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  • ‘Bebês Ozempic’: como os análogos do GLP-1 impactam a fertilidade?

    ‘Bebês Ozempic’: como os análogos do GLP-1 impactam a fertilidade?

    Inicialmente criados para o tratamento de diabetes tipo 2, os remédios análogos do GLP-1, como o Ozempic, também se tornaram populares para a perda de peso. Eles funcionam imitando a ação de um hormônio produzido no intestino, responsável por controlar a glicose no sangue e aumentar a sensação de saciedade.

    Mas, nos últimos anos, com o crescimento acelerado do uso dos medicamentos, começaram a surgir relatos curiosos sobre outros possíveis efeitos: mulheres que antes enfrentavam dificuldades para engravidar acabaram gestando após o início do tratamento. Nas redes sociais, o fenômeno ganhou um apelido que rapidamente viralizou — os chamados “bebês Ozempic”.

    Mas, afinal, existe relação entre os agonistas de GLP-1 e a fertilidade? Para esclarecer as principais dúvidas (e trazer orientações), conversamos com a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza.

    O que são os agonistas do GLP-1 e como eles funcionam?

    O GLP-1 (glucagon-like peptide-1) é um hormônio produzido pelo intestino logo após as refeições. Ele ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue ao estimular a liberação de insulina, reduzir a secreção de glucagon e retardar o esvaziamento gástrico. Também aumenta a sensação de saciedade, favorecendo a redução natural da ingestão de calorias.

    Como o GLP-1 é rapidamente degradado pelo organismo, surgiram os agonistas do GLP-1 (GLP-1 RAs), medicamentos que imitam sua ação, mas permanecem ativos por mais tempo, trazendo efeitos prolongados no controle metabólico e no auxílio ao emagrecimento.

    Um dos mais conhecidos é a semaglutida (Ozempic). Além do efeito metabólico, ela atravessa a barreira hematoencefálica e age em áreas do cérebro relacionadas ao craving (compulsão por comida), reduzindo o apetite e o comportamento compulsivo.

    Como resultado, a pessoa tende a comer menos, perder peso e melhorar condições associadas, como resistência à insulina e síndrome metabólica — fatores que impactam diretamente a saúde reprodutiva e a fertilidade feminina.

    Como a obesidade e o metabolismo influenciam a fertilidade feminina?

    A obesidade é um dos principais fatores que afetam a fertilidade. O excesso de gordura corporal contribui para o desequilíbrio hormonal, pois o tecido adiposo também produz hormônios. Isso pode levar a ciclos irregulares, ausência de ovulação e dificuldade para engravidar.

    Outro ponto é a resistência à insulina, comum em mulheres com sobrepeso/obesidade. Quando o corpo não responde bem à insulina, ele produz mais hormônio, o que aumenta a produção de androgênios (hormônios masculinos). Esse desequilíbrio atrapalha o amadurecimento e a liberação do óvulo.

    Exemplo frequente é a síndrome dos ovários policísticos (SOP), que afeta cerca de 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva: ciclos irregulares, anovulação e impacto na fertilidade.

    Nesse cenário, os análogos de GLP-1 podem auxiliar ao:

    • Reduzir o peso corporal;
    • Melhorar a sensibilidade à insulina;
    • Reequilibrar os hormônios sexuais;
    • Favorecer o retorno da ovulação.

    Segundo Andreia, mulheres com SOP que emagrecem (especialmente com obesidade) muitas vezes restabelecem o equilíbrio hormonal apenas com a perda de peso, voltando a menstruar regularmente após meses de amenorreia. Por isso, a perda de peso é parte fundamental do tratamento, e o uso de GLP-1 pode ser uma abordagem útil — sempre com orientação profissional.

    Os agonistas do GLP-1 podem interferir no anticoncepcional?

    Até o momento, não há evidências robustas de redução da eficácia da pílula anticoncepcional em usuárias de agonistas do GLP-1.

    No entanto, esses fármacos alteram a motilidade gastrointestinal e podem retardar a absorção de medicamentos orais, inclusive contraceptivos. Na prática, as pílulas costumam ter dose suficiente para manter a eficácia, mesmo com absorção mais lenta.

    Ainda assim, recomenda-se considerar métodos que não dependam da via oral (DIU, implantes, adesivos, anéis, injetáveis) durante o uso de GLP-1, sobretudo em quem não deseja engravidar.

    Existe risco para o bebê ao engravidar durante o uso de GLP-1?

    Faltam dados de segurança na gestação; portanto, não se recomenda o uso de agonistas do GLP-1 durante a gravidez.

    Se a mulher descobrir que está grávida enquanto usa Ozempic ou similares, deve interromper imediatamente e procurar orientação médica. O mesmo cuidado vale para a lactação, pois não se sabe se o medicamento é excretado no leite materno.

    Em gestação planejada, recomenda-se suspender com antecedência:

    • Versões diárias: alguns dias podem bastar;
    • Versões semanais (ex.: semaglutida): cerca de duas semanas para eliminação;
    • Ainda assim, prefere-se suspender 1 a 2 meses antes de tentar engravidar.

    Engravidei tomando Ozempic. E agora?

    Interrompa o uso imediatamente e procure seu médico. Não há estudos controlados em gestantes, e os efeitos sobre o desenvolvimento fetal são incertos.

    Para gestantes com diabetes tipo 2, uma alternativa é a metformina, medicamento amplamente estudado e considerado seguro na gestação. Ela não promove perda de peso, mas auxilia no controle da resistência insulínica.

    Veja também: Wegovy e Ozempic: como funcionam para perda de peso

    Perguntas frequentes

    Tomar Ozempic pode atrapalhar quem já está tentando engravidar?

    De forma direta, não. Porém, o medicamento não deve ser usado na gravidez pela falta de dados de segurança. Se estiver em fase ativa de tentativas, suspenda o uso 1–2 meses antes de buscar a concepção.

    Os agonistas do GLP-1 são indicados como tratamento para infertilidade?

    Não. Eles não são indutores de fertilidade. Foram desenvolvidos para diabetes tipo 2 e aprovados para obesidade. O benefício na fertilidade é indireto: melhora metabólica, menor resistência insulínica e perda de peso tendem a favorecer a ovulação.

    Existe diferença entre o efeito do Ozempic e de outros agonistas do GLP-1 na fertilidade?

    Os efeitos de classe são semelhantes (controle glicêmico, menor apetite, perda de peso). A semaglutida (Ozempic/Wegovy) costuma ser mais potente para emagrecimento do que a liraglutida, o que pode trazer impacto indireto maior na ovulação devido à maior redução ponderal.

    Quero engravidar, mas tenho diabetes tipo 2. O que fazer?

    Converse com seu ginecologista/endócrino. Em geral, substitui-se GLP-1 por fármacos com segurança estabelecida na gestação, como metformina ou, em alguns casos, insulina, antes de tentar engravidar.

    Resistência à insulina sem SOP também afeta a fertilidade?

    Sim. Mesmo sem SOP, a hiperinsulinemia pode elevar andrógenos ovarianos e prejudicar a ovulação. O manejo do peso, da resistência insulínica e do estilo de vida ajuda a restabelecer ciclos ovulatórios.

    Leia também: Ozempic na gravidez: por que não é seguro usar

  • Tirzepatida é aprovada para apneia do sono: o que isso significa 

    Tirzepatida é aprovada para apneia do sono: o que isso significa 

    A tirzepatida, medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2 e do controle da obesidade, recebeu também aprovação para tratar a apneia obstrutiva do sono em adultos com obesidade. A decisão, validada por agências internacionais e reconhecida pela Anvisa, representa um avanço no manejo de um dos distúrbios do sono mais comuns e potencialmente perigosos.

    Até pouco tempo, o tratamento da apneia se baseava principalmente em aparelhos como o CPAP, usados para manter as vias respiratórias abertas durante o sono. Agora, com a nova indicação da tirzepatida, a medicina ganha uma abordagem medicamentosa capaz de atuar na raiz do problema em muitos pacientes — o excesso de peso.

    O que é a tirzepatida?

    A tirzepatida é um medicamento injetável que atua como agonista duplo: dos receptores de GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) e de GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Em termos simples, ela ajuda a controlar o açúcar no sangue, reduzir o apetite e promover perda de peso.

    O que é apneia obstrutiva do sono (AOS)?

    A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio caracterizado por pausas repetidas ou reduções do fluxo de oxigênio durante o sono, causadas por uma obstrução parcial ou completa das vias aéreas superiores.

    Essas interrupções provocam quedas na oxigenação do sangue, despertares frequentes, sono fragmentado, sonolência diurna e aumento do risco de pressão alta, doenças cardiovasculares, derrame e outras complicações. Um dos principais fatores de risco é a obesidade, já que o acúmulo de gordura na região do pescoço e das vias aéreas pode agravar a obstrução.

    Por que a tirzepatida agora é utilizada para apneia obstrutiva do sono?

    Pesquisas recentes demonstraram que a tirzepatida reduz significativamente os episódios de apneia durante o sono em pessoas com obesidade e apneia moderada a grave. Nos estudos clínicos, os participantes que usaram o medicamento tiveram menos pausas respiratórias por hora do que aqueles que receberam placebo.

    Além disso, os pacientes tratados apresentaram melhora na perda de peso, melhor oxigenação durante o sono, redução da pressão arterial e melhora da qualidade de vida, com relatos de noites mais tranquilas e menos cansaço durante o dia.

    Aprovações regulatórias

    Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou a tirzepatida em 20 de dezembro de 2024 para o tratamento de adultos com apneia obstrutiva do sono moderada a grave associada à obesidade, em conjunto com dieta de baixa caloria e aumento da atividade física.

    No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também aprovou a nova indicação do Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da apneia do sono em adultos com obesidade.

    Até então, o tratamento era baseado principalmente em medidas mecânicas, como o uso do CPAP, ou cirúrgicas. A introdução de uma terapia medicamentosa representa um avanço importante na abordagem integrada da doença.

    Veja mais: Wegovy e Ozempic: como funcionam para perda de peso

    Benefícios e cuidados

    Quem pode se beneficiar

    • Adultos com apneia obstrutiva do sono moderada a grave e obesidade (IMC elevado) ou sobrepeso com comorbidades;
    • Pessoas com dificuldade em usar ou tolerar o CPAP, ou que desejam uma estratégia combinada de perda de peso e melhora respiratória.

    Quem deve ter cuidado

    • A eficácia depende de adesão à dieta e atividade física, que fazem parte da recomendação oficial;
    • Podem ocorrer efeitos adversos gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia ou constipação;
    • Pessoas sem obesidade ou cuja apneia tenha causas anatômicas podem não ter o mesmo benefício;
    • É necessária avaliação médica especializada em sono, obesidade e endocrinologia.

    O que muda no tratamento da apneia obstrutiva do sono com essa nova opção

    • Surge a primeira alternativa medicamentosa aprovada para apneia associada à obesidade, além dos aparelhos tradicionais como o CPAP;
    • Permite uma abordagem mais abrangente, tratando simultaneamente obesidade e apneia, com impacto positivo na saúde cardiovascular e metabólica;
    • Reflete a importância do acompanhamento multidisciplinar — com especialistas em pneumologia, sono, endocrinologia e nutrição;
    • Não substitui totalmente o CPAP, mas pode atuar de forma complementar ou alternativa em casos selecionados.

    Confira: Ozempic protege o coração? Veja como a semaglutida age

    Perguntas frequentes sobre tirzepatida e apneia obstrutiva do sono

    1. Tirzepatida já está disponível para apneia no Brasil?

    Sim. A Anvisa aprovou a indicação de Mounjaro (tirzepatida) para apneia obstrutiva do sono em adultos com obesidade.

    2. Significa que posso parar de usar CPAP se começar tirzepatida?

    Não necessariamente. O CPAP continua sendo o tratamento padrão para muitos casos. A tirzepatida pode ser usada de forma complementar ou alternativa, com supervisão médica.

    3. Como a tirzepatida melhora a apneia do sono?

    Principalmente por induzir perda de peso e reduzir o acúmulo de gordura corporal, que é um dos principais fatores da apneia obstrutiva do sono.

    4. Quais são os efeitos colaterais mais comuns?

    Os mais frequentes são náuseas, vômitos, diarreia e constipação. É essencial usar o medicamento com prescrição e acompanhamento médico.

    5. Todos os pacientes com apneia obstrutiva do sono podem usar tirzepatida?

    Não. A indicação é para adultos com obesidade e apneia moderada a grave. Pacientes com apneia leve, sem obesidade ou com causas anatômicas específicas devem discutir o caso com um especialista.

    6. A tirzepatida cura a apneia obstrutiva do sono?

    Não cura de forma definitiva, mas pode reduzir significativamente os eventos de apneia-hipopneia. A condição ainda precisa de acompanhamento e controle dos fatores de risco.

    7. Preciso perder peso para que o medicamento funcione?

    Sim. A perda de peso faz parte do mecanismo de ação da tirzepatida e foi uma das condições de aprovação. O tratamento deve ser associado a dieta balanceada e atividade física regular.

    Veja mais: Ozempic e similares podem reduzir risco de câncer ligado à obesidade?