápida.

    Ainda assim, Dieckmann reforça: essas inovações não substituem os pilares do cuidado — acompanhamento médico regular, psicoterapia de qualidade e atenção ao estilo de vida.

    Leia mais: ‘Acordava com a sensação de que não conseguia respirar’: o relato de quem convive com ansiedade

    Perguntas frequentes sobre o tratamento da depressão em 2025

    1. O que é depressão resistente?

    É quando o paciente não apresenta melhora mesmo após tentar diferentes antidepressivos convencionais.

    2. O que muda com a escetamina em spray nasal?

    Em 2025, ela passou a ser aprovada como monoterapia, podendo ser usada sozinha em casos de depressão resistente.

    3. A psilocibina já pode ser usada no tratamento da depressão?

    Ainda não. Apesar de estudos de fase 3 mostrarem bons resultados, a psilocibina não tem aprovação clínica.

    4. A zuranolona está disponível no Brasil?

    Por enquanto não. A zuranolona está disponível apenas em alguns países, sendo a primeira medicação oral aprovada para depressão pós-parto.

    5. O que é a combinação de dextrometorfano com bupropiona?

    É um antidepressivo oral de ação mais rápida, indicado quando a resposta imediata é importante.

    6. Esses novos medicamentos substituem a psicoterapia?

    Não. A psicoterapia segue sendo um pilar essencial do tratamento, mesmo com os avanços farmacológicos.

    7. Quem pode ter acesso a essas novidades?

    O acesso depende da aprovação em cada país e, principalmente, da indicação médica. Apenas o psiquiatra pode avaliar a melhor opção em cada caso.

    Confira: Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

  • Psicoterapia: entenda quando é hora de começar

    Psicoterapia: entenda quando é hora de começar

    Em um mundo cada vez mais acelerado, exigente e conectado, os sinais de esgotamento emocional têm se tornado cada vez mais comuns. Buscar apoio psicológico não precisa (e nem deve) ser o último recurso.

    Em vez de esperar o sofrimento chegar ao limite, cada vez mais pessoas têm entendido que a psicoterapia pode ser uma ferramenta poderosa de autoconhecimento, equilíbrio emocional e prevenção de doenças mentais.

    Sinais de que é hora de buscar ajuda psicológica

    Para o psicólogo Bruno Sini Scarpato, professor de pós-graduação do Instituto de Ensino Superior Albert Einstein, cuidar da saúde mental não é luxo, mas sim uma prioridade.

    “Estudos apontam que 1 a cada 4 pessoas será afetada por algum transtorno mental ao longo da vida”, afirma. “Quanto maior for a demora no início do tratamento, maior será a perda de funcionalidade e o risco de adoecimento físico.”

    Sintomas que indicam a necessidade de apoio psicológico:

    • Tristeza persistente;
    • Irritabilidade constante;
    • Ansiedade fora do controle;
    • Alterações no sono ou apetite;
    • Cansaço sem causa aparente;
    • Dificuldade de concentração;
    • Isolamento social;
    • Comportamentos autodestrutivos;
    • Uso abusivo de substâncias;
    • Pensamentos sobre desaparecer.

    “É possível buscar terapia mesmo quando se está apenas enfrentando dúvidas sobre um relacionamento, carreira ou tomada de decisões”, acrescenta Bruno.

    O que é a terapia cognitivo-comportamental (TCC)?

    Entre as abordagens mais procuradas de psicoterapia, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) se destaca pela praticidade e foco em soluções no presente.

    “A TCC parte da ideia de que pensamentos, emoções e comportamentos estão interligados. Ao identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos, conseguimos reduzir o sofrimento emocional e mudar comportamentos disfuncionais”, explica o psicólogo.

    Diferente de abordagens voltadas ao passado, como a psicanálise, a TCC tem sessões estruturadas e metas claras.

    “As sessões são estruturadas, com uso de técnicas ativas e tarefas entre os encontros”, completa Bruno.

    Benefícios da psicoterapia no dia a dia

    A psicoterapia não é apenas para quem tem um diagnóstico. De acordo com Bruno, todos podem se beneficiar. “Não é preciso esperar por um diagnóstico para começar o acompanhamento terapêutico”, afirma.

    De acordo com o psicólogo, a psicoterapia pode ajudar a:

    • Lidar melhor com emoções;
    • Melhorar o autoconhecimento;
    • Aumentar a autoestima;
    • Ajudar a tomar decisões com mais clareza;
    • Construir limites saudáveis;
    • Fortalecer a comunicação;
    • Contribuir para enfrentar desafios do dia a dia, como trabalho, estudos e relações.

    Em casos de transtornos mentais, o acompanhamento também ajuda a reconhecer padrões e manejar os sintomas.

    Como encontrar psicoterapia gratuita ou acessível

    A questão financeira ainda é uma das maiores barreiras, mas há alternativas. “Muitas universidades oferecem atendimento gratuito ou a preços simbólicos em clínicas-escola. O SUS também disponibiliza apoio psicológico nas UBS e nos CAPS”, orienta Bruno.

    Durante a pandemia, surgiram plataformas online que democratizaram ainda mais o acesso. Além disso, planos de saúde são obrigados a cobrir sessões de psicoterapia se houver pedido médico, conforme resolução atual da ANS.

    Quanto tempo dura uma terapia?

    A duração de uma sessão de terapia varia conforme a abordagem, os objetivos e o ritmo da pessoa.

    “Saber se é hora de encerrar envolve avaliar se os sintomas diminuíram, se os objetivos foram alcançados e se a pessoa se sente mais preparada para lidar com os desafios sozinha”, explica o psicólogo.

    Algumas terapias duram entre 12 e 20 sessões, enquanto outras podem durar meses ou até anos. Não existe um tempo certo, cada jornada é única.

    Medos e resistências: o que trava o início?

    “Muitas pessoas não sabem o que esperar ou têm crenças negativas sobre a terapia. Algumas resistem à mudança mesmo que estejam em sofrimento”, comenta Bruno.

    Medo de se expor, insegurança com o processo e desinformação são barreiras comuns. O crescimento da terapia online, porém, tem ajudado a romper esses obstáculos.

    Terapia online ou presencial: qual escolher?

    A pandemia digitalizou o cuidado com a saúde mental. Hoje, é já dá para escolher entre atendimento online ou presencial, conforme a preferência e necessidade.

    “A terapia online ganhou força e ampliou o acesso, além de facilitar o contato com conteúdos sobre saúde emocional nas redes”, afirma o especialista.

    O mais importante é criar vínculo com o profissional. Se não houver conexão, vale tentar com outro. “Isso não é sinal de fracasso. O vínculo terapêutico é construído com tempo, empatia e confiança”, reforça.

    Psicoterapia é um gesto de coragem

    “Muitas pessoas associam o sofrimento emocional à fraqueza, loucura ou instabilidade. Isso gera vergonha e medo de julgamento”, explica Bruno.

    Além disso, o preconceito muitas vezes impede que os transtornos mentais sejam reconhecidos como questões de saúde, como se não merecessem o mesmo cuidado que um diagnóstico de diabetes ou arritmia cardíaca, por exemplo.

    Portanto, cuidar da mente com a mesma seriedade com que cuidamos do corpo é uma atitude importante e, por que não, corajosa. “A psicoterapia não é apenas tratamento. É também prevenção, fortalecimento e investimento em si mesmo”, diz Bruno.

    Perguntas frequentes sobre psicoterapia

    1. Como saber se está na hora de procurar um psicólogo?

    Sinais como tristeza constante, ansiedade, insônia, irritabilidade ou dificuldade de lidar com desafios são indicativos importantes para fazer psicoterapia.

    2. Psicoterapia é só para quem tem transtorno mental?

    Não. Qualquer pessoa pode se beneficiar da terapia, mesmo sem um diagnóstico clínico.

    3. O que é TCC e como ela funciona?

    A terapia cognitivo-comportamental ajuda a modificar pensamentos e comportamentos que causam sofrimento por meio de técnicas práticas e objetivos claros.

    4. Existe atendimento psicológico gratuito?

    Sim. Universidades, UBS, CAPS e algumas plataformas online oferecem serviços gratuitos ou a preços reduzidos.

    5. A psicoterapia online funciona?

    Sim. É uma alternativa válida, segura e eficaz, especialmente para quem tem dificuldades de deslocamento ou horários restritos.

    6. Quanto tempo dura a terapia?

    Depende do caso. Pode durar algumas sessões ou se estender por meses ou anos, de acordo com os objetivos e o progresso do paciente.

    7. E se eu não me sentir confortável com o terapeuta?

    Trocar de profissional é comum. A relação terapêutica precisa ser baseada em confiança e empatia.

  • O que é depressão e quais são os principais sintomas 

    O que é depressão e quais são os principais sintomas 

    Sentir tristeza de vez em quando faz parte da vida. Quem nunca passou por dias difíceis, se sentiu para baixo ou sem vontade de fazer nada? Quando essa sensação se prolonga por semanas, interfere na rotina, nos relacionamentos e até na saúde do corpo, pode ser sinal de algo mais sério: a depressão.

    A depressão é uma condição de saúde mental comum, mas ainda cercada de preconceitos. No Brasil, por exemplo, estima-se que 15,5% das pessoas tenham depressão, o que equivale a aproximadamente 31,5 milhões de pessoas.

    Entender o que é depressão, como se manifesta e quais os caminhos para o tratamento é muito importante para ajudar quem está sofrendo, seja você ou alguém próximo.

    Depressão: definição médica e tipos

    A depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente, perda de interesse em atividades do dia a dia e outros sintomas que afetam a vida da pessoa. Ela não é frescura, preguiça ou fraqueza, mas uma condição clínica que exige atenção e tratamento adequado.

    Existem diferentes tipos de depressão, que variam em intensidade, duração e causa.

    Episódio depressivo maior

    É o tipo mais conhecido. “A depressão maior acontece quando a tristeza profunda ou a perda de prazer, chamada anedonia, dominam por no mínimo duas semanas e se somam a sinais como alteração de sono, apetite, energia e pensamento”, explica o psiquiatra Luiz Dieckmann.

    Transtorno depressivo persistente ou distimia

    O psiquiatra explica que a distimia, hoje chamada transtorno depressivo persistente, mantém humor baixo de maneira mais branda, porém contínua, durante dois anos ou mais, gerando cansaço crônico e baixa autoestima.

    Depressão sazonal

    Costuma acontecer em determinadas épocas do ano, especialmente no outono e inverno, quando há menos exposição à luz do sol. Pode causar alterações de humor, cansaço e isolamento.

    “A forma sazonal surge entre o fim do outono e o inverno, período com menos luz natural, o que bagunça o relógio biológico e eleva a melatonina, hormônio que induz sono”, detalha o médico.

    Depressão pós-parto

    O especialista explica que a depressão pós-parto aparece até quatro semanas depois do nascimento do bebê, momento de queda brusca dos hormônios da gravidez, poucas horas de sono e forte responsabilidade emocional.

    Principais sintomas da depressão

    A depressão pode se manifestar de várias formas. Os sinais podem ser emocionais, físicos ou comportamentais, e nem sempre são fáceis de identificar.

    Sintomas emocionais da depressão

    • Tristeza profunda e persistente;
    • Perda de interesse ou prazer nas atividades do dia a dia;
    • Sensação de vazio ou desesperança;
    • Sentimento de culpa ou inutilidade;
    • Irritabilidade ou crises de choro.

    Sintomas físicos da depressão

    • Fadiga o tempo todo;
    • Dores no corpo sem explicação médica;
    • Alterações no sono (insônia ou sono excessivo);
    • Mudança no apetite e no peso;
    • Problemas gastrointestinais, como indigestão, dor abdominal, náuseas ou diarreia.

    Sintomas comportamentais da depressão

    • Vontade de ficar isolado;
    • Dificuldade de se concentrar;
    • Desempenho ruim no trabalho ou nos estudos;
    • Falta de cuidado com a própria aparência;
    • Pensamentos de morte ou suicídio.

    “Existem quadros de depressão sem tristeza declarada. A pessoa relata desânimo, irritabilidade, dores de cabeça, problemas gastrointestinais e sensação de vazio, mas diz não estar triste”, explica o médico.

    “Esse tipo de depressão ‘mascarada’ confunde familiares e até profissionais de saúde porque se apresenta como queixas físicas ou mau humor constante”.

    Diferença entre tristeza e depressão

    Estar triste por um motivo específico, como o fim de um relacionamento ou a perda de um emprego, é uma reação emocional esperada. A tristeza geralmente tem um motivo claro, é passageira e não impede a pessoa de seguir com a vida.

    Já a depressão é persistente, mais intensa e pode surgir mesmo sem um motivo aparente. Ela afeta o funcionamento do corpo e da mente, e costuma durar semanas ou até meses, e precisa de ajuda de um médico ou psicólogo para o tratamento.

    Avalie o que você sente com um médico para entender se é tristeza ou depressão.

    Causas da depressão

    A depressão pode ser causada por uma combinação de coisas, entre elas fatores biológicos, genéticos, ambientais e psicológicos. Não existe uma causa de depressão única, e é por isso que o tratamento deve ser personalizado.

    Fatores genéticos

    Pessoas com histórico familiar de depressão têm mais chance de desenvolver a doença, mas isso não significa que seja inevitável.

    “Quem tem pai, mãe ou irmãos com depressão diminui o próprio risco ao adotar três pilares: sono regular de sete a oito horas, atividade física aeróbica que libera endorfinas protetoras e uma rede de apoio de amigos ou família para dividir preocupações. Essas medidas modulam o eixo cortisol, principal via de resposta ao estresse”, aconselha o psiquiatra.

    Fatores ambientais

    Estresse constante, traumas, violência, perdas e até condições ruins de vida podem estar ligados ao desenvolvimento da depressão.

    “Experiências adversas, violência cotidiana e isolamento social elevam o cortisol, hormônio que prepara o corpo para lutar ou fugir. Em doses altas e prolongadas o cortisol inflama o cérebro, prejudica a formação de novas conexões neurais e aumenta vulnerabilidade à depressão”, conta Dieckmann.

    “Algumas pessoas carregam variantes genéticas que reforçam a proteção dos neurônios, resultado em maior resiliência, enquanto outras nascem com variantes que amplificam o impacto do estresse”.

    Desequilíbrios químicos

    Alterações nos neurotransmissores do cérebro, como serotonina e dopamina, também estão relacionadas ao aparecimento da depressão.

    O psiquiatra explica que a serotonina, noradrenalina e dopamina são mensageiros químicos que regulam humor, motivação e energia.

    “Seus níveis variam em resposta a gatilhos como alterações hormonais da tireoide, uso de certas medicações, inflamações sistêmicas e sobrecarga emocional. Esses gatilhos desajustam os circuitos cerebrais ligados à recompensa, causando apatia ou tristeza”, diz.

    Diagnóstico da depressão

    O diagnóstico da depressão é feito por um médico psiquiatra ou outro profissional de saúde mental. Ele considera os sintomas, a duração e o impacto na vida da pessoa.

    Não existem exames laboratoriais que comprovem a depressão, mas testes e conversas com o médico ajudam a avaliar o problema. Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de recuperação e menor o tempo de sofrimento da pessoa.

    “Deixar de tratar a depressão permite que sintomas se prolonguem e se tornem mais resistentes. Estudos mostram risco dobrado de infarto e derrame, piora de memória e concentração, maior probabilidade de abuso de álcool ou drogas e aumento expressivo da chance de suicídio”, diz o médico.

    “Além disso, a doença rouba anos de vida produtiva e prejudica relações pessoais”.

    Quando buscar ajuda para depressão

    O psiquiatra recomenda buscar ajuda médica se os sintomas durarem mais de duas semanas e começarem a atrapalhar a vida, como o trabalho, os estudos, ou se surgirem pensamentos de morte ou incapacidade de cuidar de si.

    “Um clínico, psicólogo ou psiquiatra consegue confirmar o diagnóstico e iniciar tratamento que abrange psicoterapia, ajustes no estilo de vida e, quando necessário, medicação. Quanto mais cedo o cuidado, maior a chance de remissão completa”, diz.

    Perguntas frequentes sobre depressão

    1. Depressão tem cura?

    Sim. Com o tratamento adequado, é possível controlar os sintomas e ter qualidade de vida.

    2. O que fazer quando um amigo está com depressão?

    Ouça sem julgar, incentive a buscar ajuda profissional e esteja presente.

    3. Remédio para depressão vicia?

    Não. Antidepressivos não causam dependência química, mas devem ser usados somente com orientação médica.

    4. Posso tratar a depressão só com terapia?

    Em alguns casos leves, sim. Em outros, pode ser necessário combinar terapia e medicamentos.

    5. Crianças e adolescentes podem ter depressão?

    Sim. E o diagnóstico precoce é ainda mais importante nessa fase.

    Leia Mais: Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

    6. Existe depressão pós-parto?

    Sim. Ela pode surgir alguns dias após o parto ou até semanas depois e precisa de atenção médica.

    7. Atividades físicas ajudam na depressão?

    Sim. Elas liberam substâncias que melhoram o humor e reduzem a ansiedade.

    8. Como diferenciar preguiça de depressão?

    A depressão vai muito além da falta de vontade. Ela afeta o corpo e a mente, e precisa de tratamento.

  • Insônia: por que dormir mal afeta corpo e mente 

    Insônia: por que dormir mal afeta corpo e mente 

    Dormir virou quase um luxo nos dias de hoje. Entre o celular que não para de apitar, o trabalho que invade a madrugada e a cabeça que não desliga, muita gente já nem lembra como é acordar descansado. Mas o problema vai além do cansaço. A privação de sono pode desencadear problemas físicos, emocionais e até mesmo transtornos como a depressão.

    Hoje, estima-se que 72% dos brasileiros sofram com alterações no sono. Entenda mais sobre a relação entre insônia, depressão e outras doenças, e o que você pode fazer para ter boas noites de sono.

    Por que dormir bem é importante?

    O sono é um processo biológico essencial para a saúde. Enquanto você dorme, seu corpo trabalha e regula hormônios, equilibra o sistema imunológico, consolida memórias e faz até uma espécie de “faxina” no cérebro. Essa limpeza é feita pelo chamado sistema glinfático, que remove toxinas e proteínas associadas a doenças neurológicas, uma função descoberta só em 2012.

    Hoje, o sono é considerado o terceiro pilar da saúde, ao lado da alimentação equilibrada e da atividade física. “Reconhecer seus impactos profundos representa o primeiro passo para uma revolução nos cuidados pessoais e na saúde pública”, afirma a cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein.

    O impacto da insônia na saúde física

    O impacto do sono é brutal. Uma noite maldormida já bagunça o corpo todo. Estudos mostram que uma única noite de sono ruim pode reduzir a sensibilidade à insulina em até 25%, e isso é preocupante, pois deixa o corpo em um estado semelhante ao pré-diabetes. Não é exagero: dormir pouco aumenta a chance de ganhar peso, de obesidade e de diabetes tipo 2.

    Como se não bastasse, a falta de sono também afeta o coração. “Durante o sono, a pressão arterial tende a cair. Quando o sono é curto ou fragmentado, isso não acontece, e o risco de hipertensão e doenças cardíacas aumenta”, explica a cardiologista.

    Coração, pressão e sono andam juntos

    O sono é o momento em que o sistema cardiovascular relaxa. Quando esse descanso não acontece da melhor maneira, o corpo continua em alerta, com a pressão arterial e a frequência cardíaca elevadas, e tudo isso sobrecarrega o coração.

    Estudos também apontam que dormir mal aumenta em até 48% o risco de eventos cardíacos. O motivo é que a falta de sono interrompe processos de autorregulação do sistema nervoso e hormonal, o que deixa o corpo em um estado constante de tensão.

    Insônia e depressão: uma via de mão dupla

    A relação entre sono e saúde mental é mútua. Quem está deprimido tem mais chance de dormir mal, e quem dorme mal tem risco aumentado de desenvolver depressão.

    “A concomitância de insônia e depressão promove maior redução na qualidade de vida do que quando uma dessas condições ocorre isoladamente. Tal interação amplifica a importância do tratamento e da gestão conjunta dessas condições”, afirma Juliana.

    A explicação está no cérebro. Durante o sono, especialmente na fase REM, aquela dos sonhos, o cérebro processa emoções, regula neurotransmissores e se prepara para enfrentar um novo dia. Quando esse ciclo é interrompido, ficamos mais vulneráveis, ansiosos e emocionalmente instáveis.

    Quanto tempo devemos dormir por noite?

    A necessidade de sono muda conforme a idade. Mas, para adultos e idosos, a recomendação da National Sleep Foundation é de sete a nove horas por noite.

    Parece simples, mas a rotina moderna dificulta esse padrão. Trabalho em turnos, uso excessivo de telas, estresse crônico e até a alimentação influenciam na qualidade do sono. E não basta dormir muito, é preciso que o sono seja profundo e restaurador.

    E quando dormir mal vira hábito?

    A insônia crônica é um problema de saúde. Ela reduz a produtividade, afeta o humor, enfraquece o sistema imunológico e, com o tempo, pode aumentar o risco de doenças graves.

    “Um tratamento eficaz para distúrbios do sono pode incluir estratégias comportamentais, como a terapia cognitivo-comportamental para insônia, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, medicação”, orienta Juliana.

    Alguns sinais para procurar ajuda são:

    • Dificuldade frequente para dormir;
    • Acordar várias vezes durante a noite;
    • Acordar cansado;
    • Ficar irritado;
    • Dificuldade de concentração.

    Sono ruim afeta a qualidade de vida

    Tanto a insônia quanto a depressão afetam o bem-estar de uma pessoa. Quem tem problema de sono relata menos satisfação com a vida, mais cansaço e menor disposição para as atividades do dia a dia.

    O tratamento de distúrbios do sono melhora o humor, a energia e o desempenho no trabalho. Não é exagero dizer que dormir bem muda a vida.

    O que a sociedade pode fazer pelo nosso sono?

    A culpa nem sempre é individual. O ritmo das cidades, a pressão por produtividade e o excesso de estímulos digitais criam um ambiente hostil ao descanso.

    “Políticas de saúde pública devem enfatizar a importância do sono e promover práticas que encorajem padrões de sono saudáveis, especialmente em uma era em que a tecnologia e o ritmo acelerado da vida moderna frequentemente o interrompem”, alerta Juliana.

    Entre as ações que ajudam estão campanhas educativas, inclusão da higiene do sono nas escolas e até programas corporativos que valorizem o bem-estar do trabalhador.

    Dicas práticas de higiene do sono para dormir melhor

    Criar uma rotina na hora de dormir ajuda bastante na qualidade do sono. Veja algumas dicas para dormir melhor:

    • Durma sempre no mesmo horário: tente dormir e acordar sempre nos mesmos horários, inclusive nos fins de semana. Isso ajuda a regular o relógio biológico.
    • Evite telas antes de dormir: celular, tablet e TV emitem luz azul, que atrapalha a produção de melatonina, o hormônio do sono.
    • Diminua o ritmo à noite: crie um ritual relaxante antes de se deitar, como tomar um banho morno, ouvir uma música tranquila ou ler um livro leve. Encontre o que é melhor para você.
    • Deixe o quarto confortável: o quarto precisa ser escuro, silencioso e com temperatura agradável.
    • Corte a cafeína à tarde: café, chá-preto, energéticos e até chocolate podem atrapalhar o sono se consumidos no fim do dia. Prefira consumir só de manhã.
    • Não faça refeições pesadas à noite: o correto é comer algo leve e pelo menos duas horas antes de se deitar.

    Dormir bem é prioridade, não luxo

    Dormir bem é tão importante quanto comer bem ou fazer exercícios. É durante o sono que o corpo se restaura, o coração descansa e o cérebro se organiza.

    Se você vive acordando cansado, tem dificuldade para dormir ou se sente irritado e sem foco durante o dia, vale a pena rever seus hábitos de sono. Priorize o descanso e procure ajuda médica caso não consiga dormir bem.

    Perguntas frequentes sobre insônia e depressão

    1. Quantas horas de sono são ideais por noite?

    Para adultos, o ideal é dormir entre:

    • 7 a 9 horas por noite, de forma regular
    • Dormir menos que 6 horas com frequência pode afetar a saúde
    • O sono insuficiente está ligado a problemas físicos e mentais, como depressão, ansiedade e doenças cardiovasculares

    2. A insônia pode causar depressão?

    Sim. A insônia crônica é um fator de risco para depressão e pode agravar uma depressão que já existe.

    3. Dormir pouco afeta o coração?

    Sim, sono e coração estão interligados. O sono ajuda a regular a pressão arterial e o funcionamento do coração. Dormir mal aumenta o risco de pressão alta e doenças cardíacas.

  • Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

    Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

    A tristeza profunda que dura semanas, o isolamento repentino e o silêncio atrás de portas fechadas. Será que é só uma fase? A depressão na adolescência é real e está mais presente do que muitos adultos imaginam.

    Com o apoio da psiquiatra Graccielle Asevedo, hoje você vai entender os sinais de alerta, o papel das séries adolescentes nessa conversa e como os adultos podem ajudar de verdade.

    Por que a depressão na adolescência está aumentando?

    Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a saúde mental de adolescentes preocupa. O número de jovens com sintomas depressivos tem crescido, inclusive em idades cada vez mais jovens. Um estudo feito em Recife apontou que quase 60% dos adolescentes de 14 a 16 anos apresentavam sintomas importantes de depressão.

    Esse aumento pode estar ligado a fatores como:

    • Poucas horas de sono;
    • Muito tempo de exposição a telas e conteúdos violentos;
    • Falta de tempo ao ar livre ou de convivência com amigos;
    • Pressão, cobranças e traumas vividos na infância.

    Ou seja: a rotina de hoje tem deixado pouco espaço para o descanso emocional dos jovens.

    7 sinais de depressão em adolescentes que pais devem observar

    Nem sempre o adolescente vai dizer que está sofrendo, mas o corpo e o comportamento dão pistas. Fique atento a mudanças como:

    • Isolamento social;
    • Irritabilidade constante;
    • Queda no rendimento escolar;
    • Distúrbios no sono e apetite;
    • Queixas físicas frequentes sem causa definida;
    • Automutilação;
    • Postagens com tom ambíguo sobre morte ou suicídio.

    “Mesmo sinais discretos, se durarem mais de duas semanas, precisam ser levados a sério”, alerta a psiquiatra Graccielle Asevedo.

    Bullying e suas marcas invisíveis

    Bullying na adolescência não é só brincadeira de mau gosto. Os efeitos podem durar bastante tempo e envolver autoestima abalada, medo de socializar, ansiedade, depressão e, em casos mais graves, pensamentos suicidas.

    “Muitos adolescentes evitam ambientes sociais por medo de novas agressões. E o mais grave: quando esse sofrimento não é validado, pode durar por toda a vida adulta”, afirma Graccielle.

    O que as séries revelam (e escondem)

    As séries adolescentes têm abordado temas como bullying, depressão e suicídio com cada vez mais intensidade. Para Graccielle, isso pode ter dois efeitos:

    • Positivo, quando ajudam a dar nome ao sofrimento e incentivam o diálogo
    • Negativo, quando dão foco apenas a casos extremos, silenciando dores mais sutis.

    “As séries funcionam como espelhos. Tentam traduzir sentimentos que os próprios adolescentes muitas vezes não conseguem nomear”, explica a psiquiatra. “Quando bem construídas, as séries podem ser um canal poderoso de empatia e conscientização. Mas quando tratam o sofrimento apenas como recurso dramático, sem mostrar caminhos de apoio, podem reforçar a sensação de desamparo.”

    Por que os adolescentes trancam as portas?

    Bilhetes, músicas e portas trancadas são, muitas vezes, sinais silenciosos de que algo não vai bem. “Esses ‘sinais cifrados’ são tentativas reais de se fazer entender sem se expor totalmente. São como testes silenciosos: ‘Se alguém perceber, talvez valha a pena falar’”, diz Graccielle.

    Trancar a porta pode significar “quero ficar sozinho”, mas também pode ser um “me veja, sem me invadir”. O papel dos adultos é escutar com presença, sem julgamento.

    Como ajudar um adolescente com depressão

    Nem sempre os adolescentes pedem ajuda de forma direta. Mas perceber que há alguém disponível para escutar, e não apenas corrigir, já é um grande passo.

    “Olhos serão revirados. Portas serão batidas. Mas isso não significa que devam permanecer fechadas”, lembra Graccielle.

    A presença emocional de um adulto confiável é um dos maiores fatores de proteção contra a depressão na adolescência. Criar espaço para conversas simples, sem pressão, pode fazer diferença.

    Dica para os pais: use as séries como ponte

    Assistir junto as séries adolescentes pode ser uma chance de aproximação. “O mais importante não é apenas o que está na tela, mas como o adolescente reage àquilo”, diz. “Qual personagem ele defende? Qual cena ele revê em silêncio? Tudo isso são pistas emocionais”, sugere Graccielle.

    Perguntar com curiosidade sobre as reações do adolescente pode abrir portas importantes. “Trocar um ‘isso é exagero’ por ‘deve ser difícil enfrentar isso sozinho’ pode mudar tudo”, orienta a psiquiatra.

    O sofrimento do adolescente é real

    “A adolescência não é só uma fase de transição. É onde se constroem os alicerces da autoestima, da confiança, da sensação de pertencimento”, afirma Graccielle. Saber reconhecer os sinais é importante, mas mais ainda é ser uma presença acolhedora.

    “Porque um adolescente que encontra um adulto que o escuta, mesmo no caos, aprende algo fundamental: que não precisa atravessar tudo sozinho… que pode ser imperfeito, confuso, em construção — e ainda assim ser amado”, conclui.

    Tratamento para depressão adolescente

    Quando um adolescente está enfrentando a depressão, é muito importante que ele receba apoio e tratamento adequado. O primeiro passo é que os pais ou responsáveis o levem para uma avaliação com um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra especializado em adolescentes.

    Esses profissionais estão preparados para entender o que o jovem está sentindo e, se for necessário, recomendarão o tratamento mais adequado, que pode incluir psicoterapia, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, o uso de medicação.

    Se o médico recomendar o uso de remédios, é importante que a família acompanhe com atenção e confiança, respeitando as orientações e evitando interromper o tratamento por conta própria. Tudo deve ser feito com diálogo, paciência e muito cuidado, sempre ouvindo o adolescente e incluindo-o nas decisões.

    Acolher com carinho, levar a sério o que o jovem está vivendo e buscar ajuda profissional sem demora são medidas muito importantes para que ele possa se recuperar e reencontrar o equilíbrio emocional.

    Prevenção do suicídio adolescente: como fortalecer os vínculos

    O suicídio é hoje a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, segundo a SBP, e os sinais de alerta podem aparecer ainda mais cedo, entre os 10 e 14 anos. Por isso, falar sobre o tema com cuidado, mas sem tabu, é uma forma importante de proteger o adolescente.

    Os principais fatores de risco para suicídio adolescente estão:

    • Depressão e ansiedade não diagnosticadas ou não tratadas;
    • Uso de álcool e drogas;
    • Histórico de abuso sexual ou violência doméstica;
    • Pais ausentes emocionalmente ou com baixa escuta ativa;
    • Bullying e exclusão social, principalmente no ambiente escolar;
    • Pressão por sucesso, aparência ou desempenho;
    • Falta de autoestima e de um projeto de vida com sentido;
    • Sensação de não pertencimento, como se não houvesse espaço para ser quem se é.

    Mas há também fatores de proteção que fazem uma enorme diferença. O mais importante, segundo a SBP, é o sentimento de esperança no futuro, algo que pode ser construído a partir de relações saudáveis e significativas.

    Vínculos afetivos fortes com pais, amigos e professores são uma das principais formas de proteção emocional. Quando o adolescente sente que pode contar com alguém, mesmo nos momentos difíceis, ele tende a enfrentar melhor os desafios.

    Por isso:

    • Esteja presente no dia a dia com escuta verdadeira e sem julgamentos;
    • Crie oportunidades de diálogo, mesmo que seja em momentos informais, como ver um filme juntos ou conversar no carro;
    • Ajude o adolescente a visualizar caminhos futuros com pequenas metas e projetos;
    • Fortaleça o vínculo com a escola e incentive as amizades saudáveis;
    • Evite frases como “isso é frescura”, “você não tem motivo para estar assim” ou apoios vagos, como “vai ficar tudo bem”. Prefira: “eu também já passei por algo parecido e te entendo. Vamos entender juntos o que está acontecendo”.

    A SBP também reforça que a prevenção começa na escuta e na convivência. Quando o adolescente tem espaço para se expressar e encontra adultos disponíveis emocionalmente, o risco de desenvolver pensamentos suicidas diminui.

    E, se surgir qualquer sinal de alerta, como falas frequentes sobre morte, tristeza persistente, isolamento ou mudanças bruscas de comportamento, busque apoio profissional imediatamente. Falar sobre isso pode salvar vidas.

    Falar é importante: o CVV está pronto para ouvir, sempre

    Quando a tristeza parece não passar ou as emoções ficam difíceis de entender, conversar com alguém pode fazer toda a diferença. E isso vale tanto para adolescentes quanto para quem cuida deles.

    O CVV (Centro de Valorização da Vida) é um canal gratuito, sigiloso e que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Lá, voluntários preparados estão prontos para ouvir e dar orientações, sem julgamentos. Basta ligar 188 ou acessar o site cvv.org.br.

    E atenção: os pais também podem ligar, caso estejam preocupados com o filho e não saibam como agir. O CVV acolhe qualquer pessoa que precise conversar, seja para aliviar o sofrimento, seja para entender melhor como ajudar alguém que está passando por um momento difícil.

    Perguntas frequentes sobre depressão na adolescência

    1. É normal adolescentes se isolarem?

    Sim, até certo ponto. Mas o isolamento constante, quando vem acompanhado de tristeza, agressividade ou queda de rendimento, pode indicar depressão.

    2. Séries sobre saúde mental ajudam ou atrapalham?

    Depende. Algumas séries trazem reflexões importantes, outras exageram ou romantizam a dor. Assistir junto e conversar é a melhor forma de mediação.

    3. Como abordar o assunto depressão com meu filho sem parecer invasivo?

    Comece com perguntas abertas, sem julgamento. Mostrar disponibilidade sincera para escutar é mais importante do que acertar as palavras certas.

    4. Como saber se um adolescente está com depressão?

    Isolamento, queda no rendimento escolar, alterações no sono, irritabilidade e automutilação podem ser sinais. Busque ajuda médica se durarem mais de duas semanas.