Melanoma: o que é e como identificar o tipo mais perigoso de câncer de pele

Dermatologista avaliando pinta suspeita na pele com lápis dermatoscópico para investigação de melanoma

O câncer de pele é o tumor mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. No entanto, o melanoma representa apenas 4% das neoplasias malignas da pele, embora seja considerado o tipo mais grave por causa da alta capacidade de se espalhar rapidamente para outros órgãos.

O risco associado ao melanoma não está apenas na sua ocorrência, mas no comportamento agressivo das células tumorais. Mesmo lesões pequenas podem desenvolver metástases precoces, exigindo diagnóstico rápido e tratamento imediato. Vamos entender mais, a seguir.

O que é melanoma?

O melanoma é um tipo de câncer de pele que se desenvolve a partir dos melanócitos, células responsáveis por produzir melanina, o pigmento que dá cor à pele. Ele pode surgir em pintas já existentes ou aparecer como uma nova lesão na pele.

A principal causa está ligada à exposição excessiva à radiação ultravioleta, principalmente sem proteção adequada.

De acordo com o oncologista Thiago Chadid, a preocupação maior com esse tipo de tumor é o comportamento altamente agressivo: as células têm grande capacidade de se espalhar rapidamente pela pele e alcançar vasos sanguíneos e linfáticos, favorecendo metástases precoces.

Em situações raras, uma pinta que deu origem ao melanoma pode regredir sozinha. Nesses casos, o paciente pode apresentar metástases mesmo sem que o tumor primário seja encontrado. A lesão inicial some, mas as células malignas já disseminadas continuam a se multiplicar. O oncologista explica que é um fenômeno pouco comum em outros cânceres de pele, mas que pode ocorrer no melanoma por causa da sua biologia particular.

O que diferencia o melanoma de outros câncer de pele?

A principal diferença entre o melanoma e outros cânceres de pele, como o carcinoma basocelular e o espinocelular, está na célula de origem.

O carcinoma basocelular surge das células basais, localizadas na camada mais profunda da epiderme; o espinocelular aparece nas células escamosas, que produzem queratina. Já o melanoma se desenvolve nos melanócitos, responsáveis pela pigmentação da pele.

Por causa dessa origem, a análise cuidadosa das pintas, usando critérios como o ABCDE, é especialmente importante para identificar o melanoma. Os carcinomas, por outro lado, tendem a se manifestar como feridas que não cicatrizam, manchas elevadas ou lesões com aspecto perolado.

Muitas vezes, essas lesões são confundidas com “pintas casquinhas”, embora representem processos completamente diferentes.

Quais os sintomas do melanoma?

O melanoma nem sempre causa sintomas no início, e por isso a observação da pele é tão importante. Na maioria dos casos, o sinal mais comum é uma pinta que muda — no tamanho, na forma, na cor ou na textura. Porém, outros sinais podem surgir e merecem atenção.

Os principais sintomas incluem:

  • Aparição de uma nova pinta com aspecto diferente das demais;
  • Mudança em uma pinta já existente, ficando maior, irregular ou mais escura;
  • Assimetria, quando metade da pinta não se parece com a outra;
  • Bordas irregulares, mal definidas ou serrilhadas;
  • Cores variadas na mesma pinta, como marrom, preto, cinza, vermelho ou branco;
  • Diâmetro maior que 6 mm, embora melanomas pequenos também existam;
  • Evolução rápida, quando a pinta cresce, muda de cor ou começa a se transformar em semanas ou meses;
  • Sangramento, coceira ou dor, sinais que podem indicar inflamação ou avanço da lesão;
  • Aspecto elevado, nodular ou brilhante, especialmente em melanomas mais agressivos.

Segundo Thiago, o melanoma aparece com mais frequência nas áreas expostas ao sol, como couro cabeludo, face, tronco e costas, já que a radiação ultravioleta é o principal fator desencadeador.

Ainda assim, o tumor pode surgir em regiões pouco expostas ou totalmente protegidas da luz, como palma das mãos, planta dos pés e unhas — situações em que fatores genéticos costumam ter papel mais relevante.

Pintas congênitas, presentes desde o nascimento, também podem carregar risco aumentado e precisam de acompanhamento regular.

Existem, inclusive, casos raros de melanoma em locais sem qualquer exposição solar, como a esclera (parte branca dos olhos) ou o trato gastrointestinal, normalmente ligados a predisposições genéticas ou síndromes hereditárias.

O que aumenta o risco de melanoma?

A exposição solar sem proteção é o principal fator de risco do melanoma, porque os raios ultravioleta provocam danos diretos no DNA dos melanócitos, estimulando mutações que podem levar à formação do tumor.

Contudo, outros fatores também podem aumentar o risco do câncer de pele, como:

  • Queimaduras solares na infância, que aumentam o risco ao longo da vida;
  • Uso de câmaras de bronzeamento artificial, já proibidas no Brasil;
  • Pele clara, com menor produção de melanina;
  • Presença de muitas pintas ou pintas atípicas;
  • Histórico familiar de melanoma;
  • Síndromes genéticas que aumentam predisposição.

Diagnóstico de melanoma

O diagnóstico de melanoma é feito principalmente pela avaliação clínica da pele, complementada por exames específicos quando necessário. Quanto mais cedo o diagnóstico é estabelecido, maiores são as chances de cura, já que o tumor pode se espalhar rapidamente.

O processo começa na consulta com o dermatologista, que examina toda a pele em busca de pintas suspeitas, observando forma, cor, tamanho, bordas e qualquer mudança recente na aparência da lesão.

A investigação é aprofundada com a dermatoscopia, exame que utiliza um aparelho capaz de ampliar e iluminar a pinta, permitindo visualizar estruturas internas que não são perceptíveis a olho nu. Nesse momento, o médico também aplica os critérios clínicos ABCDE, usados para identificar sinais de alerta:

  • A: Assimetria;
  • B: Bordas irregulares;
  • C: Cores variadas;
  • D: Diâmetro maior que 6 mm (embora melanomas menores existam);
  • E: Evolução, quando a pinta muda rapidamente.

Quando há suspeita de melanoma, a confirmação é feita por meio de biópsia, que consiste na retirada total ou parcial da lesão para análise no laboratório. O patologista examina o material para determinar se há células malignas e avalia informações importantes, como profundidade e grau de invasão.

Se o diagnóstico for confirmado, exames adicionais podem ser solicitados para verificar se o tumor se espalhou, como ultrassom de linfonodos, tomografia, ressonância magnética ou PET-CT, dependendo do caso.

Como é feito o tratamento do melanoma?

O tratamento do melanoma é definido conforme o estágio da doença, ou seja, o quanto o tumor cresceu e se espalhou. Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de cura e mais simples costuma ser o manejo.

O primeiro passo é a cirurgia para remover a lesão, feita com margem de segurança ao redor da pinta suspeita. Isso é importante porque o melanoma pode formar extensões microscópicas que não são visíveis a olho nu. Com o diagnóstico de melanoma, muitas vezes é necessário retornar para ampliar a margem cirúrgica, garantindo a retirada completa do tumor.

Quando a profundidade é maior ou há suspeita de disseminação, pode ser indicada a biópsia do linfonodo sentinela, que verifica se o tumor já começou a se espalhar para os gânglios linfáticos.

Se existir risco de recidiva após a cirurgia, é utilizado o tratamento adjuvante, que hoje envolve principalmente a imunoterapia, que estimula o sistema imunológico a reconhecer e atacar células tumorais remanescentes.

Nos casos em que o melanoma já se disseminou para outros órgãos, o tratamento costuma incluir a imunoterapia e terapias alvo, usadas quando o tumor apresenta mutações específicas, como a mutação BRAF, permitindo usar medicamentos direcionados para bloquear sinais de crescimento tumoral.

É possível prevenir o melanoma?

A prevenção do melanoma começa com a proteção solar diária e o acompanhamento regular com dermatologista. Quem teve muita exposição ao sol na infância ou adolescência, especialmente quem cresceu nos anos 80 e 90, quando o uso de protetor era menos comum, deve ter ainda mais cuidado, porque queimaduras repetidas aumentam o risco ao longo da vida.

Também é importante lembrar que pintas de nascença nem sempre são totalmente seguras. Algumas podem ter risco maior e precisam ser observadas de perto ou até removidas preventivamente, de acordo com a avaliação médica.

Leia também: Cura ou remissão do câncer? Entenda a diferença entre os termos

Perguntas frequentes

1. Por que o melanoma é considerado tão grave?

A gravidade do melanoma está na facilidade com que ele se espalha pelo corpo. Diferente de outros cânceres de pele, o tumor pode atingir vasos sanguíneos e linfáticos mesmo quando ainda é pequeno.

Por crescer e se disseminar rápido, se torna mais difícil de controlar em fases avançadas. Por outro lado, quando é descoberto no início, as chances de cura são altas.

2. Crianças podem ter melanoma?

Sim, mas é raro. Quando acontece, costuma estar ligado a fatores genéticos, histórico familiar ou pintas de nascença com características diferentes. Por isso, pintas grandes ou irregulares em crianças devem ser avaliadas e acompanhadas por especialistas.

3. Melanoma tem cura?

Sim, quando o melanoma é diagnosticado no início, as chances de cura são muito altas. A maior dificuldade está nos casos mais avançados, quando o câncer já se espalhou.

4. Melanoma pode aparecer nas unhas?

Sim, o melanoma subungueal pode aparecer como uma faixa escura na unha, que vai crescendo ao longo do tempo. Muitas vezes, é confundido com hematoma, fungo ou machucado, o que pode atrasar o diagnóstico.

Se a faixa escura for irregular, aumentar de tamanho ou vier acompanhada de sangramento na cutícula, é importante buscar investigação médica.

5. Melanoma pode voltar após o tratamento?

Mesmo depois da remoção completa da lesão, ainda existe risco de o melanoma voltar, especialmente quando o tumor era mais profundo ou tinha maior chance de se espalhar. Por isso, é fundamental manter o acompanhamento regular com o dermatologista e o oncologista.

6. Quando devo procurar um dermatologista?

Procure um dermatologista sempre que notar:

  • Uma nova pinta diferente das outras;
  • Mudança rápida em tamanho, cor ou formato;
  • Mancha que sangra ou não cicatriza;
  • Coceira persistente ou dor na região;
  • Também é importante realizar avaliação anual da pele, mesmo sem sintomas, especialmente para quem tem fatores de risco

Confira: Carcinoma basocelular: entenda mais sobre o tipo de câncer de pele que mais afeta os brasileiros