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  • Adenomiose: o que é, sintomas, causas e tratamento

    Adenomiose: o que é, sintomas, causas e tratamento

    Cólicas que não melhoram com analgésicos comuns, menstruações longas e volumosas e sensação de inchaço abdominal são alguns dos principais sintomas de adenomiose — uma condição ginecológica que afeta diretamente a qualidade de vida. Ela pode atingir entre 10% e 20% das mulheres em idade reprodutiva, sendo mais frequente entre os 30 e 50 anos.

    Conversamos com a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza para esclarecer as principais dúvidas sobre a doença, desde os sintomas até as formas de tratamento disponíveis.

    O que é adenomiose?

    A adenomiose é uma alteração benigna que ocorre quando a camada que reveste o interior do útero, o endométrio, cresce para dentro da parede muscular do útero, chamada miométrio.

    O tecido infiltrado continua respondendo aos hormônios do ciclo menstrual, como se estivesse na cavidade uterina — ele se espessa, depois se rompe e sangra. No entanto, como está preso dentro da parede muscular, o sangue não tem por onde sair.

    Como resultado, ocorre um processo inflamatório dentro do músculo uterino, que pode desencadear os principais sintomas da condição, como cólicas menstruais intensas, sangramento aumentado e aumento do tamanho do útero.

    O que causa a adenomiose?

    A causa da adenomiose ainda não é totalmente conhecida, mas uma hipótese é que o endométrio penetre diretamente no miométrio, especialmente após situações que fragilizam a parede uterina — como gravidez, parto ou procedimentos cirúrgicos.

    Também se acredita que a adenomiose esteja associada a alterações hormonais (principalmente do estrogênio) e a fatores imunológicos. A condição é mais comum em mulheres entre 35 e 50 anos que já tiveram filhos, mas pode afetar mulheres de qualquer idade.

    Tipos de adenomiose

    • Difusa: forma mais comum. O tecido endometrial se espalha de maneira irregular pela parede do útero, sem formar nódulo bem delimitado. Provoca espessamento difuso do miométrio, deixando o útero aumentado e globoso.
    • Focal: a infiltração ocorre em um ponto específico do útero, formando uma lesão delimitada chamada adenomioma. Pode causar sintomas semelhantes à forma difusa, porém às vezes menos intensos por ser localizada.

    Qual a diferença entre adenomiose e endometriose?

    Segundo Andreia Sapienza, a adenomiose difere da endometriose em pontos importantes:

    • Endometriose: relacionada à menstruação retrógrada. Parte do sangue menstrual reflui para a pelve e o tecido endometrial implanta-se fora do útero, somado a falhas do sistema imunológico.
    • Adenomiose: há perda da integridade das camadas do próprio útero; o endométrio infiltra-se no miométrio, gerando alterações estruturais.

    Nos sintomas, a endometriose costuma estar mais associada à dor em diversos locais e momentos do ciclo; a adenomiose também causa dor, mas mais ligada ao período menstrual e frequentemente acompanhada de sangramento intenso e prolongado.

    Fatores de risco da adenomiose

    Qualquer mulher pode ter adenomiose, mas alguns fatores aumentam o risco (segundo a Febrasgo):

    • Idade entre 40 e 50 anos;
    • Primeira menstruação muito cedo (antes dos 10 anos);
    • Ciclos menstruais curtos (menos de 24 dias);
    • Uso prévio de anticoncepcionais hormonais ou tamoxifeno;
    • Sobrepeso ou obesidade (IMC elevado);
    • Ter tido mais de duas gestações;
    • Histórico de abortos;
    • Cirurgias anteriores no útero.

    Quais são os sintomas de adenomiose?

    • Sangramento menstrual intenso ou prolongado;
    • Cólica menstrual forte (dismenorreia);
    • Dor pélvica crônica;
    • Dor durante a relação sexual (dispareunia);
    • Sensibilidade abdominal ao toque.

    Aproximadamente um terço das mulheres com adenomiose é assintomático; o diagnóstico pode ocorrer em exames de imagem ou após cirurgia.

    Como é feito o diagnóstico?

    O diagnóstico é clínico e por imagem. Na avaliação, o útero pode estar aumentado, arredondado e mais macio. Para confirmação, utilizam-se:

    • Ultrassom transvaginal: exame de primeira escolha; identifica alterações na textura do miométrio e perda da definição da zona que separa endométrio do músculo uterino.
    • Ressonância magnética: indicada quando há dúvida diagnóstica ou associação com miomas; avalia com precisão a zona juncional.

    Em casos complexos, a confirmação definitiva pode ocorrer após cirurgia (análise histopatológica), mas, na prática, a imagem costuma ser suficiente para guiar o tratamento.

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    Como é o tratamento de adenomiose?

    Depende dos sintomas e do perfil da paciente. De acordo com Andreia, uma abordagem frequente é o DIU hormonal (levonorgestrel), que reduz sangramento e dor e costuma trazer boa resposta.

    Se não houver melhora com tratamento clínico, persistirem dor e sangramento intenso ou houver desejo de solução definitiva, pode-se indicar histerectomia (retirada do útero). Essa decisão é preferida para mulheres que já tiveram filhos ou que têm certeza de que não desejam engravidar, pois é irreversível e geralmente não indicada para mulheres muito jovens.

    Para alívio das cólicas, analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos para melhorar a qualidade de vida durante o tratamento.

    Quem tem adenomiose pode engravidar?

    É possível, mas pode ser mais desafiador. A infiltração do endométrio no miométrio pode tornar a parede uterina mais espessa e irregular, deixando o ambiente menos favorável à implantação do embrião. Para quem deseja engravidar, é essencial acompanhamento médico, hábitos saudáveis e, quando necessário, estratégias específicas de reprodução assistida.

    Quando procurar ajuda médica?

    A identificação pode ser difícil, pois os sintomas variam de intensidade. Procure avaliação se houver:

    • Sangramentos menstruais muito intensos;
    • Cólicas fortes que não melhoram com analgésicos comuns;
    • Dor pélvica frequente.

    Quanto antes investigar, maiores as chances de aliviar sintomas e iniciar o tratamento adequado.

    Perguntas frequentes sobre adenomiose

    1. A adenomiose pode virar câncer?

    Não. A adenomiose é benigna e não tem relação direta com câncer. Porém, como os sintomas podem se confundir com os de outras doenças uterinas, o acompanhamento médico é fundamental.

    2. Por que a adenomiose causa tanta dor?

    O tecido infiltrado no músculo uterino responde aos hormônios do ciclo, cresce e sangra “preso” no miométrio, gerando inflamação local e contrações mais intensas — resultando em cólicas fortes.

    3. A adenomiose pode causar infertilidade?

    Pode, mas não é regra. O útero pode ficar aumentado e o endométrio menos receptivo, dificultando a fixação do embrião. Ainda assim, muitas mulheres com adenomiose engravidam naturalmente. Em geral, o impacto sobre a fertilidade é menor do que o da endometriose em outros órgãos.

    4. O útero aumenta de tamanho por causa da adenomiose?

    Sim. A infiltração endometrial no miométrio pode aumentar e endurecer o útero, causando sensação de peso pélvico e inchaço abdominal.

    5. A adenomiose desaparece na menopausa?

    Na maioria dos casos, sim. Como é doença hormônio-dependente, tende a regredir após a menopausa. Em mulheres próximas dessa fase, pode-se focar no controle dos sintomas até a regressão natural.

    6. A pílula anticoncepcional oral ajuda na adenomiose?

    Em alguns casos, sim. Pílulas combinadas ou apenas com progesterona podem reduzir dor e sangramento ao modular os hormônios que estimulam o endométrio. Entretanto, para muitas mulheres, o DIU hormonal é mais eficaz a longo prazo.

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