Autor: Dr. Alex Lacerda

  • Janela imunológica: como prevenir alergia alimentar em bebês

    Janela imunológica: como prevenir alergia alimentar em bebês

    Durante os primeiros anos de vida, o organismo do bebê passa por mudanças diárias. Tudo é novo: os cheiros, os sons, o toque e, claro, os alimentos. É justamente a partir dos seis meses de vida, quando está indicada iniciar a introdução alimentar, que existe uma janela de oportunidade para prevenir alergias futuras no bebê. É o que se chama hoje de janela imunológica. 

    O que é a janela imunológica 

    A janela imunológica em bebês é um período em que o sistema imunológico do bebê está aprendendo a reconhecer o que é amigo e o que é ameaça. Esse momento é considerado o melhor para apresentar ao bebê uma grande variedade de alimentos, inclusive os mais alergênicos. 

    A ideia pode parecer estranha à primeira vista, afinal, por muito tempo acreditou-se que atrasar a oferta desses alimentos poderia prevenir alergias no futuro. Mas não. Hoje, sabe se que essa exposição, de forma segura e gradual, é o que pode diminuir as chances da criança se tornar alérgica a esses alimentos.  

    Quando iniciar a introdução de alimentos alergênicos para o bebê 

    No Brasil, a recomendação dos pediatras é começar a introdução alimentar aos 6 meses, quando o bebê costuma estar pronto para experimentar comidas além do leite materno ou fórmula infantil.  

    A partir de seis meses de vida, portanto, também já podem ser ofertados alimentos alergênicos ao bebê. A ideia é que ele possa ter contato com esses alimentos até onze meses de vida, período da janela imunológica em que há maior tolerância e evita uma alergia no futuro.  

    “Diversos estudos, como o LEAP (Learning Early About Peanut Allergy) suportam que a introdução precoce das diferentes proteínas alimentares pode reduzir drasticamente o risco de alergia”, explica o alergista e imunologista Alex Lacerda, membro da diretoria do Departamento Científico de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). 

    Alimentos alergênicos 

    O alergista explica que, embora alguns alimentos sejam mais frequentemente associados com alergia alimentar, qualquer alimento é capaz de provocar alergia. explica o especialista. 

    Os alimentos considerados mais alergênicos, porém, são: 

    • Leite de vaca; 
    • Ovo; 
    • Trigo; 
    • Soja;  
    • Peixe; 
    • Camarão; 
    • Castanhas e nozes; 
    • Amendoim 
    • Frutos do mar. 

    “É importante frisar que não há qualquer orientação de restringir a introdução de um alimento se não há sintomas suspeitos de alergia no contato prévio”, diz Lacerda. 

    E se a família já tem histórico de alergias? 

    Se pais, irmãos ou outros parentes próximos têm alergias alimentares, respiratórias, dermatológicas ou outras doenças alérgicas, não necessariamente a recomendação geral de introdução alimentar irá mudar.  

    “Cada indivíduo é único e não se deve atrasar a introdução de alimentos alergênicos, mesmo em famílias com histórico. Atrasar pode, na verdade, aumentar o risco de desenvolver alergias”, explica o especialista.  

    O ideal, portanto, é compartilhar essa informação com o pediatra ou alergista e seguir as orientações que o médico indicar.   

    Sinais de alerta para observar 

    Além disso, é importante observar como o bebê reage depois de provar um alimento novo. Fique de olho nos seguintes sinais: 

    • Alterações na pele; 
    • Vômitos; 
    • Diarreia; 
    • Irritabilidade; 
    • Manchas na pele; 
    • Dificuldade para respirar (neste caso, é preciso correr para o pronto-socorro). 

    Esses podem ser alguns dos sinais de alergia alimentar em bebês e eles devem ser comunicados ao médico. 

    Como manter a tolerância alimentar  

    Outro ponto importante é a constância do alimento na dieta. Uma vez que o bebê tolera bem, os pais precisam continuar oferecendo o alimento com certa regularidade.  

    “Não há um período ou frequência específica, mas é importante entender que a tolerância só se mantém com exposição regular. Ou seja, não basta introduzir uma vez e parar”, explica o alergista e imunologista.  

    Se você tem dúvidas sobre como fazer isso com seu filho, o pediatra e o alergista são os melhores médicos para te ajudar. Como cada criança é única, o especialista pode ajudar a encontrar o melhor caminho para uma introdução alimentar segura e saudável. 

    Perguntas frequentes sobre a janela imunológica 

    1. O que é a janela imunológica?  

    A janela imunológica é o período da introdução alimentar até os 11 meses de vida em que o sistema imunológico do bebê aprende a tolerar novos alimentos.

    2. Quando devo oferecer alimentos alergênicos ao bebê? 

    Os alimentos alergênicos devem ser oferecidos ao bebê durante a introdução alimentar. 

    3. Posso reintroduzir o mesmo alimento depois de uma reação? 

    Só se pode reintroduzir o mesmo alimento depois de uma reação alérgica com orientação médica e, em alguns casos, depois de fazer testes específicos.  

    4. A exposição precoce previne alergias? 

    Sim, a exposição precoce a alimentos alergênicos previne alergias, especialmente quando feita com constância e segurança. 

  • Vacina para alergia: entenda como funciona a imunoterapia

    Vacina para alergia: entenda como funciona a imunoterapia

    Se você é alérgico, sabe bem o que é conviver quase que diariamente com nariz entupido ou escorrendo, espirros, coceiras ou até mesmo olhos irritados e coçando por conta de uma conjuntivite alérgica. Hoje, porém, existe um tratamento conhecido como “vacina para alergia” que, quando bem indicada pelo médico, pode ajudar muito a aliviar os sintomas de forma duradoura.

    Apesar do nome pelo qual é popularmente conhecida, ela não se trata de uma vacina como as que usamos para prevenir doenças infecciosas, como gripe ou sarampo. Na verdade, é um tratamento chamado imunoterapia.

    O que é a vacina para alergia (imunoterapia)?

    “A imunoterapia alérgeno-específica, popularmente conhecida como ‘vacina para alergia’, é um tratamento de dessensibilização ou indução de tolerância imunológica, indicado para quadros de alergia mediados por IgE”, explica o alergista e imunologista Alex Lacerda, membro da diretoria do Departamento Científico de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

    Ele conta que a vacina para alergia é um tratamento indicado para alergias respiratórias (como rinite alérgica ou asma alérgica), conjuntivite alérgica, dermatite atópica e para alergia a veneno de abelhas, vespas e formigas.

    “O tratamento é especialmente indicado quando há sintomas persistentes, resposta inadequada a medicamentos ou desejo de reduzir a dependência de remédios a longo prazo”, detalha o especialista.

    Como a vacina para alergia funciona

    Durante a imunoterapia, a pessoa recebe doses mínimas e controladas do alérgeno. Com o tempo, o sistema imunológico vai aprendendo que aquilo não é uma ameaça, e os sintomas vão reduzindo quando a pessoa é exposta novamente ao que costumava causar alergia.

    “Ao contrário de um mito comum, não é necessário ‘passar mal’ para que o tratamento funcione. O ideal é que o paciente esteja com sintomas bem controlados desde o início, geralmente com auxílio de medicamentos, enquanto a imunoterapia começa a fazer efeito”, detalha o alergista.

    “Ajustes individuais na dose e ritmo da imunoterapia são feitos conforme a resposta clínica, sempre com o objetivo de manter o paciente estável e confortável durante todo o processo”, detalha o alergista.

    Formas de aplicação da imunoterapia

    O tratamento pode ser feito de duas maneiras, sempre com acompanhamento médico:

    • Injeção subcutânea: aplicada no braço, em consultório.
    • Via sublingual: gotas ou comprimidos colocados debaixo da língua.

    O alergista e imunologista explica que a principal diferença entre as duas modalidades está na via de administração.

    Imunoterapia subcutânea (SCIT)

    É aplicada por injeção sob a pele, em local com suporte a tratamento de reações, com supervisão adequada. “Pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), não é indicada a autoaplicação em ambiente domiciliar. É a única via recomendada para alergia a venenos de insetos”, explica o médico.

    Imunoterapia sublingual (SLIT)

    Administrada por gotas sob a língua, é feita em casa pelo próprio paciente, sob orientação médica.

    “Ambas têm eficácia comprovada para as principais causas de alergia respiratória, como ácaros da poeira, pólens e epitélios de animais. A escolha entre uma ou outra depende de fatores como perfil do paciente, adesão ao tratamento, tipo de alérgeno e disponibilidade de extratos padronizados”, explica o médico.

    “Em geral, as duas formas apresentam eficácia semelhante, desde que utilizadas corretamente e por tempo adequado”, detalha o especialista.

    Duração do tratamento com vacina para alergia

    É um tratamento de médio a longo prazo, mas com ótimos resultados. A duração média da imunoterapia é de 3 a 5 anos.

    Depois desse período, muitas pessoas relatam melhora significativa nos sintomas das alergias, como a alergia respiratória, redução da necessidade de medicamentos e, em alguns casos, até desaparecimento total das crises alérgicas.

    Quem pode fazer imunoterapia?

    A vacina para alergia pode ser indicada para pessoas que têm:

    • Rinite alérgica persistente;
    • Asma alérgica;
    • Conjuntivite alérgica;
    • Dermatite atópica;
    • Alergia grave a picadas de abelha, vespas ou formiga.

    Se você sente que os remédios não estão resolvendo suas crises ou quer uma solução mais duradoura, vale consultar um alergista para avaliar se a imunoterapia é para você.

    Contraindicações da imunoterapia

    Embora a imunoterapia seja segura quando bem indicada e realizada sob supervisão especializada, existem contraindicações absolutas e relativas. O Dr. Alex Lacerda explica que as principais contraindicações são:

    • Asma moderada a grave não controlada;
    • Doenças autoimunes em atividade;
    • Câncer;
    • Doenças infecciosas crônicas ou em atividade;
    • Uso de imunossupressores;
    • Insuficiência renal grave;
    • Uso contínuo de corticosteroides em doses imunossupressoras.

    “Cada caso deve ser avaliado individualmente pelo alergista antes do início do tratamento”, explica o médico.

    Benefícios da imunoterapia

    “A imunoterapia é atualmente o único tratamento capaz de modificar a história natural das doenças alérgicas. Ao atuar diretamente na causa da alergia, e não apenas nos sintomas, ela promove uma reeducação do sistema imunológico, levando à tolerância ao alérgeno”, explica Lacerda.

    O especialista detalha os principais benefícios da vacina para alergia a longo prazo:

    • Redução significativa dos sintomas ou desaparecimento dos sintomas alérgicos;
    • Menor necessidade de medicamentos para tratar sintomas;
    • Melhora da qualidade de vida e do sono;
    • Prevenção da progressão da doença alérgica;
    • Efeitos duradouros que podem persistir por 10 anos ou mais.

    Perguntas frequentes sobre a vacina para alergia

    1. Vacina para alergia é igual a vacina comum?

    Não. A vacina para alergia é, na verdade, uma imunoterapia e não previne infecções, mas sim reduz a sensibilidade do organismo a alérgenos.

    2. A vacina para alergia é segura?

    Sim. A imunoterapia é segura e eficaz, desde que realizada por um profissional especializado e em ambiente adequado.

    3. Quanto tempo leva para a vacina começar a fazer efeito?

    Geralmente, os primeiros efeitos são percebidos após alguns meses, mas o resultado mais significativo vem com o uso contínuo, entre 3 e 5 anos.

    4. A vacina cura a alergia?

    Em muitos casos, sim. Alguns pacientes ficam anos sem apresentar sintomas mesmo após encerrar o tratamento.

    5. Crianças podem tomar vacina para alergia?

    Sim, crianças podem fazer o tratamento, desde que com indicação e acompanhamento de um especialista.

    6. O SUS oferece vacina para alergia?

    Em geral, o SUS não oferece imunoterapia. Ela está disponível em clínicas particulares e pode ser coberta por alguns planos de saúde.

    Leia mais: 5 causas de alergia dentro de casa e o que fazer para evitar